Abelardo Jurema
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Aos 15 anos, após concluído o então curso ginasial, no Colégio Acadêmico, ao lado da minha casa na Cesário Alvim, no Rio de Janeiro – com o meu pai no exílio e diante das dificuldades financeiras -, fui matriculado pela minha mãe, dona Vaninha, no Colégio Estadual André Maurois, nome que homenageava o célebre filósofo e escritor francês. Era uma escola pública, localizada no Leblon, e que impunha um novo modelo de ensino naqueles efervescentes anos 60.
Estávamos em 1967 e o País vivia período de tensão, com o regime militar implantado a partir de 1964 se fortalecendo no comando da Nação. Nos meios estudantis havia o inconformismo de uma geração que clamava por mudanças, que se insurgia contra velhos preconceitos, estimulada pela revolução cultural dos Beatles; pelo movimento hippie, do poder da flor, da paz e do amor, ao qual se juntavam os protestos contra a Guerra do
Vietnã, principal foco da rebeldia da juventude da época.
Foi naquele colégio emblemático, dirigido pela professora Henriette Amado, uma educadora que amava a sua profissão e era esposa do professor Gilson Amado, que conheci o verdadeiro conceito de ser livre. O slogan do colégio, repetido em todos os pronunciamentos de dona Henriette e pelos professores em sala de aula, era um só: Liberdade com Responsabilidade. Isso implicava que podíamos fazer o que quiséssemos, desde que fôssemos responsáveis pelas nossas atitudes.
Hoje, quando o Supremo Tribunal Federal instaura um inquérito para combater as fake news, discute-se a questão da liberdade de expressão, direito que sempre me foi sagrado, a partir do momento em que, aos 20 anos, atravessei as portas do “Jornal do Brasil” para me tornar um jornalista profissional. O direito de opinar, de comentar, de revelar matérias de interesse público é condição sine qua non ao exercício dessa profissão fascinante que exerço há 48 anos, agora de forma autônoma e independente.
Criadas como precioso instrumento democrático de interação entre as pessoas, as redes sociais fazem parte indispensável do nosso cotidiano, conferindo o direito de nos expressar, de protestar, de reivindicar, de opinar, de criticar e de nos manifestar sobre qualquer assunto. O que as torna uma atividade criminosa é o seu uso para veicular inverdades, propagar estultices e ameaças a terceiros; para intimidar, denegrir a honra alheia e destruir reputações; para se cometer o perjúrio, a infâmia e a difamação, além de outros delitos ainda mais graves e mais sórdidos.
Nesse terreno movediço e fértil para as mentes daninhas – uma arena onde se praticam barbaridades, sem respeito à lei, sem apreço pela verdade, sem critérios, sem fronteiras e sem limites – predomina o abominável ensinamento de Maquiavel: caluniai, porque alguma coisa fica.
É isso que precisa ser apurado pela Justiça. Liberdade de manifestação, para existir de fato, tem que ter assinatura, nome e CPF. Só assim será a verdadeira expressão da liberdade.