Nonato Guedes
O ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho persiste na estratégia focada na busca de um discurso que tenha fé de ofício ou credibilidade pública, capaz de reabilitá-lo no cenário local e além-fronteiras, depois do desgaste profundo a que foi submetido em meio a graves denúncias do Ministério Público que o inquinam como chefe de uma organização criminosa especializada no desvio de verbas de setores essenciais para a população como a Saúde e a Educação. Infelizmente para Ricardo, ele é um político desprovido de discurso convincente ou do mínimo de conteúdo, diferentemente do Ricardo que em fases movimentadas da história paraibana logrou insurgir-se como um expoente aparentemente inovador, cujo perfil batia de frente com esquemas oligárquicos ou tradicionais da vida pública do Estado e, mesmo, do país.
Depois que deixou o governo, Coutinho planejou capacitar-se como interlocutor respeitável que, mesmo sem mandato (já que decidira não concorrer ao Senado nas eleições de 2018) seria voz influente, requisitada nos mais exigentes fóruns, por suposta lucidez de raciocínio e intrínseco compromisso com mudanças balizadas por um certo viés socialista, espécie de prolongamento de ações executadas em dois mandatos consecutivos à frente do Executivo paraibano. Afinal, ele mesmo concebera a história recente do Estado em ciclos datados, tendo como referências o antes e o depois da Era que lhe coubera empalmar pelo voto. O que não vazou, de imediato, para a opinião pública, foi que havia um “lado oculto”, uma “face terrível” da Era ricardista, pontuada pelo descalabro de gestão e pela negação do senso público, tantas vezes alardeado por ele e por seus discípulos. E, aí, foi pelos ares o projeto de virar interlocutor qualificado.
Essa face obscura e tenebrosa da Era Ricardo sobressaiu com uma rapidez impressionante, em pouco tempo de afastamento seu das rédeas de poder na Paraíba, e da pior forma possível, robustecida pela revelação de transações asquerosas cometidas à sombra do pacto de transparência que dizia ter para com a sociedade, aí incluído o zelo republicano para com a aplicação das verbas oficiais. A chusma de irregularidades, misturada com recebimento de propinas e com manobras de enriquecimento ilícito, deixou o rei nu e desmascarou a ilusória austeridade vendida por Ricardo, o “diferentão”. O dirigente do PSB paraibano revelou-se diferente, sim – mas na cupidez com que avançou pelo erário e na sofisticação com que montou uma organização com fins criminosos dentro do aparelho governamental paraibano, à custa do sacrifício de prioridades que há décadas demandavam atenção dos ocupantes do poder público.
O que se constata, de maneira cristalina, é que Coutinho não se credenciou, como ele esperava, para construir uma narrativa que o inocentasse na pilha de denúncias reverberadas em depoimentos formais ou em delações premiadas, por parte de ex-secretários, ex-colaboradores e ex-parceiros de operações de saque do erário, inclusive, em áreas cruciais que deveriam ser intocáveis se pesasse na consciência o mínimo de sensibilidade social. Não logrando, portanto, produzir a “grande narrativa”, Coutinho apela, de tempos em tempos, para a elaboração de teorias conspiratórias que, a um só tempo, o vitimizem e o engrandeçam. Essa estratégia é melhor analisada por especialistas no comportamento humano e não é, nem de longe, inovadora, no terreno de avaliações psicológicas ou psíquicas sobre a natureza das pessoas. Ou sobre o fascínio que o poder exerce sobre aquelas que por ele passam.
O ex-governador Ricardo Coutinho, à falta de argumentos mais sólidos, debate-se numa guerra para tentar caracterizar o Ministério Público e outros organismos de investigação como algozes gratuitos seus, por mera perseguição ou, quem sabe, por algum sentimento de inveja em relação ao nome e sobrenome que ele ostenta e que já foram sinônimos equivocados de liderança política autêntica na Paraíba, como, de resto, no Nordeste, com perspectivas de ganhar visibilidade nacional. Todo o enredo arquitetado pelo cérebro narcisista de Ricardo Coutinho foi sendo corroído pela força de evidências irresistíveis que põem o ex-governador no rol dos usurpadores da confiança dos paraibanos e das paraibanas, um ilaqueador da boa fé dos incautos e das incautas que apostaram fichas em mensagens de renovação disparadas a esmo em palanques ou em redes sociais. A engenharia da lavra de Ricardo foi desmascarada da forma mais impactante para ele, com o desmoronamento do personagem que ele tentara vender a plateias desinformadas.
Hoje não há plateia disponível que faça o ex-governador arrebatar índices de audiência como se fosse um campeão de popularidade. Não há nem mesmo uma réstia de definição sobre seu futuro político, sobre candidaturas, sobre eventual retorno aos quadros do poder em nosso Estado. Ricardo é um mistificador barato, de cuja órbita procuram se afastar parcelas expressivas da opinião pública, indignadas com suas táticas de manipulação, hoje bastante manjadas pelos que caíram no conto do “novo” que ele buscou personificar. Um “script” melancólico com que Ricardo, seguramente, jamais sonhou!