Nonato Guedes
O ex-governador da Paraíba, Wilson Braga, que faleceu domingo aos 88 anos de idade, soube fazer carreira como articulador político, atuando nos bastidores, o que lhe valeu na década de 70 a eleição para primeiro secretário da Mesa da Câmara dos Deputados. Muito organizado, Wilson mantinha na Câmara um dos maiores fichários da Casa. Com 22 funcionários em seu gabinete, inclusive a esposa, Lúcia, que, no governo dele presidiu a Fundação Social do Trabalho na Paraíba, Wilson se correspondia com todas as lideranças do PDS, sucedâneo da Arena, possuindo um cadastro de prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, ex-vereadores e membros de diretórios, numa média de 200 líderes “fichados” por município.
Somente da Capital, João Pessoa, o gabinete de Wilson Braga catalogou 70 mil endereços, para onde remetia cartas mensais com resumo de suas atividades. O parlamentar fazia isso como parte da estratégia para chegar ao governo do Estado. Sua influência eleitoral, inicialmente restrita ao Vale do Piancó e a cidades interioranas como Cajazeiras, onde obteve votações crescentes, foi expandida para a Grande João Pessoa, estendendo-se, além da Capital, por Bayeux, Santa Rita e Cabedelo. Esse projeto expansionista foi decisivo para a votação alcançada no pleito direto de 1982, quando derrotou Antônio Mariz, do PMDB, por uma diferença de 151 mil votos. Mariz saiu vitorioso da Capital mas com vantagem neutralizada pela penetração de Braga que, como governador, ampliou consideravelmente os espaços, a ponto de se eleger prefeito em 1988.
Wilson foi presidente da Comissão do Trabalho e Legislação Social da Câmara dos Deputados por quatro vezes, na qual relatou, entre outros, o projeto sobre aposentadoria dos trabalhadores rurais. A eleição de Braga a governador em 82 elevou o ânimo da classe política, especialmente dos correligionários do PDS. Eles tinham certeza de que seriam prestigiados no governo e que encontrariam abertas as portas do Palácio da Redenção. A expectativa procedia. Uma das primeiras providências de Braga foi mandar reativar a cozinha do Palácio, onde pretendia recepcionar, constantemente, líderes políticos de todo o Estado. A confraternização de Braga com agentes políticos ocorria, também, na Granja Santana, residência oficial dos governadores da Paraíba, onde ele residiu com a família no período em que esteve governador.
Um dos segredos da sobrevivência política de Wilson, conforme se atribuía, estava no prestígio adquirido por ele junto à máquina oficial. Do governo João Agripino, em 1965, ao de Tarcísio Burity, em 1979, soube conservar sua influência, mantendo uma rede de prepostos em cargos-chaves do primeiro e segundo escalões, enquanto, em paralelo, ampliava seu domínio na estrutura partidária. Na convenção do PDS que o indicou candidato a governador, Wilson Braga detinha mais de 80%do diretório regional, do qual, inclusive, era presidente. Dois anos antes da eleição de novembro de 1982 já estava em campanha ao governo do Estado, tendo sido homologado após vencer resistências internas, partidas, inicialmente, do próprio Tarcísio Burity, quando do exercício do governo. Entre 1974 e 1978, Wilson Braga foi o deputado federal mais votado pela legenda oficial – Arena/PDS. No plano federal, Wilson era ligado ao ex-ministro Mário Andreazza, do Interior, e ao ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf. Fora do poder, anos mais tarde, acabou se vinculando à liderança de Leonel Brizola, que voltara à cena após a anistia, à frente do PDT e sob a inspiração de um projeto de “socialismo moreno” no país. O seu estilo realçava a imagem de “animal político” que aliados e adversários lhe atribuíam.