Desde cedo, nas redes sociais, artistas e adeptos da arte/cultura da Paraíba manifestam seu reconhecimento ao talento múltiplo do músico Sivuca, que, se fosse vivo, completaria 90 anos hoje. O filho ilustre de Itabaiana, que começou a tocar com nove anos e conseguiu ser respeitado internacionalmente, morreu aos 76 anos em 14 de dezembro de 2006. “Nunca vou esquecer do dia em que vi Sivuca pela primeira vez. 0 ano era 1974. Eu tinha 15 anos. Já era apaixonado por música e um dia passei pelo Teatro Santa Roza e vi um cartaz que dizia: “Domingo Sivuca”. O músico que morava em Nova York estava de férias em João Pessoa e seria homenageado pelo governo do Estado. O teatro estava cheio e Sivuca, sozinho no palco, com sua sanfona, contou histórias e tocou. Tocou muito. Dos forrós de pé de serra a Moonlight Serenade. Eu era um menino mas minha paixão pela música me ajudava a perceber que eu estavadiante de um grande músico. Nunca vou esquecer aquela noite no Santa Roza”, depõe, ainda hoje, o jornalista Sílvio Osias, colunista do “JPB online”.
Nascido Severino Dias de Oliveira, Sivuca foi descendente de uma família de oito irmãos – o único a interessar-se pela música. Em 1939, o pai, Gercino, comprou uma sanfona, mas não para ele, e, sim, para o irmão mais velho, Gercino. Mesmo decepcionado, Sivuca não se deixou abater e tocava escondido, fiando-se apenas em noções que tinha sobre realejo. Em pouco tempo, tocava nas festinhas da escola da cidade. Em 1944 chegou a João Pessoa e, numa apresentação na rádio Tabajara, deslumbrou o maestro Severino Araújo, que pediu sua contratação à direção da então principal emissora da capital. Os dirigentes da rádio alegaram falta de dinheiro para realizar o contrato. O “não” da Tabajara transportou “Sivuca” ao Recife, onde, em 1945, passou a compor a orquestra da rádio Clube de Pernambuco. Permaneceu dez anos na Capital do Frevo, dividindo-se entre a Clube e a rádio Jornal do Comércio. Aos 21 anos de idade, fez o curso de Harmonia com o maestro Guerra Peixe, um incentivador da sua carreira.
Na sequência, como relatou uma matéria escrita pela jornalista Silvana Sorrentino, “Sivuca” pontificou na TV Tupi, do Rio de Janeiro, que o convidou em 1955, permanecendo na televisão carioca até 1959, quando embarcou para Portugal. Foi batizado como “Sivuca” pelo maestro Nelson Ferreira, um dos seus grandes mestres e decidiu aventurar-se na França, onde “fez tudo” para sobreviver. Foi após 15 audições para ingressar em um clube parisiense que ele conseguiu o intento. Na Maison Barclay começou a gravar e ficou cinco anos na França, que constituíram grande aprendizado no aprimoramento da sua formação. Breve volta ao Brasil, em pleno 64, quando caiu sobre o Brasil a longa noite das trevas. Acabou aceitando convite de assessor musical de Carmem Costa, nos Estados Unidos, ficando por lá durante 13 anos. De volta ao Brasil, conheceu Glorinha Gadelha, compositora e grande incentivadora, com quem casou e sustentou parceria musical. Apresentado pelo teatrólogo paraibano Paulo Pontes a Chico Buarque, gravaram um dos maiores sucessos da dupla: João e Maria. Radicado no Rio a partir do final da década de 70, “Sivuca” fez shows em vários países. Mas o deslanche mesmo foi. Ele disse: “Foi aqui que explodiu a minha capacidade maior de criação”.