Nonato Guedes
A presidente da Federação Paraibana de Futebol, Michelle Ramalho, ficou surpresa com a denúncia feita no programa “Esporte Espetacular”, da TV Globo, de que dois de seus dirigentes utilizaram de forma irregular do benefício do auxílio emergencial concedido pelo governo federal a pessoas em situação de vulnerabilidade na atual fase de calamidade causada pelo coronavírus. Em nota divulgada, a presidente da FPF diz que não pode ser responsabilizada por atos individuais de seus colaboradores e que não compactua com nenhuma irregularidade. Michelle Ramalho cita, ainda, que tem compromisso com a recuperação da credibilidade do futebol paraibano, “que constantemente é atacado por organizações e pessoas que tentam relacionar o nome desta Federação com fatos negativos”.
A reportagem da Globo mostrou que a vice-presidente da Federação, Thalyta Gomes, neta de Rosilene Gomes, ex-presidente da FPF por mais de 20 anos, recebeu auxílio emergencial mesmo sendo herdeira de empresas da família e tendo um micro-ônibus em seu seu nome. Em resposta ao “Esporte Espetacular”, Thalyta Gomes afirmou ter solicitado o auxílio dentro dos parâmetros legais, mas que, para evitar dúvidas e discussões, vai devolver o dinheiro recebido. Outro acusado, Gerson Júnior, é diretor de registros na Federação e possui três veículos em seu nome. Ele confirmou ao “Esporte Espetacular” que recebeu o auxílio mas desligou o celular ao ser questionado sobre o recebimento mesmo sendo dirigente da FPF.
A Controladoria Geral da União tem detectado cadastros ilegais de pessoas – inclusive mulheres de políticos em várias regiões do país que não se enquadram no perfil de pessoas carentes da verba de R$ 600 (R$ 1.200 para mães solteiras) e está cobrando a devida reparação. O próprio Tribunal de Contas da União determinou que o Ministério Público Federal investigue as irregularidades no recebimento do auxílio e deflagre ações criminais contra fraudadores. Em todo o país já teriam sido localizados por órgãos fiscalizadores mais de 600 mil cadastros irregulares, com prejuízos da ordem de R$ 1 bilhão, sendo mais de dois mil beneficiados na Paraíba. Na lista dos beneficiários indevidamente na Paraíba constam duas irmãs do jogador Hulk, um dos atletas mais bem pagos do mundo e que atua, presentemente, no futebol chinês. Givanilda Vieira de Sousa recebeu R$ 1.200 enquanto Gilvânia Vieira de Sousa foi beneficiada com o auxílio de R$ 600. As irmãs de Hulk, não obstante, ostentam viagens e compras no exterior, além de patrimônios imobiliários de médio e alto padrões. Hulk, que foi inteirado do assunto pelo seu assessor de imprensa, disse não ter ficado nada satisfeito com a atitude. “Não gostei, pois sempre ajudei toda minha família”, frisou.
O jogador, mesmo visivelmente contrariado, deixou claro, em declarações à mídia nacional, que “cada um é responsável pelos seus atos”. O caso envolvendo as irmãs de Hulk teve ampla repercussão na imprensa e levou-o a reclamar junto a suas irmãs. Nem o maior clube de futebol da Paraíba – o Botafogo de João Pessoa, escapou do desgaste pelo envolvimento de jogadores com o recebimento do benefício do auxílio emergencial. Pelo menos três atletas do elenco – Jean, Rodrigo e Hian, receberam duas parcelas do auxílio emergencial indevidamente. Dois deles informaram que não sabiam que não tinham direito e devolveram o dinheiro. Diante da repetição das denúncias, os órgãos de controle e fiscalização prometem reforçar um “pente fino” no cadastro de beneficiários do auxílio emergencial e coibir irregularidades.