Nonato Guedes
O governo do presidente Jair Bolsonaro encaminha-se para bater recorde na indicação de ministros para as diferentes Pastas que compõem o organograma da administração federal. O Ministério da Educação é o alvo mais recente da balbúrdia que é o estilo Bolsonaro de governar, confrontado com o impasse na escolha do terceiro ocupante do cargo em pouco tempo de mandato. É uma situação lamentável porque envolve uma Pasta do chamado “núcleo estratégico”, que é desafiada a dar respostas urgentes que dizem respeito a segmentos integrantes de um universo abrangente e ao mesmo tempo complexo por envolver questões ligadas ao ensino, à formação intelectual e à Cidadania. Foi extremamente desolador para Bolsonaro constatar que o novo ministro que ele havia anunciado – Carlos Alberto Decotelli, era um “ministro fake”.
O MEC, na verdade, foi completamente bagunçado na gestão do ex-ministro Abraham Weintraub, cuja nomeação foi soletrada ao presidente pelo seu presumível guru, o astrólogo e escritor Olavo de Carvalho, um notório elemento desagregador na gestão do seu discípulo capitão. Além de carecer de embasamento intelectual para se credenciar ao exercício da Pasta, Weintraub foi omisso na resolução de problemas de interesse nacional como os do Enem, da nomeação de reitores, da liberação de recursos para universidades federais, da preparação da rede pública de educação para a convivência com os tempos difíceis de aprendizagem ocasionados pela pandemia do novo coronavírus. Ao invés de gerir o contencioso que lhe cabia, Weintraub engalfinhou-se na Babel supostamente ideológica montada dentro do Ministério com a infiltração de filhos e apaniguados do presidente da República, mais versados no manejo de “fake news” em redes sociais, mediante anabolização de instrumentos digitais, do que em domínio mínimo do que possa vir a ser uma política de Educação par o Brasil.
O ex-ministro acabou escorregando na própria armadilha em que estava enredado até o gogó – a do barulho ensurdecedor sem nexo, espécie de algaravia adrede orquestrada para desviar a atenção do equacionamento dos graves desafios educacionais brasileiros. Essa estratégia nutre-se da absoluta falta de conteúdo ou de substância, vazio de que resulta a filosofia de deixar ao léu o grande debate de questões de fundo que precisam ser enfrentadas mediante diálogo com professores e estudantes, que constituem o escopo da Educação em qualquer nação, do estágio Fundamental ao Ensino Superior de qualidade. Sobre isto, ainda agora não há um norte por parte do governo de Bolsonaro a ser seguido pela sociedade. E foi, em parte, devido à ociosidade intelectual, que Weintraub arranjou tempo para emitir opinião que acabou contribuindo para sua degola – o palpite infeliz em que chamou de “vagabundos” os ministros do Supremo Tribunal Federal e propôs a prisão deles. Tamanho despreparo custou-lhe a cabeça, por óbvio.
Eis que com o governo ainda não refeito do trauma causado pela passagem do ciclone “Abraham Weintraub” e com a Pasta da Educação entregue ao “Deus-dará” em plena crise grave porque passa o sistema institucional representativo no Brasil, o presidente saca do bolso do colete o nome de um oficial da Marinha, notável pela condição de financista da Educação – Carlos Alberto Decotelli, que adicionaria ao seu perfil a condição de primeiro ministro negro à frente do MEC. Bolsonaro estava entretido nos preparativos para dar posse em grande estilo a Decotelli quando foi surpreendido por um golpe baixo de efeitos demolidores: a descoberta de que o candidato a ministro falsificou informações incluídas às pressas no seu currículo. Apresentou-se como detentor de títulos que o credenciavam ao notório saber como Mestrado e Doutorado – e decerto não contava com os desmentidos peremptórios de universidade da Alemanha ou de Rosário, na vizinha Argentina, bem como da Fundação Getúlio Vargas, de renomado conceito.
Decotelli acabou admitindo ao próprio presidente Bolsonaro, quando por ele sabatinado sobre o que o Palácio do Planalto vinha tratando como inconsistências do seu currículo, que carecia de créditos que respaldassem a sua titulação em Mestrado e Doutorado e balbuciou desculpas esfarrapadas para tentar forrar-se com o selo prestigioso do Lates. Uma outra descoberta grave impregnou em Decotelli a pecha de “falsário”: a de que ele plagiou vastos trechos de considerações acadêmicas para tentar embasar o que viriam a ser teses de sua lavra, digressões extraídas do seu talento como Professor-Doutor. Para desapontamento do presidente Jair Bolsonaro, Decotelli era um “ministro fake” – e o governo do capitão teve que se expor a um vexame internacional que rendeu até memes nas redes sociais, o território predileto do presidente e dos seus filhos que se encobrem através de robôs para espalhar o terrorismo político.
O governo havia perdido Luiz Henrique Mandetta na Saúde e Sergio Moro na Justiça, dois nomes de peso e de receptividade na sociedade e na mídia. Enfrentou, ainda por cima, o desgaste do processo de fritura da ex-atriz Regina Duarte na Secretaria de Cultura da Presidência da República, com isto reforçando as suspeitas de que Bolsonaro não possui a mínima afinidade ou identificação com o setor que é uma extensão da Pasta da Educação. Saltam duas constatações óbvias de tantos episódios patéticos no governo que está aí; 1) ministro é o posto mais instável da gestão Bolsonaro; 2) o presidente não sabe escolher ministros, que é o requisito mínimo para poder governar. Daí a não saber governar é um passo. Isto explica porque esse governo bate tanto a cabeça.