Boletim epidemiológico liberado na noite de ontem pela Secretaria de Estado da Saúde mostra que a Paraíba registrou novo recorde de casos de covid-19 notificados em 24 horas, com 1.209 novos registros. O Estado, agora, passa a contabilizar 10.209 casos de coronavírus e 298 mortes pela doença. A quantidade de municípios com casos confirmados da doença, por outro lado, elevou-se de 181 para 185. Os cinco municípios mais atingidos são: João Pessoa, com 3.223 casos, Campina Grande com 1.025, Santa Rita, com 552, Patos com 469 e Cabedelo com 517 casos. A taxa de ocupação de leitos de UTI em todo o Estado oscila em 72%. Na Grande João Pessoa, esse índice está em 85% enquanto em Campina Grande a ocupação de leitos de UTI é de 80%.
Conforme dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, o Brasil chegou a 411.821 casos e 25.598 mortes por covid-19. Pela primeira vez nesta pandemia, a maioria, tanto dos diagnósticos quanto das mortes contabilizadas, está nas regiões Norte e Nordeste. No Sudeste, os casos oficiais de covid-19 aumentaram 91% em duas semanas e hoje somam 151.376. Em todas as outras regiões os diagnósticos pelo menos dobram. No mesmo período o crescimento no Nordeste foi de 129% (sendo 141.706 no total) e, no Norte, de 155% (para 86.978). A evolução de mortes tem crescimento semelhante. O Sudeste ainda é a região mais afetada pela covid-19, porém, Norte e Nordeste surgem como focos ainda maiores de preocupação. No final de março, mais da metade dos casos e mortes da doença no país acontecia no Sudeste, que hoje corresponde a 36% dos diagnósticos e 46% do total de óbitos registrados no País.
Já Nordeste e Norte enfrentaram forte aumento proporcional de casos de mortes e hoje, respectivamente, correspondem a 35% e a 21% dos casos e a 30% e a 20% das mortes contabilizadas no País. Para referência, de acordo com o IBGE, o Nordeste concentra 27% da população brasileira, o Norte, menos de 9% e o Sudeste 42%. Levando isso em conta e, apesar das subnotificações, a incidência de covid-19 na metade norte do País é muito maior. Especialistas entrevistados pelo UOL Notícias revelaram que isto não significa que a pandemia está diminuindo no Sudeste. Pelo contrário: está aumentando e rapidamente. Mas em outras regiões a velocidade de contágio de covid-19 é ainda maior e mais perigosa também. Bernardino Albuquerque, presidente do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da UFAM (Universidade do Amazonas) é taxativo: “A covid-19 torna ainda mais clara a desigualdade social e entre regiões do País. Há um despreparo destas regiões (Norte e Nordeste) para fazer o enfrentamento de uma situação como esta”.
O infectologista Marcos Boulos, da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo, explicou que condições econômicas piores significam assistências médicas piores, o que resulta em condições piores de atendimento. “Pela pobreza, alguns Estados não conseguem investir na Saúde”, simplifica ele. E acrescenta: “Nas regiões Norte e Nordeste, as mais pobres do País, haverá certamente maior percentagem de mortes do que no Sul e Sudeste. O professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) Domingos Alves, líder do projeto “Covid-19 Brasil”, que cria modelos para estimar a evolução da pandemia, é categórico: “A doença evidencia a desigualdade. A pandemia tem raça e condição social, é direcionada a pessoas pobres. O vírus em si não enxerga as diferenças sociais mas a evolução da doença sim”.