Nonato Guedes
Não cabe censura ao governador João Azevêdo (Cidadania) por decidir não esperar o fim da pandemia do novo coronavírus para deflagrar o novo ciclo de investimentos na economia da Paraíba. A expectativa é que em pronunciamento agendado para hoje o chefe do executivo venha a anunciar investimentos na ordem de quase R$ 800 milhões com obras e serviços em diferentes regiões do Estado. A bem da verdade, ressalte-se que a gestão paraibana demorou para agir, certamente intimidada com a incógnita sobre o controle dos casos de covid-19 e pressurosa por cercar-se de todas as garantias minimamente possíveis para começar a normalizar o aquecimento da economia.
É bastante grave a responsabilidade do poder público no contexto atual em que há indícios de explosão de casos da doença, deslocando-se, de forma espacial, por regiões do interior do Estado. Mas o Estado não pode ficar indefinidamente refém de uma situação de paralisia quanto a outras prioridades, além da prioridade máxima, número um, que é o enfrentamento à pandemia do coronavírus. O esforço ingente das autoridades de Saúde Pública para salvar vidas e deter a disseminação incontrolável dos casos de covid-19 pode perfeitamente ser conciliado com a retomada de atividades comerciais e a geração gradativa de investimentos, contemplando segmentos que estão profundamente asfixiados devido às restrições impostas.
O agravamento alarmante do desemprego, somado à falta de perspectivas que vinha se desenhando quanto à sorte dos setores produtivos, aparentemente condenados à inação ou ao imobilismo por tempo indeterminado, não é um desafio menor no panorama geral das dificuldades derivadas da eclosão da pandemia. Há gente morrendo de fome, há gente ociosa, há situações estarrecedoras de vulnerabilidade social e econômica, compondo um caldo de cultura que pode vir a detonar reações explosivas de excluídos ou marginalizados que já não alimentam esperança nenhuma porque o infortúnio bate à porta e não espera pela boa vontade de ninguém, por algum rasgo de sensibilidade dos que têm obrigação de oferecer respostas, até porque são detentores dos instrumentos que podem tornar exequíveis as soluções reivindicadas, sem falar que estão sendo contemplados com generosos recursos liberados pelo governo federal e por outras fontes.
Tem sido constante a mobilização de lideranças empresariais, comerciais, políticas e produtivas para a elaboração de planos emergenciais capazes de possibilitar a sobrevivência na convivência com a pandemia inevitável. No dizer do governador João Azevêdo, cuja formação técnica lhe confere domínio da realidade econômica-industrial do Estado e cuja sensibilidade parece ter sido despertada em face do clamor generalizado advindo de setores da opinião pública, “temos que nos moldar às novas condições de convivência e impulsionar setores que não vão parar”. Mencionou, nesse contexto, em declarações nas últimas horas, a construção civil, a agricultura familiar, agronegócios e a indústria. O planejamento racional que está sendo concebido, respeitadas as rigorosas recomendações médicas e normas sanitárias preventivas ao contágio pelo coronavírus, tem como corolário a efetiva e rápida geração de empregos porque, do contrário, vai se criar uma situação insustentável, de consequências imprevisíveis, para a qual nem o governo do Estado nem prefeituras nem outros órgãos públicos terão alternativas concretas, efetivas e eficientes.
Também a partir desta segunda-feira o transporte público de João Pessoa volta a funcionar com 60% da frota, de segunda a sábado, das 16hàs 19h, não havendo circulação de ônibus aos domingos e feriados. A decretação desse “novo anormal” demandou exaustivas discussões, das quais foi extraído o consenso de adoção de providências máximas de segurança. Sabe-se, pelo monitoramento de pesquisas informais, que há controvérsia sobre a volta do transporte público porque isto implica, fatalmente, na reabertura de atividades comerciais, ainda que aquelas catalogadas como essenciais no roteiro das bandeiras estabelecidas pelo governo do Estado com a prefeitura. Qualquer movimento que se faça na Capital, de avanço ou recuo, é preocupante porque João Pessoa concentra uma região metropolitana expressiva e além do mais é uma espécie de escoadouro de atendimento médico-hospitalar de urgência a pacientes transportados das mais longínquas localidades de regiões da Paraíba. Mas não tem sentido deixar tudo fechado durante todo o ano de 2020 – nesse caso, o mais prático seria decretar 2020 como um ano perdido, que não existiu no calendário.
Conviver com a pandemia é uma necessidade. E isto passa a se constituir em palavra de ordem que tende a se massificar de agora por diante. É um fenômeno que não tem pioneirismo em João Pessoa – calcula-se que pelo menos 16 Capitais de Estados brasileiros estão no rol das localidades que buscam se adequar à nova realidade, desafiando os obstáculos e espinhos no meio do caminho. Apesar da controvérsia, ditada mais pelo receio do que pela discordância, a imperiosidade da convivência redobra a responsabilidade dos poderes públicos. Mas eles estão aí para isto mesmo – para demonstrar liderança, eficiência e proatividade em momentos de crise. De grave crise.