Nonato Guedes, com agências
O presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem o seu novo ministro da Educação: Carlos Decotelli, oficial de reserva da Marinha, será o terceiro ocupante do comando do MEC no atual governo, depois da demissão de Abraham Weintraub e de Ricardo Vélez. De perfil mais moderado que seu antecessor, Decotelli é um acadêmico e também o primeiro ministro negro de Bolsonaro. Sua nomeação é encarada como mais um aumento de protagonismo militar no governo Bolsonaro – neste caso, particularmente, da Marinha. Durante alguns meses no ano passado, entre fevereiro e agosto, ele comandou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia ligada ao MEC que costuma ser alvo de disputas em qualquer governo por gerir um orçamento bilionário de R$ 55 bilhões em 2019 e ser responsável por financiar alguns dos principais programas de educação básica pública nos municípios, como transporte e infraestrutura escolar.
Um dos programas priorizados na época pelo fundo, o Educação Conectada, ganhou as manchetes meses depois quando a Controladoria-Geral da União apontou inconsistências em um edital de R$ 3 bilhões de um pregão para a compra de equipamentos de tecnologia educacional. Em agosto, Decotelli havia sido demitido do FNDE e alocado para a Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semespi), também no MEC. Segundo seu perfil escrito no site do FNDE, Decotelli é financista, professor e coautor de livros de administração bancária e financeira. Tem doutorado em administração financeira pela Universidade Nacional de Rosário, Argentina, e pós-doutorado na Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, também de acordo com o órgão. A Agência Brasil destacou que ele participa do governo Bolsonaro desde a transição e atuou como professor nas Forças Armadas. Também tem passagem como docente por universidades como a Fundação Dom Cabral e a Fundação Getúlio Vargas.
Até ontem, seu nome não estava entre os mais ventilados publicamente para o comando do MEC. Falava-se em Renato Feder, secretário de Educação do Paraná, que havia se reunido com Bolsonaro esta semana, e Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização do MEC. Para Daniel Cara, membro da Campanha Nacioinal pelo Direito à Educação e professor da Faculdade de Educação da USP, Decotelli “não é uma referência” no setor por ser um nome muito pouco conhecido nas discussões de políticas educacionais. Cara enxerga com preocupação o fato de Decotelli ser visto como alguém que agrade ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo temor de mais cortes de gastos orçamentários ou privatizações na educação. Por sua vez, Priscila Cruz, presidente da organização Todos pela Educação, opina que Decotelli “tem o perfil certo” para reconstruir pontes do MEC com Estados, municípios e com o Congresso, depois da polêmica gestão de Weintraub.
Weintraub foi demitido após meses de polêmicas políticas que aumentaram o desgaste do governo com outros Poderes – entre elas, a principal foi o fato de ter chamado de “vagabundos” os ministros do Supremo Tribunal Federal Federal durante a célebre reunião ministerial de 22 de abril que teve seu sigilo suspenso. Antes dele, Ricardo Vélez havia ocupado o cargo durante apenas três meses. O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM) disse desconhecer o trabalho do novo ministro da Educação, mas que ele “certamente vai ser melhor do que o ex-ministro, ou seja, melhor que Abraham Weintraub”. Segundo Maia, independentemente de ser ou não da ala ideológica do governo, é preciso ter uma “pessoa equilibrada com a cabeça no lugar” à frente do ministério. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o presidente Bolsonaro por escolher mais um militar para integrar o governo federal. Para Lula, Bolsonaro está transformando o governo “em um quartel” e não é militarizando o Estado que o país vai conseguir melhorar.