Nonato Guedes, com agências
Na contramão do presidente Jair Bolsonaro, que nas últimas horas atenuou críticas a governadores e reconheceu empenho deles nas ações de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, a Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do governo federal, médica Mayra Pinheiro, culpou governadores e prefeitos de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará pelas mortes por coronavírus que aconteceram em suas regiões. Citando estatísticas referentes aos casos fatais da covid-19, a Secretária enfatizou: “Todas essas mortes evitáveis deveriam ser colocadas sob responsabilidade dos governadores, prefeitos, secretários de saúde e instituições desses Estados, que impediram ou dificultaram o acesso às medicações para tratamento da doença”.
Bolsonarista fanática, Mayra ganhou projeção no Ministério da Saúde por defender o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, uma obsessão do presidente Jair Bolsonaro. Sem eficácia comprovada e com efeitos colaterais graves, o remédio tem sido desaconselhado pelas principais autoridades de Saúde de todo o mundo. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde interrompeu estudos e os Estados Unidos interromperam a utilização. Bolsonaro, por sua vez, forçou a mudança de protocolo no Ministério da Saúde para o uso até em casos leves, e agora que diz estar contaminado com coronavírus, publicou vídeo fazendo propaganda da medicação.
Mayra ficou famosa na política atacando os médicos cubanos do programa Mais Médicos. Foi flagrada mais recentemente em áudios onde planeja uma intervenção do governo Bolsonaro na Fundação Oswaldo Cruz. Ela chegou a dizer que a FioCruz tem um pênis na porta e salas com imagens de Lula e Che Guevara, o que foi considerado “um delírio” pelo site “Revista Forum”, que acusou a médica, também, de “paranoica”. Os confrontos de Bolsonaro com governadores têm sido constantes, intercalados por recuos, que geralmente ocorrem quando o seu governo está bastante desgastado e enfraquecido. Nas últimas horas o presidente entrou na linha de tiro de setores da sociedade com a sua própria revelação de que foi diagnosticado com o coronavírus. Ele resolveu fazer um aceno conciliatório para gestores que, conforme reconheceu, estão sendo proativos na tomada de soluções para enfrentamento à pandemia.
Para complicar a situação do presidente, ontem o Facebook anunciou ter derrubado uma rede de contas e perfis falsos ligados a integrantes do gabinete de Bolsonaro, a seus filhos, ao PSL e aliados. Foram identificadas e removidas 35 contas, 14 páginas e um grupo no Facebook, além de 38 contas no Instagram. O material investigado pela plataforma identificou pelo menos cinco funcionários e ex-auxiliares que disseminavam ataques a adversários políticos de Bolsonaro. Nessa lista está Tercio Arnaud Thomaz, que é assessor do presidente e integra o chamado “gabinete do ódio”, núcleo instalado no terceiro andar do Palácio do Planalto. A existência do “gabinete do ódio”, que mantém um estilo beligerante nas redes sociais e é comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” em setembro do ano passado.