Nonato Guedes
Os atuais prefeitos, de Capitais e dos mais longínquos municípios do interior do Brasil, são considerados “guerreiros” na cruzada de enfrentamento ao novo coronavírus, e os que são candidatos à reeleição tendem a ser favorecidos, naturalmente, por causa da visibilidade que estão tendo num momento extremamente difícil para a população como um todo. Um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas mostrou que 42,3% dos entrevistados avaliam como ótima ou boa a atuação dos gestores municipais no combate à Covid-19. Já 61,8% disseram que aqueles que estão se saindo bem são favoritos à recondução num pleito que terá características singulares devido às restrições de contato com eleitores em consequência do isolamento social recomendado pelas autoridades de Saúde Pública.
Em pelo menos 14 das 26 Capitais brasileiras os atuais gestores vão tentar um novo mandato. O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PV, está fora do ranking uma vez que está concluindo o segundo mandato, obtido nas urnas em 2016. Não anunciou ainda o nome do provável candidato ou candidata do seu esquema à sua sucessão, embora secretário(a)s municipais tenham se desincompatibilizado para estarem disponíveis para uma provável campanha. Cartaxo não demonstra pressa no anúncio de quem será ungido. Aliás, desde o segundo semestre do ano passado, vinha descartando todas as provocações para falar sobre o assunto à imprensa. A desculpa sempre foi a de que “o meu foco é na administração”. Essa postura, de certo modo, propiciou a pulverização de pretensões dentro da sua base e inibiu outros partidos para alianças, de tal sorte que alguns desses partidos estão se preparando para lançar candidaturas próprias, independente da densidade eleitoral que possam ter. Para os analistas políticos, o atual gestor continua como uma ”esfinge” no processo que diz respeito à própria sucessão.
A estratégia adotada por Cartaxo gera controvérsias nos meios políticos. Para alguns, Luciano demonstra autossuficiência no processo político, talvez por avaliar que potenciais adversários como o ex-senador Cícero Lucena e o ex-governador Ricardo Coutinho perderam terreno na conjuntura local. Para outros, Cartaxo faz uma aposta temerária porque investe no escuro, sem dispor de trunfos seguros para vencer a parada. Por essa linha de raciocínio, ele estaria se arriscando a repetir os erros cometidos no processo eleitoral de 2018 ao governo do Estado. Na época, Luciano era tido como forte candidato das oposições à sucessão de Ricardo Coutinho, mas ele resistiu a todas as pressões para se candidatar. Com isso, retardou a estratégia de mobilização das oposições. No final das contas, acabou impondo a candidatura do irmão gêmeo Lucélio, que não tinha trajetória política na Capital e que, mesmo atraindo apoio de lideranças como Cássio Cunha Lima, não teve votos para empurrar a disputa para o segundo turno. A decisão foi tomada mesmo no primeiro turno, com a vitória de João Azevêdo, espelhando o retrato da influência, à época, do governador Ricardo Coutinho.
Na lista de auxiliares de Cartaxo que se desincompatibilizaram para a hipótese de virem a disputar a prefeitura pessoense não há nomes de expressão política ou com histórico ligado à Capital, exceto as ações administrativas pontuais desenvolvidas nas esferas das respectivas pastas que assumiram a convite de Luciano Cartaxo. Não há indícios de que o prefeito atual, por outro lado, esteja se preparando para apoiar candidato de outro esquema político. Esse é outro ponto intrigante da sua estratégia: tem insistido, sempre que se fala sobre preferências para o páreo, no ponto de vista de que seu candidato será oriundo dos quadros do PV, o que fez com que secretários se filiassem à legenda a fim de serem eventualmente cortejados na estratégia final do alcaide.
Entre aliados fiéis há uma preocupação quanto a outro fator – a capacidade de transferência de votos de Luciano Cartaxo para um candidato à prefeitura de João Pessoa. O fenômeno da transferência de votos é sempre complicado para qualquer líder político, não sendo diferente com Cartaxo. Aliás, em 2018, Luciano não teve influência decisiva para anabolizar a candidatura do irmão gêmeo ao governo do Estado, inclusive porque não possuía uma imagem estadualizada. Indiscutivelmente é um gestor bem avaliado pela população de João Pessoa na análise da atuação que tem empreendido no enfrentamento ao coronavírus. Mas a verdade é que não preparou um candidato à altura para vitoriar nas urnas e sucedê-lo na prefeitura. A pergunta, diante do mistério, é esta: terá Luciano algum trunfo valioso que esconde na manga para decidir a parada singular deste ano? A conferir!