Nonato Guedes
A jornalista paraibana Rachel Sheherazade, apresentadora do telejornal SBT Brasil, que há nove anos atua no canal aberto, ainda não foi chamada pela direção da emissora para conversar sobre renovação do contrato que vence em setembro. A relação entre Sheherazade e o dono do SBT, Sílvio Santos, está desgastada há bastante tempo, como tem sido noticiado pela mídia sulista. O pivôt de divergências é a insistência da apresentadora em tecer comentários de natureza política, tendo como alvo, na atual conjuntura, o presidente Jair Bolsonaro. Sílvio Santos já deixou claro várias vezes que o governo federal é seu “patrão”, pois é quem libera concessão de serviços de rádio e TV e, pessoalmente, não admite críticas ao presidente.
Na semana passada, Bolsonaro nomeou o deputado federal Fábio Faria, genro de Sílvio Santos, como ministro das Comunicações, e justificou que uma das razões para escolher o parlamentar do “Centrão” foi a sua ligação com o renomado apresentador e dono do SBT. Versões dão conta de que duas emissoras de TV – a Band e a CNN teriam interesse na contratação de Rachel, o que não foi confirmado por fontes das respectivas direções. Em agosto do ano passado, Rachel Sheherazade foi suspensa da apresentação do telejornal às sextas-feiras e chegou a ser criticada abertamente pelo empresário Luciano Hang, dono da Havan e um dos anunciantes do canal, além de apoiador de Bolsonaro. Hang, que é investigado no inquérito das “fake news” pelo Supremo Tribunal Federal, acusou Sheherazade de “falta de patriotismo” por críticas feitas a Bolsonaro e pediu a Sílvio Santos a demissão dela.
Desde 2014, a jornalista está proibida de emitir opiniões na bancada, razão pela qual havia sido contratada quando trabalhava na TV Tambaú, em João Pessoa, uma vez que Sílvio Santos, na época, gostou de seus comentários políticos. Além de perder autonomia editorial, ultimamente, passando apenas a ler notícias já definidas previamente pela produção do jornal, Rachel Sheherazade ficou desapontada porque a promessa de um programa de entrevistas que iria comandar nunca saiu do papel. Para completar a tensão, as redes sociais de Rachel têm sido monitoradas de perto pela direção da emissora, tanto que a jornalista teve de fechar o canal que possuía no YouTube, onde tecia seus comentários e fazia críticas ao atual governo.
De acordo com informações do UOL, nos bastidores do jornalismo do SBT a aposta é que a âncora acabe na CNN Brasil. A assessoria do canal a cabo, todavia, negou interesse. Já a Band teria sondado Sheherazade e considera a hipótese de levá-la para sua equipe. A apresentadora tem um histórico de polêmicas disseminadas em redes sociais, onde é acusada de “direitista” e de ser defensora de pontos de vista conservadores no terreno ideológico. Ela é autora do livro “O Brasil tem cura”, onde analisa problemas da conjuntura nacional e aponta soluções que, a seu ver, são indispensáveis. Rachel ganhou projeção nacional e foi capa de revistas de prestígio, além de ser notícia constante na mídia.