Fernando Patriota
Mesmo com os riscos letais da Covid-19, milhares de brasileiros demonstraram, nas ruas, sua revolta com os desmandos, incompetência, negligência e criminalidades praticados, diariamente, pelo governo de Jair Bolsonaro. Nesse domingo (7) acompanhei as manifestações nas avenidas e praças das principais cidades brasileiras e a sensação que tive é que os movimentos tendem a crescer e a queda do atual presidente é iminente.
Contudo, as mesmas atitudes duvidosas contra o debate político democrático estão sendo repetidas pela grande mídia, claramente, um dos segmentos responsáveis pelo Golpe de 2016, derrubando Dilma Rousseff da Presidência do Brasil e levando ao poder um homem com fortes traços fascista, forjado nas fake news e mantido no mais alto cargo da Nação, devido a interesses do agronegócio, facções de milicianos e grupos evangélicos.
Uma dessas atitudes grosseiras contra à democracia e contra à ética jornalista aconteceu também nesse domingo, após o término das manifestações. Com olhar de jornalista profissional, acompanhei a um debate, promovido pela Globo News e mediado pela comentarista de economia, Miriam Leitão. Estavam presentes o ex-presidente da República, Fernando Henriques Cardoso, e os ex-candidatos derrotados a presidente, Ciro Gomes e Marina Silva.
Sem ingenuidade, de imediato senti a falta do ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, e do ex-candidato a presidente, Fernando Haddad. E vou dizer os motivos dessa sensação.
Lula, como todos sabem, foi duas vezes presidente do Brasil, elegeu sua sucessora, Dilma, e aparece nos institutos de pesquisas como o melhor presidente de todos os tempos e um dos maiores líderes políticos da História recente. Dilma, por sua vez, foi a primeira mulher a assumir da Presidência da República. Eleita e reeleita, ela foi a responsável por manter o projeto de divisão de renda para as camadas mais pobres. Covardemente, golpeada, deixou o poder em agosto de 2016, há pouco mais de três anos.
Em mais um gesto doloso contra pluralidade de opiniões, a Globo deixou de convidar um dos mais coerentes críticos dessa desastrosa administração federal, o acadêmico, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Ele teve quase 48% dos votos válidos, no segundo turno das últimas eleições presidenciais, contra um candidato que espalhava mentiras disparadas por robôs e, que hoje, responde a processos de cassação de sua chapa, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), justamente por isso.
Como uma emissora, que se diz comprometida com a democracia, deixa de convidar para um debate político figuras públicas dessa importância? Do ponto de vista jornalístico, chega ser ridícula e extremamente perigosa a falta de postura ética evidenciada naquele melancólico debate, uma vez que Lula e Dilma, são os dois últimos presidentes eleitos e reeleitos pelo voto direto. Já o Haddad, foi, de longe, quem mais rivalizou com seu adversário, além de ser apontado por comentaristas políticos de várias tendências como o homem certo para ter sido o presidente. Quem sabe não será? Então, era obrigatória sua presença naquele programa.
Em contrapartida, a Globo News decide montar seu time de centro-direita e chama para debater as manifestações a insignificante Marina Silva, que obteve 1% dos votos, no primeiro turno das eleições de 2018; Ciro Gomes, que somou 12,47%, na mesma eleição e é conhecido por seu ódio e rancor a Lula; além de FHC, que concluiu seu segundo mandado no longínquo ano de 2003, sem possuir mais nenhuma grande expressão política, dentro ou fora do Brasil.
Agindo dessa forma, mais uma vez está evidenciada a mesma tendência golpista, a qual as grandes empresas de comunicação estão a serviço. Nós, jornalistas, temos o dever ético e moral de levar esse debate para todos os cantos. É imperiosa nossa observação desses fatos que insistem em nos desafiar. Na noite desse domingo, ficou explícita a posição da Globo News, em querer que a velha direita brasileira venha a preencher o espaço deixado pela cantada e esperada saída do genocida.