Linaldo Guedes
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Um livro que começa com a epígrafe dedicada à poesia de Augusto dos Anjos não pode ser comum. E quem acompanha a poesia de Jorge Elias Neto sabe que ele não é apenas mais um no universo poético brasileiro. É, sim, um autor que busca inventividade, inovação, sem abrir mão da tradição literária que está por trás de todo grande poeta, valorizando sempre ritmo e imagem – dois itens necessários para a construção de um ideário poético.
“Sonetos em crise” mostra isso em todas as suas páginas. A começar do primeiro poema, com versos bem no estilo augustiano:
“E nada sobra que se preze e guarde
àquele ser que se debate firme
contra uma vida que esmaga e late.
Resta o engate ao cerne da maldade,
sem esperança, se atirar ao crime,
e ser centelha no porvir da tarde”.
É de estranhamento a poesia de Jorge Elias. Quando todos querem ser inventivos à toda prova, mostrarem-se adeptos de qualquer ideário vanguardista ou qualquer modinha literária, Jorge Elias ousa e atreve-se com um livro de sonetos, a tradição mais forte da poesia no mundo. Mas como, se os sonetos estão em crise? Bom, o título apenas sugere. O bom poeta, já dizia Pessoa, é um fingidor.
Há poemas, arrisco o exagero, maravilhosos neste livro publicado pela Mondrongo. “O Coradouro Eterno” é um deles, a buscar a luz que rompe nuvens convictas. O poema que dá título ao livro é outro que lembra muito Augusto dos Anjos. “Autismo” é exemplo de poesia que lembra os grandes sonetistas do passado, como se estivéssemos diante de um poema com a elegância de Bilac e a verve de Oswald.
Em “De Profundis” constata que o homem não é o centro, mas mundanidade. Sim, somos mundanos. E por sermos assim, cabe a nós como paga reverenciar a poesia presente nos versos de “Era uma vez a utopia”:
“Deixem que os mortos testemunhem a dor,
o vibrar ensurdecedor – silêncio,
cada tambor reverberando o ócio
dos que violam o que do amor restou”.
Jorge Elias busca desvendar um estranho diálogo entre poetas. Invoca Dante, invoca Drummond, mas nem José desvenda o mistério de seus versos. Ora, se as “casas têm segredos” imagina os poetas? Aliás, que segredos existem nas páginas de “Sonetos em crise”? Vá leitor, busca esses versos de Jorge Elias que não são mais íntimos, como na epígrafe augustiana. Eles encontram-se aqui, nestas páginas. Abra e leia. O poeta deixou brechas para que possamos mergulhar em seu universo. Cabe a nós o mergulho, não a salvação.
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), mestre em Ciências da Religião e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.