Nonato Guedes
Em entrevista concedida ainda há pouco, direto de São Paulo, ao programa “Arapuan Verdade”, da Rádio Arapuan FM de João Pessoa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou o presidente Jair Bolsonaro de “fanfarrão”, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro de “canalha”, voltou a criticar a Rede Globo e garantiu que se não fosse o coronavírus, que impõe medidas de restrição social, estaria nas ruas desafiando os seus opositores e apresentando versões que, segundo ele, comprovam sua inocência diante de acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro que o levaram a ficar preso por 580 dias na Polícia Federal em Curitiba. As declarações de Lula foram feitas aos jornalistas Gutemberg Cardoso, Felipe Nunes, Clilson Júnior e Luís Tôrres, apresentadores do programa.
O ex-presidente reafirmou que tem admiração pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), envolvido na Operação Calvário e cumprindo sanção de uso de tornozeleira eletrônica por alegado desvio de verbas na sua gestão, em conluio com organizações sociais. Segundo Lula, Ricardo merece a “presunção da inocência” e, se lhe for assegurado o mais amplo direito de defesa, tem condições de desmontar as denúncias formuladas contra ele, a principal delas a de que chefiou uma organização criminosa à frente do Executivo, conforme declarou o Ministério Público da Paraíba. O ex-presidente não escondeu que torce por uma composição entre o PT e o PSB de Ricardo Coutinho na disputa pela prefeitura de João Pessoa, embora deixasse claro que respeita a decisão do diretório municipal petista de indicar o deputado em exercício Anísio Maia como pré-candidato da legenda na capital paraibana. Ele elogiou Anísio, frisou que ele tem qualidades para representar o petismo na disputa, mas ponderou que, se houver espaço, deve ser tentado um entendimento entre petistas e socialistas em João Pessoa, senão no primeiro turno, pelo menos no segundo turno.
Ao comentar a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, ocorrida na manhã de hoje, Lula lembrou que pesam inúmeras acusações contra ele, desde vantagens decorrentes do esquema de “rachadinha” de salários na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro a insinuações de envolvimento dele com caixa dois em campanhas eleitorais. Frisou que Queiroz “sabe de muita coisa” e espera que ele conte realmente o que sabe à Justiça, tendo assegurado, também, o direito de ampla defesa. O ex-presidente negou que seja contra o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, que está sendo encampado por líderes de outros partidos de oposição. Salientou ter consciência de que Bolsonaro tem cometido inúmeros crimes de responsabilidade na atual fase da pandemia do coronavírus e que deve ser responsabilizado pela postura omissa que tem demonstrado.
Entretanto, Lula da Silva enfatizou que cabe ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, do DEM-RJ, colocar para andar um dos inúmeros pedidos de impeachment do presidente da República que tramitam naquela Casa, avaliando concretamente se tais pedidos atendem a previstos em lei ou na Constituição. Pessoalmente, o líder petista considera que Bolsonaro não tem condições de governar numa conjuntura extremamente difícil para o país, pontuada pela crise sanitária decorrente da pandemia do coronavírus e pela crise econômica e social que, a seu ver, não é menos grave, uma vez que penaliza milhares de trabalhadores desempregados. O ex-presidente cobrou do presidente Jair Bolsonaro que, pelo menos, cumpra a determinação de pagar o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores e famílias carentes, justificando que a recessão econômica agrava consideravelmente a crise de Saúde Pública.
O ex-presidente não hesitou em afirmar que o governo de Bolsonaro comete um verdadeiro “genocídio” e lamentou que o Brasil, hoje, ostente uma péssima imagem no conceito internacional. Para Lula, o estilo “fanfarrão” de Bolsonaro tem sido evidenciado pela atitude negacionista dele em relação à gravidade da pandemia do coronavírus. “Ele não cuidou, preventivamente, da população, nem está cuidando agora, com a calamidade se agravando”, lamentou Lula da Silva. Na entrevista, o petista recapitulou episódios da campanha eleitoral de 2018, insistindo na tecla de que houve estratégia de manipulação de consciências por parte de Bolsonaro, logrando sensibilizar setores desinformados da sociedade, “a um preço muito alto para o país”. Frisou que o Partido dos Trabalhadores está acumulando forças e se reestruturando para marcar presença não apenas nas eleições municipais deste ano, mas, sobretudo, nas eleições presidenciais de 2022. Lula não confirmou, porém, adesão do PT a uma frente de oposição, ressaltando que isto não impede a confluência de posições de resistência a medidas tomadas pelo governo de Bolsonaro.