Kubitschek Pinheiro
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Às vezes é bom voltar no tempo. Muitas vezes, não. Há muito tempo chegando ao Bar 90 Graus, (num cubículo do antigo Hotel Manaíra, onde hoje Mag Shopping), numa das mesas da calçada, estava o ator Stepan Nercessian. Atrevido, me apresentei. A rosa dos ventos altera o norte de muitas coisas.
Ele tinha acabado de conhecer Baia Formosa e veio passar o final em João Pessoa. Perguntei se eu podia entrevistá-lo e ele respondeu que sim. Conversamos muitas coisas. A matéria foi editada no Jornal O Norte, pelo jornalista Walter Santos.
Não sei como fiz a entrevista, sei que pedi papel e lápis as donas do bar, duas garotas amorosas e fui perguntando. O ator ria dos delírios e eu anotando tudo no papel. Sempre detestei fazer entrevistas escrevendo. O gravador é invenção sensacional. Ainda hoje grava absurdos, calvários e penicos.
Tudo é previsível, empolado, chato, como deve ser chata a vida de quem não têm o que fazer numa pandemia. Eu leio, escrevo e faço tarefas domesticas. Além de muitas voltas no tempo, ao redor da casa. Lembro de ter chegado perto de Julieta Gadelha no 90 Graus e dito: Olá, você está com a mesma cara de ontem! Foi o insuficiente para ela me esculhamBar. Não sei por que desde menino digo coisas que não agradam muita gente, mas não quero voltar no tempo.
Hoje pela manhã ao abrir o Instagram estava lá o ator @stepannercessian com seu quadro “Poesia nossa de cada dia”, declamando mais um poema, falando que a nossa dança será dançada à distância: “Erraremos nos passos, tropeçaremos nos ritmos, sem fogos ou artifícios começaremos do zero. Tudo que mais quero é não te perder como par”. Isso dele dizer não te perder como par, lembra aquela canção de todo tempo que houver ainda é pouco pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco. Lembrei do tempo em que dançávamos sem som.
Quero me libertar do tempo, mas ele não espera por mim.
Tenho saudades de Cláudio Paiva, Alessandra Gurgel, Julieta Gadelha, Gerlena Palmeira, Leila Romero (IM), Raquel Cordeiro e outros que conheci nesses 90 Graus de vida, ou bem antes em lugares não marcados pelo tempo. Nunca esquecei as 12 meninas, que eram seis e valiam por uma dúzia. Ate escrevi um texto “Ballantines Jorram a Beleza Anarquista de Suas Coxas Molhadas”, no início dos anos 80. ( Eu tenho guardado)
Aliás, eu quero fazer uma carta de amor com as canções que a gente ainda precisa ouvir. Muita gente pensa que escrever difícil é escrever bem. Ledo engano, mas batidas na porta da frente é o tempo….
Kapetadas
1 – Dizem que a pandemia pode ser muito pior quando o povo tem humanidade baixa.
2 – Aliás, ter noção virou um serviço essencial. Haja tempo.