Nonato Guedes
O deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro, do Partido Progressistas, articula-se nos bastidores para conseguir apoios a uma provável candidatura a presidente da Câmara Federal, sucedendo ao atual dirigente Rodrigo Maia (DEM-RJ). A votação está marcada para fevereiro do ano que vem e Ribeiro (cuja irmã, Daniella, é senadora) tem rivais fortes pela frente, a começar pelo colega Arthur Lira (AL), líder do PP e do maior bloco parlamentar da Câmara, o “Centrão”, que reúne nove partidos e 220 deputados. Outro integrante do “Centrão” que ambiciona o posto é Marcos Pereira, vice-presidente da Câmara, um dos expoentes do Republicanos, legenda vinculada à Igreja Universal. Pereira aposta na força da bancada evangélica.
Além de Aguinaldo, Lira e Marcos Pereira, fala-se em pelo menos mais dois candidatos alternativos: Baleia Rossi, do MDB, e a ministra da Agricultura, deputada Tereza Cristina, do DEM, que é avaliada como “competente” à frente da Pasta. Alguns dos postulantes estão encrencados como réus no Supremo Tribunal Federal em razão da Operação Lava-Jato, como Aguinaldo e Arthur Lira – este foi denunciado recentemente por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República, como beneficiário de propina do petrolão. Aguinaldo Ribeiro foi Ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff (PT), e, segundo versões, espera contar com o apoio do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI) e de Rodrigo Maia para viabilizar a própria candidatura.
Uma das prioridades de Aguinaldo, conforme a mídia sulista, é conquistar o apoio de deputados que rejeitam um alinhamento com Bolsonaro. Hoje, essa bandeira de independência é rechaçada pela ampla maioria da bancada do PP, conhecida pelo estilo fisiológico que conduz a alinhamentos com governos de plantão, independente de ideologia. O próprio senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, admitiu em entrevista à revista “Veja” que a legenda tem o perfil de apoiar governos. “O nosso foco é levar benefícios aos Estados e isso só é possível se houver afinidade com o Executivo. São governos que foram eleitos pela maioria do povo”, esclarece ele, tentando justificar o posicionamento do PP. Nogueira se apresenta como dono de um perfil de centro-direita e avalia que esse perfil é muito parecido com o do presidente Jair Bolsonaro, “principalmente quando se trata de valorizar quem produz e diminuir o tamanho do Estado”.
Na mesma entrevista à “Veja”, Ciro Nogueira ponderou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi fiel aliado, “não está mais com pique de campanha – acredito que por causa da idade e pelo que ele passou”. Acrescentou que os governadores do PT não estão indo muito bem no Nordeste e disse ter tido acesso a pesquisas que mostram cidades em que o partido ganhou com mais de 70% dos votos e hoje tem cerca de 30%. “Já o presidente Bolsonaro subiu. O presidente precisa ir mais à região Nordeste porque há uma série de inaugurações de obras importantes”, frisou Nogueira. O presidente do PP repudia a pecha de fisiológico que lhe é atribuída e a outros parlamentares da legenda e do “Centrão”.
– O partido começou a votar com o governo Bolsonaro muito antes de ganhar cargos. Nunca houve um Congresso tão favorável a um governo como este. É claro que também há interesses políticos, eleitorais. Existe um vazio grande que o Bolsonaro está ocupando no Nordeste, um vazio que o PT tem deixado. Esses novos programas sociais do governo Bolsonaro deram um impulso muito grande ao presidente na região – enfatizou o senador piauiense. A influência do PP no Congresso para aprovar projetos de interesse de Bolsonaro, conforme Nogueira, foi reconhecida com a destinação ao partido de órgãos como o Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra as Secas) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujo orçamento este ano é da ordem de 54 bilhões de reais. O próprio Nogueira foi beneficiado com a liberação de 17 milhões de reais para a construção de uma ponte na cidade de Parnaíba, a segunda maior do Piauí e um dos seus redutos eleitorais. A cerimônia para celebrar o anúncio do recurso foi virtual e contou com a participação do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e de aliados da região. O prefeito de Parnaíba, ex-senador Mão Santa, do DEM, participou do evento e prometeu nomear o novo cartão-postal da cidade como “Geraldo Bolsonaro” em homenagem ao pai do presidente. Quanto à candidatura do deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, aparentemente situa-se em posição desigual perante aliados mais fiéis a Bolsonaro. Mas a sua chance não é subestimada na Casa, que já experimentou reviravoltas espetaculares ao longo de sua trajetória.