Nonato Guedes, com agências
Por determinação do empresário e comunicador Sílvio Santos, o telejornal SBT Brasil deixou de ir ao ar, ontem, sábado, sendo exibida no horário uma reprise do programa “Triturando”, o que deixou em choque o departamento de jornalismo da emissora. A decisão teve motivação política, segundo confidenciaram funcionários do SBT ao colunista Maurício Stycer, do UOL, mas a direção do SBT não se pronunciou oficialmente a respeito. O SBT Brasil é o principal telejornal do SBT, está no ar desde agosto de 2005 e nunca havia deixado de ir ao ar. Não houve qualquer aviso ao espectador sobre a mudança na grade do sábado.
Sílvio Santos teria ouvido reclamações de que a edição de sexta-feira do SBT Brasil desagradou ao governo do presidente Jair Bolsonaro. O tema principal do telejornal, como não poderia deixar de ser, foi a divulgação do vídeo da polêmica reunião ministerial ocorrida em 22 de abril. O dono do SBT teria pedido, no início da tarde de ontem, que o telejornal não voltasse a tratar do assunto à noite e que mencionasse apenas a agenda do dia do presidente Jair Bolsonaro. Uma reportagem com a repercussão dos acontecimentos de sexta-feira estava programada para ir ao ar mas foi cancelada. No meio da tarde, o jornalismo da emissora foi informado de que a edição do telejornal seria substituída por uma reprise do programa de fofocas. A equipe que estava de plantão não recebeu explicações sobre a decisão.
Especulou-se, inicialmente, que Sílvio havia decidido fazer um teste, colocando o “Triturando” no horário do SBT Brasil às 19h45 e que o telejornal poderia ser exibido às 20h30. Durante parte da tarde, ainda em clima de indefinição, a equipe do plantão seguiu produzindo uma edição do telejornal, na expectativa de que houvesse uma contraordem e o SBT Brasil fosse ao ar às 20h30. Por volta das 19h30, porém, a equipe foi dispensada do plantão. O colunista Maurício Stycer lembra que Sílvio Santos fez afagos e bajulou todos os presidentes da República desde 1970, de Garrastazu Médici a Jair Bolsonaro. Em 1985, no governo José Sarney, Sílvio Santos chegou a dizer: “Eu sou um concessionário, um office boy de luxo do governo. Faço aqui o que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime”.
Stycer nota, porém, que o entusiasmo com que Sílvio Santos tem acolhido em sua emissora o clã Bolsonaro e figuras ligadas ao atual governo destoa do padrão. Há pouco mais de um mês, após a demissão de Luiz Henrique Mandetta, foi noticiado que Sílvio havia indicado ao presidente um nome para o comando do Ministério da Saúde. Em nota, ele negou a informação e disse: “A minha concessão de televisão pertence ao governo federal e eu jamais me colocaria contra qualquer decisão do meu ‘patrão’, que é o dono da minha concessão. Nunca acreditei que um empregado ficasse contra o dono. Ou ele aceita a opinião do chefe ou então arranja outro emprego”. Até a quinta-feira, o SBT Brasil conta na banca de apresentadores com a jornalista paraibana Rachel Sheherazade, que se tornou famosa por comentários políticos polêmicos. Ela foi “proibida” por Sílvio de emitir opiniões, a pretexto de que foi contratada para ler notícias. Sheherazade, que é acusada de “direitista” por grupos do PT e apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passou a emitir opiniões no You Tube, com críticas ao presidente Bolsonaro e membros de sua equipe, mas ultimamente saiu de circulação do referido canal.