Nonato Guedes
A campanha eleitoral de 1992 para prefeito de João Pessoa foi agitada, pela inviabilidade da candidatura da ex-deputada Lúcia Braga, substituída no páreo por Francisco Xavier Monteiro da Franca (Chico Franca), e pela ascensão do Partido dos Trabalhadores ao segundo turno, com a candidatura do deputado estadual Francisco Lopes, na primeira vez em que o PT logrou ser competitivo na Capital. Mas houve um outro episódio de repercussão na disputa: o então governador do Estado, Ronaldo Cunha Lima, praticamente cruzou os braços na disputa, mesmo com o seu partido, o PMDB, tendo candidato próprio. Ronaldo preferiu engajar-se decisivamente na disputa à prefeitura de Campina Grande, seu berço político, onde o candidato Félix Araújo foi vitorioso no duelo com Enivaldo Ribeiro, tendo derrotado outros postulantes de expressão na cidade.
O pano de fundo da atitude de Ronaldo em relação ao pleito em João Pessoa foi a divergência quanto à candidatura a prefeito. O governador-poeta tinha preferência pela candidatura do ex-deputado federal João Agripino Neto, que lhe apoiou no segundo turno da disputa ao governo em 1990, quando Ronaldo derrotou Wilson Braga num embate memorável. O apoio de João Neto, que concorreu pelo PRN (partido do então presidente Fernando Collor de Mello e do ex-governador Tarcísio Burity), contribuiu para fortalecer Cunha Lima junto a segmentos médios do eleitorado, onde o filho de João Agripino, o “mito”, tinha boa penetração. Na opinião de Ronaldo, seria uma retribuição legítima à solidariedade oportuna que recebeu em momento difícil, de acirramento político.
A pretensão do então governador esbarrou, contudo, na resistência da “ala jovem” do PMDB que postulava candidatura teoricamente mais identificada com as origens partidárias. Essa ala era comandada por dois expoentes da Câmara Municipal de João Pessoa – Delosmar Mendonça Júnior e Potengi Lucena, que conquistaram espaço devido à inação da cúpula partidária comandada pelo senador Humberto Lucena. A mobilização empreendida no seio do partido culminou com a oficialização da candidatura do advogado Delosmar Júnior, que ainda ficou em terceiro lugar, com 30.812 votos, bem distante dos dois colocados que foram para a reta final. Chico Franca ganhou no segundo turno, concorrendo pelo PDT, com 102.878 votos, contra 71.750 sufrágios atribuídos a Chico Lopes, o candidato do Partido dos Trabalhadores.
Questionado por repórteres sobre a derrota na Capital, que até então era considerada como reduto peemedebista, Ronaldo Cunha Lima foi incisivo e pragmático: “Infelizmente, não quiseram meu apoio”. O pota-governador se ofereceu para prestigiar mobilizações públicas em apoio à candidatura partidária em João Pessoa e gravou participação no Guia Eleitoral defendendo a candidatura de Delosmar. A equipe de produção da campanha do candidato peemedebista, entretanto, optou por não massificar o apoio de Ronaldo ao seu nome. Em Campina Grande, Ronaldo participou ativamente da campanha, alternando presenças no palanque e em outros eventos. Seus correligionários, confrontados com a alegação de que Félix era um “candidato pesado”, reagiam: “Mas o guincho levanta!”. O “guincho” era Ronaldo Cunha Lima, que exibiu a vitória em Campina Grande como o seu grande troféu no pleito municipal de 1992 travado nas diferentes regiões da Paraíba.