Três empresas de comunicação – Folha, Globo e Band, resolveram, ontem, suspender a cobertura jornalística na porta do Palácio da Alvorada em Brasília, como reação às seguidas hostilidades de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro dirigidas aos jornalistas que fazem plantão no local. Os xingamentos aos jornalistas que esperam a saída de Bolsonaro na porta do Alvorada diariamente se tornaram comuns, mas, ontem, a agressividade foi maior. Em diferentes ocasiões, Bolsonaro também foi grosseiro e ofendeu jornalistas no local.
Ontem, pouco antes dos xingamentos feitos por apoiadores, o presidente criticou a imprensa. “No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo”. A Folha questionou sobre o episódio de ontem o Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela segurança do Alvorada, e a Secretaria Especial de Comunicação (Secom) mas não houve qualquer resposta. O Grupo Globo comunicou o GSI por carta, assinada por Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de Relações Institucionais. Alegou: “São muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico. Estas agressões vêm crescendo (…) Com a responsabilidade que temos com nossos colaboradores, e não havendo segurança para o trabalho, tivemos que tomar essa decisão”.
O colunista Maurício Stycer, do UOL, informou que houve confirmação, pela Band, da retirada de seus profissionais da cobertura do Palácio da Alvorada a partir de hoje. O SBT informou que ainda não tem uma posição a respeito. A Record disse que seguirá cobrindo e a CNN Brasil não respondeu. No final da noite, o site Metrópoles, de Brasília, também anunciou a suspensão da cobertura que faz desde o início do governo diante do Alvorada. Informou que a suspensão vai perdurar enquanto continuar o clima de hostilidade e não houver condições para que os profissionais de imprensa possam trabalhar em segurança”. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou nota elogiando a decisão das empresas que suspenderam a cobertura no Alvorada. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e a Federação Nacional dos Jornalistas cobraram ações de proteção aos profissionais por parte do GSI e da Secom. Houve apoios de líderes partidários, no Congresso, à decisão da Folha de São Paulo de suspender a cobertura no Palácio da Alvorada.
Na guerra entre o poder e a imprensa, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, repudiou editorial da Folha, que abordou a sua atuação enquanto presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal e fez um apelo à moderação da imprensa. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal tuitou que a escalada de violência está diretamente relacionada com a postura de Bolsonaro contra os meios de comunicação. E enfatizou: “Repudiamos os novos ataques contra jornalistas ocorridos hoje (ontem) no Palácio da Alvorada e na Esplanada dos Ministérios”. O jornalista Vicente Nunes, do Correio Braziliense, informou que o jornal já não coloca correspondentes no Alvorada há cerca de um mês. A cobertura é feita à distância, por meio de gravações. “Nenhum jornalista merece passar pela humilhação diária estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro”, afirmou.