Nonato Guedes
Lançado pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores, em ambiente de consagração por ter sido praticamente aclamado na reunião virtual, o deputado em exercício Anísio Maia tem identidade com a legenda e histórico marcante em disputas internas, pugnando, por exemplo, em certo período, pela apresentação de candidaturas competitivas a partir da avaliação de que a legenda estava consolidada no Estado. Anísio chegou às fileiras do PT depois de uma passagem ativa pelo Partido Comunista Revolucionário e pelo PMDB, cujo Setor Jovem chegou a presidir. Participou da Comissão nacional que fundou o Partido dos Trabalhadores no Colégio Sion em São Paulo, ombreando com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-senador Eduardo Suplicy e um outro líder de expressão, Olívio Dutra.
Ontem, na entrevista que concedeu à Rádio Arapuan, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a militância de Anísio nas hostes petistas, ponderando, apenas, que o partido na Paraíba poderia se compor com o PSB do ex-governador Ricardo Coutinho, senão no primeiro turno, seguramente num segundo turno. Lula fez malabarismo para dar a entender que não cogita interferir na autonomia do petismo pessoense quanto a definições para o pleito vindouro, mas escancarou a sua admiração pessoal pelo ex-governador Ricardo Coutinho e a sua confiança em que este conseguirá livrar-se de acusações que lhe são imputadas pelo Ministério Público e pela Justiça paraibana, relacionadas à Operação Calvário, que trata do desvio de verbas da Saúde e Educação em conluio com organizações sociais.
Em alguns círculos políticos tem sido defendida a composição entre PT e PSB para o pleito vindouro em João Pessoa, com a ex-secretária Amanda Rodrigues, atual esposa do ex-governador Ricardo Coutinho, na cabeça de chapa. Anísio Maia seria, então, o candidato a vice. Alega-se que seria uma forma de compensar Ricardo por sua ausência do páreo como protagonista, já que em tese ele seria o candidato natural do agrupamento socialista, com a simpatia declarada de Lula e de expoentes petistas na Paraíba, se não tivesse sido envolvido na Operação Calvário. A inelegibilidade de Ricardo para a eleição de 2020 se acentua mais ainda devido à imputação pela Justiça do uso de tornozeleira eletrônica por ele, e, mais recentemente, o sequestro de bens em valores que chegam a R$ 6 milhões que teriam sido desviados no bojo da atuação de uma suposta organização criminosa apontada pelo Ministério Público do Estado. A tendência final do quadro pode ser outra com Anísio vindo mesmo a liderar a chapa tendo Amanda na vice.
Lula, notoriamente, pisa em ovos ao se manifestar sobre a conjuntura política na Paraíba por dois motivos: de um lado, há recomendação expressa sua às seções partidárias para que o PT tenha candidatos próprios a prefeitos de Capitais, como parte da estratégia concebida para a reestruturação da agremiação, abalada pelos escândalos do mensalão e do petrolão, pela prisão do próprio Luiz Inácio por 580 dias na Polícia Federal em Curitiba e pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, acusada de pedaladas fiscais pelo Tribunal de Contas da União. A grande cartada, ou seja, a cartada prioritária do Partido dos Trabalhadores, naturalmente, está voltada para a eleição presidencial de 2022, quando o PT tentará a revanche contra o presidente Jair Bolsonaro, senão novamente com Fernando Haddad, que foi o candidato em 2018, com outro nome da confiança de Lula.
A eleição municipal entra em pauta por constar do calendário e por ser uma oportunidade para o Partido dos Trabalhadores voltar a ser admitido no debate nacional, pondo fim à hegemonia que outros partidos e agrupamentos de esquerda parecem conquistar. Mas o próprio Lula da Silva tem consciência das limitações que o pleito deste ano encerra, inclusive em termos de mobilidade, devido às medidas restritivas tomadas por recomendação de autoridades sanitárias dentro do enfrentamento ao coronavírus. Foi de Lula a frase, na entrevista de ontem, de que se não fosse a pandemia de Covid-19 ele já estaria nas ruas enfrentando seus opositores, encastelados num arco que abrange Bolsonaro, a Rede Globo de Televisão, o ex-ministro Sergio Moro e até mesmo Ciro Gomes, ex-presidenciável do PDT e aliado não confiável de Lula da Silva e de outros expoentes da cúpula nacional petista. Diante de todos esses fatores, Lula, naturalmente, é cauteloso ao comentar a situação política-eleitoral em João Pessoa.
Mas certamente não fará o papelão de torpedear uma candidatura própria como a do deputado Anísio Maia apenas pela compulsão de satisfazer ambições do ex-governador Ricardo Coutinho ou massagear o ego do socialista paraibano. É o que se vai ver, daqui para frente, no andar da carruagem política-eleitoral. Anísio pode não ser o candidato ideal do PT para a sucessão de Luciano Cartaxo. Mas, certamente, não é um estranho no ninho nem um paraquedista político.