Nonato Guedes
O governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), foi pilhado pelo radar da fiscalização, tanto de políticos adversários como de expoentes da sociedade organizada, quanto à transparência na aplicação dos recursos públicos que têm sido liberados para o enfrentamento ao coronavírus, bem como quanto à eficácia das medidas tomadas, em conjunto com prefeitos das duas maiores cidades – João Pessoa e Campina Grande, para conter a proliferação da doença. Uma outra cobrança, mais forte, contundente mesmo, partiu de entidades representativas do comércio paraibano, que se sentiram abandonadas pelo poder público em meio a uma crise sem precedentes vivenciada na história do Estado. Azevêdo não deixou impunes as acusações e insinuações – partiu para a ofensiva, garantindo que o seu governo tem prestado contas dos recursos e das ações, através dos instrumentos próprios de comunicação, disponíveis, sobretudo, em redes sociais, além das falas e entrevistas que ele tem cumprido para esclarecer a sociedade.
A cobrança por transparência detalhada no oferecimento de informações é plausível, diante do volume de recursos que, de acordo com a mídia, foi repassado para os cofres do governo estadual, em estratégia que alcançou governos de outros Estados e, também, municípios, grandes, médios e pequenos. Não foi apenas o governo federal que, reconhecidamente, disponibilizou vultosa quantia de recursos. Os gestores estaduais foram beneficiados pelo reforço de recursos provenientes de emendas de parlamentares que integram bancadas em Brasília e nas respectivas Capitais. Os próprios parlamentares se apressaram em dar ciência ao público dos valores alocados, com especificações em torno de instituições favorecidas com base no critério da premência e da perspectiva de redução do número de casos incidentes de covid-19. O Tribunal de Contas, por outro lado, havia alertado a administração estadual sobre inconsistências que precisavam ser corrigidas com rapidez, antes que eclodissem consequências danosas para a população.
No caso da Paraíba, o radar da fiscalização se torna mais acentuado por causa de escândalos que ainda estão recentes, na memória dos paraibanos, sobre desvios na Saúde e na Educação praticados, de acordo com a Justiça e o Ministério Público, por uma organização criminosa que seria comandada pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e de que resultou uma operação de investigação denominada Calvário, que apurou delitos concretos em diligências conduzidas pelo Gaeco e demais forças auxiliares do MP. É fato incontestável que recursos de grande monta foram drenados do seu curso natural para irrigarem esquemas de corrupção montados por agentes do poder público em consórcio com organizações sociais que atuaram em regime terceirizado na Saúde e na Educação.
O próprio governo João Azevêdo, quando foi confrontado com denúncias bastante graves sobre irregularidades e falcatruas na área da Saúde Pública do Estado, não apenas rompeu contratos firmados pela administração estadual com tais organizações criminosas mas, na sequência, baniu o funcionamento de quaisquer organismos congêneres na Paraíba, criando uma Fundação estatal para gerir o dinheiro público. A opinião pública, independente de cor partidária ou política, está constatando os reflexos do descalabro na Saúde que foi agravado pelo desvio de verbas por parte da tal organização criminosa. Na batalha hercúlea de enfrentamento ao coronavírus, descobriu-se que hospitais da rede pública eram insuficientes ou estavam desaparelhados para atender a situações de emergência que foram sendo criadas, o que obrigou à instalação de hospitais de campanha dentro do plano de contingência para fazer face à calamidade.
É evidente que numa conjuntura assim os holofotes estejam amplificados para as ações e os passos empreendidos pela administração de João Azevêdo e por gestões da Capital e de todos os municípios da Paraíba que tenham ingressado no grupo de localidades carentes de atendimento urgente, urgentíssimo até. Ainda agora, instaurou-se polêmica sobre respiradores que são necessários para a assistência a vítimas do coronavírus e o episódio, segundo se detectou, ganhou contornos policiais lamentáveis, o que só faz tornar complexa, desafiadora, a missão de salvar vidas a que todos dizem estar entregues, neste momento de adversidade atípica experimentada no Estado.
Quanto aos prejuízos enfrentados pelo comércio e por outras atividades, serão minorados gradualmente, já havendo hoje um plano de governo que alterna situações na proporção da incidência ou da disseminação do coronavírus. Já foi dito que o grande teste de João Azevêdo como gestor público está se dando nesta fase crítica. Nenhum outro governante da história recente, de cerca de meio século, da Paraíba, passou por essa emergência tão grave. Mas, como dizia o ex-governador Tarcísio Burity, o homem se mede pelos obstáculos que enfrenta. Homens públicos tornam-se estimados pela população quando cumprem seus deveres, com honestidade e com transparência absoluta, sem subterfúgios. É o que está posto para o sucessor da Era Ricardo, de cujo ventre, aliás, emergiu.