Nonato Guedes
A discussão sobre a pandemia do novo coronavírus juntou dois adversários políticos de destaque no Brasil – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro, cujas opiniões mais recentes, de tão estapafúrdias, geraram reações indistintas de repúdio em redes sociais. Bolsonaro, que tenta pôr ideologia em qualquer coisa, fez piada de mau gosto em cima do preocupante número de mortes causadas por covid-19 e afirmou que quem for de direita toma cloroquina para se prevenir contra o contágio da doença e quem for de esquerda toma tubaína. Lula foi mais infeliz ainda ao se expressar. “Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”.
A declaração de Lula escapuliu durante uma entrevista por videoconferência ao jornalista Mino Carta, da revista “Carta Capital”, que é simpática a Lula e à ex-presidente Dilma Rousseff. Da Silva salientou que o preconceito está “na medula da elite brasileira”, que, “grosseira e raivosa”, é, segundo ele, contrária aos direitos para empregadas domésticas, jardineiras e pobres. “O que eu vejo? Quando eu vejo os discursos dessas pessoas, quando eu vejo essas pessoas acharem bonito que ‘tem que vender tudo o que é público’, que ‘o público não presta nada’, ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução de dar solução a determinadas crises. Essa crise do coronavírus, somente o Estado pode resolver isso, como foi a crise de 2008”.
Lula mencionou, na sequência, o ex-presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, que comandou o país de 1933 a 1945. À época, houve a Segunda Guerra Mundial. “Você acha que ele (Roosevelt) estava preocupado com orçamento da União? Com déficit fiscal? Se o Tesouro ia falir ou não? Ele tinha que construir armas para vencer a guerra”, disse Lula ao se dirigir ao jornalista que o entrevistava. Conforme o ex-presidente, o momento é de “guerra contra o coronavírus” e o governo do presidente Jair Bolsonaro “sequer” cumpriu a tarefa de entregar o auxílio emergencial de R$ 600 para todas as pessoas. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou até a tarde de ontem 17.971 mortes por coronavírus, além de 271.628 casos confirmados. Pela primeira vez o país somou mais de mil mortes no balanço diário. A psicóloga Marisa Lobo chegou a comparar Lula a um psicopata “por comemorar o coronavírus”, segundo expressou em suas redes sociais.
Já Bolsonaro, que anunciou novo protocolo para uso da cloroquina, a ser assinado pelo ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, prevendo uso já nos primeiros sintomas, assim reagiu diante da observação de que não há resultados conclusivos sobre a eficácia do remédio: “Toma quem quiser, quem não quiser não toma. Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína”. A aplicação da hidroxicloroquina em pacientes infectados com o novo coronavírus é tema de vários estudos ao redor do mundo. No entanto, até o momento pesquisadores não conseguiram encontrar resultados concretos sobre a eficácia do remédio. A recomendação do uso do medicamento no Brasil gerou divergências públicas entre o presidente da República e os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Numa reunião com Bolsonaro, representantes do Conselho Federal de Medicina disseram que não recomendam o uso da hidroxicloroquina para pacientes em tratamento de Covid-19.