Nonato Guedes
Ainda há dúvidas sobre a elegibilidade ou não do ex-prefeito e ex-senador Cícero Lucena, que migrou do PSDB para o Partido Progressista (PP). Por outro lado, ainda não há sinais de fumaça branca por parte do esquema do prefeito Luciano Cartaxo (PV), apesar da pletora de candidaturas à sua disposição. Com exceção desses dois casos, o cenário para a eleição a prefeito de João Pessoa este ano está praticamente desenhado. Uma pedra importante foi movida nas últimas horas no tabuleiro com a tendência do PSB de lançar a ex-secretária Amanda Rodrigues, atual esposa do ex-governador Ricardo Coutinho, para a sucessão municipal. Havia a impressão, em alguns círculos, de que Ricardo, mesmo estando com tornozoleira eletrônica, poderia esticar a corda com o fito de confundir adversários. Mas essa tática era uma faca de dois gumes – e arriscá-la seria suicídio político, que, por óbvio, foi descartada.
No bojo das definições que estão acontecendo, à primeira vista parece inviabilizada a reedição de frente de esquerda em João Pessoa, pelo menos no primeiro turno do pleito atípico ou “singular” que será travado com as restrições decorrentes da pandemia do novo coronavírus. Ricardo, por exemplo, alimentava a expectativa de contar com o Partido dos Trabalhadores para uma composição, embora conhecesse a divisão da legenda lulista, que serve atualmente a dois senhores – a ele (Coutinho) e ao seu ex-aliado, o governador João Azevêdo, que pontifica no “Cidadania”. O esquema do governador, aliás, tem várias opções na base de apoio – e no próprio partido o vereador Bruno Farias, com boa imagem na Capital, tenta se credenciar como candidato. O PT deverá ir de candidatura própria, possivelmente com o deputado em exercício Anísio Maia.
O DEM, que está na base logística de Azevêdo, marcará presença com Raoni Mendes, que está estruturando, inclusive, segmentos da campanha, como o de comunicação. O MDB do senador José Maranhão partirá mesmo com o radialista Nilvan Ferreira, do Sistema Correio de Comunicação, que já anunciou seu afastamento do programa “Correio Debate” no final do mês, atento ao prazo de desincompatibilização previsto em lei. O PSDB apostará fichas na candidatura do deputado federal Ruy Carneiro, que já foi candidato em 2004, com o apoio de Cícero Lucena, e perdeu para Ricardo Coutinho. Quanto a Cícero, que tenta voltar repaginado, com ficha de inscrição no PP da senadora Daniella Ribeiro, ganhou céu de brigadeiro no que diz respeito aos processos oriundos da Operação Confraria, ainda referentes a gestões suas na prefeitura pessoense. Mas parece subjudice para a disputa vindoura por supostamente figurar na Lei da Ficha Limpa, no capítulo de reprovação de balancetes pela Corte de Contas do Estado.
Na análise fria do quadro que se esboça (sem a definição, ainda, da candidatura do esquema de Luciano Cartaxo, que tem peso na disputa em João Pessoa), Cícero Lucena largaria como favorito, beneficiando-se do “recall” da sua imagem, embora não estivesse imune a desgaste, também justamente por causa da passagem, em dois mandatos, pela prefeitura da Capital. Em última projeção, o ex-senador e sua mulher Lauremília têm influência junto a faixas do eleitorado pessoense – ela em função da repercussão do trabalho social desenvolvido, quer como primeira-dama da Capital, quer como vice-governadora na primeira gestão de Cássio Cunha Lima. Há quem afirme que Cícero esperava alguma sinalização do senador Maranhão para apoiá-lo, diante das boas relações construídas por ambos. Maranhão optou, porém, pela candidatura própria, ao atrair para os quadros do partido o comunicador do Sistema Correio que é anti-Ricardo Coutinho e se apresenta como “outsider” da política, aparentando afinidade com propostas do governo do presidente Jair Bolsonaro.
As decisões que estão sendo firmadas em torno do lançamento de candidaturas à prefeitura da Capital atestam uma aparente renovação, pelo menos em termos de nomes ou de fotografias, o que arquiva a possibilidade de embate ou confronto entre velhos caciques políticos, ainda que alguns deles compareçam com impressões digitais, disputando votos ou apoiando postulantes. A grande novidade dupla se origina do esquema do ex-governador Ricardo Coutinho. A sra. Amanda Rodrigues, que está sendo anunciada como opção-substituta, é neófita, ou jejuna, em competições políticas, constituindo-se, mesmo, em ilustre desconhecida do grande público. É com ela que Ricardo testará seu poder de fogo em meio ao desgaste ocasionado pelas denúncias da “Calvário”, bem como seus espaços reais de liderança, que, segundo opositores, eclipsaram-se com os abalos no seu perfil.
Falta o prefeito Luciano Cartaxo bater o martelo. Com a responsabilidade ou o desafio de apontar uma candidatura que possa empolgar grande parte do eleitorado, na perspectiva de continuidade de governos proativos que ele tem empalmado desde 2012 na conjuntura política-administrativa da Capital da Paraíba. A conferir!