Nonato Guedes
O prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que este ano está concluindo o seu segundo mandato consecutivo à frente dos destinos da população da Rainha da Borborema, movimenta-se politicamente dentro da expectativa de se credenciar como candidato ao governo do Estado em 2022. A projeção nos meios políticos locais é a de que ele busca firmar-se junto ao esquema de apoio do presidente Jair Bolsonaro, com quem demonstra afinidade. Romero, aparentemente, opera como agente político livre de tutela, o que significa dizer que não se sente refém do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), embora o respeite e mantenha relações com o grupo dele. Uma dúvida entre analistas políticos é quanto a um provável confronto entre Romero e o senador Veneziano Vital do Rêgo (atualmente no PSB) pelo Palácio da Redenção, polarizando uma disputa que deve contar ainda com o governador João Azevêdo testando-se à reeleição pelo Cidadania, onde se acomodou depois de ter sido pressionado por Ricardo Coutinho a deixar as hostes socialistas. Mas a serra é campo minado, pela influência, ainda, de líderes vinculados ao grupo Ribeiro (Enivaldo, Aguinaldo e Daniella).
Veneziano, por ora, está empenhado em outra missão prioritária – a de eleger sua mulher, Ana Cláudia, prefeita de Campina, para suceder a Romero. O senador está numa posição privilegiada quanto a projetos pessoais futuros porque em 2022 ainda terá mais quatro anos de mandato pela frente no Congresso. Se julgar tático ou conveniente e se partidariamente estiver desamarrado poderá se dar ao direito de correr o risco. Isto faz lembrar conhecida história do folclore político paraibano datada de 1986: o governador Wilson Braga, às voltas com a desistência do empresário José Carlos da Silva Júnior em ser o candidato do PDS, persuadiu Marcondes Gadelha, então senador pelo PFL, a ser o candidato do esquema com o argumento pouco incentivador: “Só você pode perder”. Gadelha ainda tinha quatro anos de mandato pela frente como senador. E perdeu, para Tarcísio Burity, tornando um mau presságio o palpite soprado por Braga à guisa de convencimento.
Na linha do tempo que se descortina para 2022, Veneziano terá que priorizar a eleição municipal deste ano em Campina Grande como ilustrativa do seu potencial de liderança política e de espaço no segundo colégio eleitoral do Estado. Uma vitória da esposa, Ana Cláudia, pode anabolizar seu prestígio ou densidade e criar entre correligionários um estado de espírito favorável a uma candidatura dele ao Palácio da Redenção. Mas pode ocorrer de Veneziano, uma vez vitorioso na demanda pela prefeitura, esquecer ambição pelo governo estadual no curto prazo. Em qualquer circunstância, ele ainda será chamado a resolver um problema sério – o da permanência no PSB, onde o ex-governador Ricardo Coutinho, teoricamente, dá as cartas. O que se diz é que Coutinho, embora atualmente complicado na Justiça, devido às chamas oriundas da Operação Calvário, não deixa de sonhar com o tri, até como forma de revanche contra João Azevêdo, de cuja vitória em 2018 considera-se o grande fiador.
O leitor mais afoito deve estar se indagando qual é o recorte, nesse desenho, talhado para o ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima, que se recolheu depois da derrota ao Senado em 2018. Cássio é a grande incógnita. Quando inventei de teorizar, em artigo que já demanda alguns meses, que a disputa à prefeitura de Campina este ano seria a chance para a reabilitação de Cássio em alto estilo, ele redarguiu que se tratava de uma teorização abstrata, assegurando que nem de longe cogitava a hipótese. Os fatos, até agora, estão lhe dando razão, confirmando a sua assertiva de recuo do protagonismo político, com a passagem de bastão a outros atores, como o prefeito Romero, a quem delegou a coordenação do processo eleitoral de 2020 em Campina Grande. E cumpre lembrar que uma outra força política está ativa na serra: a dos Ribeiro, representada pela senadora Daniella, pelo deputado Aguinaldo (que, inclusive, corteja a presidência da Câmara Federal) e pelo vice-prefeito Enivaldo, que preside o Progressistas no Estado. Não é agrupamento a ser subestimado.
É sempre temerário expender prognósticos para daqui a dois anos quando o ciclo das urnas de 2020 ainda nem assistiu à abertura da temporada e quando o cenário ainda está nebuloso diante de rostos invisíveis que, de repente, podem tirar a máscara nas convenções decisivas a serem acionadas em novo calendário de emergência, adaptado pela Justiça Eleitoral aos tempos de pandemia do novo coronavírus. Mas a “incógnita Cássio” reclama decifração. Direto ao ponto: o ex-governador e ex-senador, herdeiro do poeta Ronaldo Cunha Lima, está propenso a jogar em definitivo a toalha da política, ou ainda alimenta expectativas num território em que foi bem-sucedido, apesar das derrotas consecutivas ao governo em 2014 e ao Senado em 2018? Cássio passa a impressão de desencanto com a política e de aposta na sua “reinvenção” em outros campos, aproveitando a dinâmica da vida. Mas para sair de cena terá que deixar clara e cristalina essa decisão. Não se pode nem insinuar que Cunha Lima procura ganhar tempo, face à suspeita de que tempo é o que ele não tem mais para a política.
Antigamente, quando havia jornais impressos a granel na Paraíba, articulistas experimentados disseminavam que o meridiano da sucessão ao governo da Paraíba passava inexoravelmente por Campina Grande, pelo peso que a cidade representa, sob todos os aspectos. Pelo menos essa premissa está mantida, salvo fatores excepcionalíssimos que derrubem o figurino assaz alardeado. Quanto ao mais, talvez seja cedo para teorizar. O tempo das mídias digitais não acolhe ”fontes luminosas” ou prognósticos que estão mais para achismos do que para evidências solares…