Nonato Guedes
Um levantamento feito pelo site “Congresso em Foco” mostra que em mais de três meses da decretação do estado de calamidade pública no Brasil e com o país avançando de forma alarmante no número de casos de covid-19, a lista de autoridades públicas e líderes políticos que contraíram o novo coronavírus inclui governadores, prefeitos, ministros de Estado e parlamentares de diversos Estados e partidos políticos. Pelo menos cerca de 50 autoridades do alto escalão da política nacional já contraíram o novo coronavírus, entre elas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Nos Estados, oito dos 27 governadores já foram infectados, além do vice-governador do Distrito Federal, Paco Britto (Avante). A lista de secretários estaduais que tiveram o novo coronavírus inclui o Rossieli Soares, da Educação de São Paulo, e Edmar Santos, da Saúde do Rio de Janeiro. Dos governadores, nenhum apresentou quadros graves da doença, e alguns já anunciaram recuperação. O último a ser diagnosticado, Carlos Moisés, do PSL-SC, realizou o exame depois de apresentar sintomas como tosse, dor de garganta, dor de cabeça e febre baixa. Moisés foi criticado por ter comparecido a um evento em junho sem usar máscara. A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, esteve com o governador catarinense no último fim de semana.
Em nota, a pasta informou que a ministra e a comitiva que a acompanhou na viagem ao Estado “seguirão todos os protocolos recomendados para pessoas que tiveram contato com infectados por coronavírus. A ministra não teve agenda oficial desde quarta-feira, dia primeiro de julho. Ela se submeteu a um teste, mas o resultado ainda não foi divulgado. Caso tenha sido infectada, ela será a terceira ministra de Estado a ser diagnosticada com o novo coronavírus. Os outros dois são Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional e Bento Albuquerque, do Ministério de Minas e Energia. A advogada e tesoureira do Aliança pelo Brasil, Karina Kufa, o ex-secretário de Comércio Exterior, Marcos Troyjo e o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, também receberam diagnósticos positivos.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, chegou a se submeter a exames e a ficar em isolamento depois de um servidor com quem teve contato ter sido diagnosticado com o novo coronavírus. Entre os prefeitos de capitais, cinco dos 26 receberam diagnóstico para covid-19. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, do PSDB, de 74 anos, foi hospitalizado mas seu quadro foi avaliado como estável e ele passou a despachar do hospital. “Considero que esse encontro com o novo coronavírus era inevitável, até pela função que exerço”, escreveu ele no Twitter. Os demais chefes de prefeituras já cumpriram o período de isolamento e anunciaram recuperação. A mulher de Virgílio, Beta Ribeiro, foi igualmente diagnosticada com a covid-19, mantendo-se em isolamento social.
O “Congresso em Foco” salienta que as primeiras autoridades diagnosticadas com o novo coronavírus haviam integrado a comitiva presidencial de Jair Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos no início de março. O atual secretário-executivo do Ministério das Comunicações e ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten, foi o primeiro a receber o diagnóstico positivo. Depois de um imbróglio judicial em torno da publicidade dos exames a que o presidente se submeteu, Bolsonaro apresentou resultados que mostravam que ele não havia sido infectado. No Senado, sete dos 81 senadores tiveram covid-19, a partir do presidente, Davi Alcolumbre, que ficou afastado dos trabalhos legislativos por três semanas. Nos últimos dias foram diagnosticados com a covid-9 os senadores Jayme Campos (DEM-<T) e Carlos Flávio (PSD-MT). O Senado não revelou a quantidade de servidores diagnosticados mas sabe-se que o Secretário-Geral da Mesa, Luiz Fernando Bandeira, testou positivo em maio.
Apesar da participação dos senadores por videoconferência nas sessões da Casa, Alcolumbre, assessores e técnicos têm desempenhado o trabalho presencialmente de uma sala de comando. Na Câmara dos Deputados, ao menos 21 dos 513 deputados anunciaram contaminação pelo novo coronavírus. Na lista figuram a ex-líder do governo Joice Hasselmann, do PSL-SP e o deputado Wladimir Garotinho (PSD-RJ). Entre os deputados, apenas o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e os líderes partidários têm participado das sessões presencialmente. Os demais entram por videoconferência. Até 30 de junho foram registrados 60 casos de funcionários da Câmara acometidos pela mesma enfermidade, entre servidores efetivos e comissionados. Na cúpula do Judiciário, a assessoria do Supremo Tribunal Federal informou que nenhum ministro foi diagnosticado com a covid-19 mas não respondeu ao questionamento sobre a realização de exames pelas autoridades. Até agora nenhuma morte foi registrada entre autoridades federais, mas há relatos de óbitos de correligionários conhecidos, além de ex-parlamentares e deputados estaduais. Uma das vítimas da covid-19 foi o médico e ex-senador pelo Amapá Papaléo Paes, de 67 anos, morto no último dia 25. Em maio, o deputado estadual carioca Gil Vianna, do PSL, também morreu vítima da doença.