Nonato Guedes, com agências
O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou que não acredita nas versões de que a democracia brasileira esteja em risco, questionou quem poderia impor um golpe no país na atual conjuntura e deu a entender que, mesmo se o presidente Jair Bolsonaro tivesse alguma intenção desse tipo não conseguiria o apoio de outras instituições. Em entrevista à CNN Brasil, Temer (que passou o cargo de presidente para Bolsonaro em janeiro de 2019), minimizou: “A democracia não está em crise. Ela pode ser agredida por alguns setores da população, mas, como institucionalidade, está funcionando. Enquanto as instituições estiverem funcionando, a democracia não corre risco”.
Para ele, as instituições representativas estão muito solidificadas no Brasil. Prevê que o país irá vencer um ciclo perverso que ocorre na história constitucional brasileira, pelo qual a cada 20 ou 30 anos as pessoas querem uma nova Constituição. “A todo momento, você tem movimentos que dizem que a democracia corre risco. Essa Constituição apoiou todos os temas fundamentais para o Estado, adotou teses liberais e sociais. Ela tem instrumentos capazes de durar muitíssimos anos”, completou. Da mesma forma, Michel Temer frisou que não vê possibilidade de Bolsonaro sofrer impeachment. Temer assumiu a cadeira após o impedimento de Dilma Rousseff (PT) e acha que o Brasil não teria “clima” para lidar com um terceiro processo desse tipo desde a redemocratização (antes de Dilma, Fernando Collor de Mello havia sido retirado do cargo em 1992).
– Seria inadequado um terceiro impedimento, Não vejo essa mobilização do Congresso Nacional, seja para eventualmente levar adiante um processo de impedimento, gesto político, seja, eventualmente, se uma denúncia vier a ser oferecida. Há todo um ritual a ser obedecido em situações dessa natureza –advertiu Temer, que é jurista. O ex-presidente observa que para governar bem o país o presidente precisa de apoio muito sólido do Legislativo. E opina que se Bolsonaro tiver uma parte do Congresso e da Câmara com ele, ainda que se formate denúncia pela Procuradoria Geral da República, conseguirá evitar a sequência na Câmara dos Deputados. “Se não houver a denúncia, evidentemente ele vai até o fim do mandato. Esta é a ideia. Evidentemente tomando as cautelas necessárias”, revelou Temer.
Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), conforme o UOL, declarou ontem que pessoas a favor da democracia precisam se unir e alertou que, mesmo não sendo fácil, a necessidade de união está posta diante do cenário de crise institucional. Acrescentou que o diálogo deve ser estendido aos militares sem uma avaliação prematura de que eles são favoráveis a qualquer tipo de golpe. Fernando Henrique participou de uma live do movimento Direitos Já na tarde de ontem, e afirmou ainda que as pessoas que têm condições de defender a democracia devem falar. “Não está na hora de esconder sentimento democrático”, emendou. O tucano referia-se a várias manifestações pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. FHC disse que Jair Bolsonaro se elegeu com uma agenda negativa para barrar a ascensão de Lula, PT, esquerda e o que seus seguidores chamam de comunismo. Mas o ex-presidente lembrou que havia uma agenda não democrática que ninguém prestou atenção. Ele pediu uma solução política para a crise, ponto de vista compartilhado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que também participou do debate.