Nonato Guedes
No livro “Poder e Política na Paraíba – Uma análise das lideranças – 1960-1990”, coordenado pela Associação Paraibana de Imprensa, na gestão de Walter Santos, em 1993, o historiador José Octávio de Arruda Mello perfilou Wilson Leite Braga em ensaio intitulado “Um capítulo da história eleitoral da Paraíba”, que analisou a trajetória do líder de Conceição em suas diversas vertentes, a partir da passagem pela Casa do Estudante em João Pessoa até chegar ao governo do Estado. Octávio referiu-se à derrota ao Senado, experimentada por Wilson em 86, após a vitória acachapante ao governo em 1982 sobre Antônio Mariz e deixa claro que o resultado adverso equivaleu a um baque profundo, que abalou o casal Wilson-Lúcia Braga. “Eu preferia que Wilson tivesse sido eleito”, desabafou Lúcia, que havia sido eleita à Assembleia Nacional Constituinte. No entanto, a vitória em 88 teve o sabor de uma ressurreição em alto estilo, na avaliação de Octávio.
Wilson, além de perder o Senado para o empresário Raimundo Lira, que figurava como azarão, não conseguiu emplacar seu candidato ao governo, Marcondes Gadelha, destroçado nas urnas por Tarcísio Burity, que abocanhara a indicação pelo PMDB após se fazer dissidente no PFL, sobre o qual Braga, no governo, avançava. Burity ingressou no PMDB na undécima hora dos prazos de filiação, dizendo-se soldado, mas logo foi catapultado à posição de general porque seu prestígio estava em alta como decorrência da atuação no primeiro governo. Ele também foi beneficiado pela desistência de Humberto Lucena em disputar o governo, diante de problemas de saúde que o levaram a internação em São Paulo. Lucena concorreu ao Senado, sendo eleito junto com Lira. Burity disparou ao governo, fazendo-se caudatário, também, da popularidade do governo Sarney devido ao Plano Cruzado.
“Onde foi que eu errei?”, indagou, perplexo, Wilson Braga, numa roda de amigos, na própria residência, segundo o relato feito por José Octávio, que acrescentou: “O impacto da derrota era tão grande que inviabilizava quaisquer comemorações pela eleição da deputada federal Lúcia Braga, detentora, como a mais votada da Aliança Trabalhista Liberal, de expressivos 92.324 votos, abaixo apenas dos candidatos Antônio Mariz (106.591) e Cássio Cunha Lima (93.236) pela Coligação Democrática Popular”. Os adversários de Wilson chegaram a profetizar o fim da sua carreira, alegando que ele saíra irremediavelmente desgastado no quadro político paraibano, diferentemente de Mariz, o candidato que ele derrotara ao Palácio da Redenção em 1982. Confirmou-se uma profecia de Marcondes Gadelha: “Comparo Wilson a um animal político e estou certo de que, mais cedo ou mais tarde, ele voltará à cena”.
Foi o que se deu em 1988, na eleição para a prefeitura de João Pessoa. Wilson manteve-se recolhido durante quase todo o ano de 1987 numa granja nos arredores de Brasília, com raras vindas à Paraíba e esparsas entrevistas à imprensa. Em 88, contudo, encarou a chance de ressurreição política tomando como ponto de partida a penetração do seu esquema populista em favelas da Capital. O esquema estava motivado pela penetração alcançada por Lúcia Braga na Capital. O nome de Lúcia parecia ser natural, mas foi afastado quando de acidente com a filha Patrícia, na cidade de Alfenas, Minas Gerais. Wilson assumiu o desafio, desenvolvendo técnica de arrastões nos bairros ao invés de privilegiar comícios no centro, como anota, ainda, José Octávio de Arruda Mello. Com isto, venceu facilmente os seis adversários que se habilitaram à disputa pela prefeitura pessoense: João da Mata, Haroldo Lucena, Carlos Alberto Bezerra, Hermano Almeida, Antônio Augusto Arroxelas e Jaêmio Ferreira Carneiro.
Tratava-se de completa reabilitação de 1986, avaliou José Octávio, explicando: “De uma cartada só o ex-governador lograva derrotar o arquiadversário Tarcísio Burity, o sarneysmo, a quem aquele se vinculara, pleiteando cinco anos de mandato presidencial, o PMDB de Ulysses Guimarães e Humberto Lucena, a duvidosa “modernização” de João da Mata e as esquerdas, divididas entre o professor Carlos Alberto, do PT, deputado estadual Antônio Augusto Arroxelas, do PDT, e o ecológico Jaêmio Carneiro, do Partido Verde. E tudo isso de maneira tal que todos os votos adversários somariam 59.422, ou seja, 18.315 a menos que os do novo prefeito”. Eis que Wilson, porém, não esquentou cadeira na prefeitura de João Pessoa. Já assumiu mirando a disputa pelo governo do Estado em 1990, na qual enxergava a possibilidade de coroar o retorno em alto estilo.
Deu-se que em 1990, oficializado candidato ao governo, Wilson Braga largou desgastado no primeiro turno em meio a uma campanha infernal movida contra sua imagem pelo jornal “Correio da Paraíba”, que o acusava de suposto mandante do assassinato do jornalista Paulo Brandão, o que não restou comprovado, apesar de evidências associadas ao governo, no seu período, como a origem, na Casa Militar, da metralhadora que fulminou Brandão em 84. O cenário político-eleitoral de 90 comportava novos atores, como Ronaldo Cunha Lima, do PMDB, e João Agripino Neto, concorrendo pelo PRN, partido que Burity abraçara. Ronaldo e Wilson se credenciaram ao segundo turno, que foi vencido por Cunha Lima, incorporando massa de apoios abiscoitada nas entranhas do esquema que apoiara Agripino. Wilson ainda tentou, outra vez, chegar ao Senado, e perdeu. Encerrou a carreira por onde começara em 1954 – a Assembleia Legislativa da Paraíba.