Nonato Guedes
A atriz paraibana Marcélia Cartaxo, natural de Cajazeiras, lamentou em rede social a morte da cineasta Suzana Amaral, que a dirigiu no filme A Hora da Estrela (1985), baseado no romance homônimo de Clarice Lispector. Marcélia Cartaxo interpretou o papel de Macabea e o filme foi premiado no Festival de Cinema de Berlim com o “Urso de Prata”, em 1986, além de ter tido grande repercussão junto à crítica especializada da mídia nacional. Marcélia Cartaxo escreveu a propósito da morte de Suzana Amaral: “Você me ensinou muito. Uma mulher forte, especial e que deixa um legado. Obrigado por ter entrado na minha vida, Suzana Amaral”.
A cineasta faleceu aos 88 anos, ontem, no Hospital Sírio Libanês em São Paulo. Tinha trinta e cinco anos de carreira, dirigiu documentários e programas para a TV Cultura e em 1991 lançou o longa “Uma Vida Em Segredo”, adaptação do texto de Autran Dourado, e em 2009 Hotel Atlântico, do romance de João Gilberto Noll. A roteirista veio a óbito em consequência de problemas respiratórios. Ela estava internada para exames – e divulgou-se apenas que a causa da morte não está ligada à Covid-19. A notícia foi divulgada por um grande amigo da família, o educador Paulo Portela. Muito abalada, a irmã de Suzana, a crítica Anacy Amaral, pediu a ele que fizesse a comunicação. Suzana era budista. Foi considerada uma das maiores cineastas do Brasil, a diretora que conseguiu transpor para o cinema obras literárias de extrema complexidade, como A Hora da Estrela, que projetou a paraibana Marcélia Cartaxo.
A adaptação por Suzana Amaral manteve fidelidade ao texto original mas acrescentou maior dramaticidade à história da jovem nordestina Macabéa, órfã de pai e mãe que se muda para São Paulo para ser datilógrafa e acaba atropelada por um carro de luxo. Uma reportagem de “O Estado de S. Paulo” afirma, sobre Suzana Amaral: “Só mesmo a sensibilidade de uma realizadora com uma experiência de vida singular (ela criou nove filhos) para tratar com sobriedade e respeito um clássico da literatura brasileira”. Ousada, Suzana também adaptou obras contemporâneas consideradas “intransponíveis”.