Nonato Guedes, com agências
O economista paraibano Maílson da Nóbrega afirmou que o Banco do Brasil está pronto para ser privatizado e que a transferência do governo para a iniciativa privada da segunda maior instituição financeira do país por ativos faria bem ao banco e ao setor público. O ex-ministro da Fazenda observa, porém, que essa privatização vai enfrentar uma grande resistência política – afinal, a venda do controle do banco precisa de aprovação de lei no Congresso, “e isso demanda articulação do governo Jair Bolsonaro, algo que não existe”. Nóbrega é sócio da Tendências Consultoria e escreve artigos na revista “Veja”.
O UOL Notícias destaca que Maílson é um dos maiores conhecedores do Banco do Brasil, pois foi lá que começou uma longa carreira, tendo entrado na instituição financeira aos 20 anos. Aos 35 anos, em 1977, ainda funcionário do Banco do Brasil, já atuava nos ministérios que criaram as regras de intervenção do Estado na economia brasileira. Entre 1983 e 1984, liderou os estudos que resultaram em profundas transformações no Banco do Brasil com reflexos na própria organização da economia brasileira. Antes dos anos 1980, era o Banco do Brasil que fazia os papéis que hoje são do Tesouro Nacional e do Banco Central, gerindo os recursos do governo federal, fiscalizando e controlando o volume de dinheiro no setor financeiro.
Maílson da Nóbrega foi Ministro da Fazenda entre janeiro de 1988 e março de 1990, no governo do presidente José Sarney. Atuou num dos períodos mais difíceis da economia brasileira. Ele foi eleito em 2013 Economista do Ano pela Ordem dos Economistas do Brasil e, em 2017, tornou-se membro da Academia Internacional de Direito e Economia. Numa entrevista a UOL Notícias, Maílson revelou que o Banco do Brasil se tornou o oitavo maior banco do mundo nos anos 1970, mas era um sistema inviável e, paradoxalmente, propício porque “havia dinheiro a toda hora”. E acrescentou: “Mas o negócio começou a quebrar, a inflação começou a subir, a correção monetária foi aplicada em tudo e veio a crise da dívida de 1982”.
– Quando o Brasil quebrou e teve que pedir dinheiro ao Fundo Monetário Internacional, o FMI começa a pedir informações sobre o Brasil e nessa hora se percebe o primitivismo que era a mistura de papéis entre o BB e o BC. Eu participei das equipes que negociaram com o FMI. Foi aí que vimos o buraco. Então, montamos um grupo de trabalho para analisar as relações entre Tesouro Nacional, Banco Central e Banco do Brasil. Após dois anos de estudo, com 150 técnicos de todas as áreas, apresentamos relatório com série de medidas. Com muitas resistências, as medidas foram sendo implantadas. A transação não foi fácil. Houve momentos em que o Banco do Brasil quase quebrou, teve que ser salvo no governo de Fernando Henrique Cardoso – contou Maílson.
O ex-ministro enfatizou que, do ponto de vista econômico ou estratégico, no Estado moderno, não faz sentido o governo ter participação no Banco do Brasil. “Só se justifica se houver falha de mercado. O governo tem outros bancos. Por exemplo, para crédito de longo prazo, tem o BNDES. Para estimular o desenvolvimento do Nordeste ou da Amazônia, tem o BNB e o Basa. Além disso, o Banco do Brasil tem desvantagens por ser estatal. Muda de direção a cada quatro anos, está sujeito às regras de concorrência pública, sem as facilidades de seus concorrentes. Já ficou dois anos sem renovar parque de computadores por causa da concorrência, e não remunera adequadamente seus talentos, passando a perder gente para os concorrentes. Levando tudo isso em conta, a privatização do BB não só se justifica pelo aspecto estratégico mas, também, para tornar o Banco do Brasil mais eficiente”, conclui Maílson da Nóbrega.