Nonato Guedes
O ex-governador da Paraíba, Wilson Leite Braga, um dos maiores líderes populares da história do Estado, morreu na noite de ontem, aos 88 anos de idade, no Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa, onde estava internado com Covid-19. Sua esposa, Lúcia Braga, havia falecido no dia 8 de maio e o diagnóstico final revelado também foi o de Covid-19. O sepultamento do corpo de Wilson Braga está previsto para esta segunda-feira, em uma cerimônia reservada à família e a poucos amigos. O caixão deverá se manter fechado em respeito às orientações das autoridades de Saúde neste período de pandemia do coronavírus.
Político que disputou o maior número de eleições partidárias na Paraíba, Wilson, sertanejo do município de Conceição, no Vale do Piancó, experimentou sua mais retumbante vitória no pleito direto ao governo em 1982. Concorrendo pelo PDS, derrotou o deputado Antônio Mariz, que, egresso da Arena, fora acolhido pelo PMDB. A diferença girou em torno de 151 mil votos e a avalanche braguista trucidou, também, o advogado Derly Pereira, primeiro candidato lançado pelo Partido dos Trabalhadores a uma eleição majoritária no Estado. De linhagem populista, com carreira iniciada em 1954 como deputado estadual e exercendo influência na Casa do Estudante de João Pessoa, Braga, que flertara com o PSB e passou pela UDN, vinha em processo de ascensão. Foi, também, prefeito de João Pessoa e vereador pela Capital, chegando a ocupar a presidência da Câmara Municipal.
Em 1978, obtivera 84.168 votos para deputado federal contra 77.274 alcançados por Antônio Mariz. Além do mais, havia assumido inteiramente o controle da Arena e conquistou, em convenção, mais de 80% dos votos do diretório que presidia para ser ungido candidato a governador. A indicação era cobiçada por outros políticos, entre os quais o ex-deputado Enivaldo Ribeiro, atual vice-prefeito de Campina Grande pelo PP. Wilson estava infiltrado, por igual, na máquina oficial do governo, com um “exército” de correligionários em postos estratégicos. À frente da administração, executou projetos de repercussão social como o “Canaã”, focado no aproveitamento de recursos hídricos e em ações de enfrentamento à seca. Contou com o decidido apoio da mulher, Lúcia Braga, na execução de projetos sociais e habitacionais beneficiando as camadas mais carentes da população.
Filho de Francisca (Calula) Leite e do tabelião Francisco de Oliveira Braga, líder inconteste nos domínios de Conceição, cuja prefeitura exerceu, Braga foi primeiro-secretário da Câmara Federal, onde consolidou influências e pronunciou discursos abordando a problemática do Nordeste. Também marcou presença, quando governador, em reuniões da Sudene, inclusive defendendo posições polêmicas como a expulsão de Minas Gerais do Conselho Deliberativo da Sudene, alegando que Minas “sugava” a economia do Nordeste. O Estado era presidido, na época, por Tancredo Neves, que qualificara o PDS como “um partido nordestino” por ter vencido, exponencialmente, de ponta a ponta, na região. Wilson se sentira discriminado por Tancredo e, na campanha indireta deste, em 85, no Colégio Eleitoral a presidente da República, cabalou votos entre delegados paraibanos para Paulo Maluf (PDS), que acabou derrotado.
Os aliados de Wilson sempre enalteceram a sua autenticidade e raízes populares, diferenciando-o de outros líderes que, segundo eles, provinham de elites políticas e econômicas. Em paralelo, Wilson tinha um vasto conhecimento da realidade da Paraíba e da máquina administrativa. Pelo trânsito de que desfrutava nos gabinetes influentes do poder, Wilson atuava informalmente como porta-voz do Nordeste nos altos escalões, encaminhando reivindicações e chegando a se atritar com ministros, mesmo no regime militar, como se deu com Amaury Stábile, da Agricultura, no governo de João Figueiredo. Ele enfrentou dificuldades econômicas derivadas da recessão, do aprofundamento de tensões inflacionárias, no plano nacional e, no plano estadual, segundo sua queixa, de “herança maldita” legada pelo antecessor Tarcísio Burity. Wilson encerrou sua trajetória política em janeiro de 2015, despedindo-se do último mandato de deputado estadual. No dizer dos correligionários, começava ali o definitivo repouso do guerreiro, que, como se viu, durou pouco.