Linaldo Guedes
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Um E-Book que reúne cantigas do Xirê da Nação Kety Transliteradas ao português brasileiro. A obra, de autoria do babalorixá Caetano de Oyá e do professor Daniel Dantas, foi baseada nas vivências da comunidade 𝐈𝐥ê 𝐀𝐱é 𝐀𝐟𝐨𝐧𝐢𝐟𝐨𝐣𝐢 𝐀𝐟𝐞𝐟é 𝐎𝐲á 𝐌𝐞𝐬ã𝐧 𝐎𝐫𝐮𝐧, casa de candomblé situada em João Pessoa. O E-Book pode ser adquirido pelo seguinte link: https://mega.nz/file/XOgCjAjC#Rcwz2E6A6swT4xL6eO7q0QYnBo2zLJ769Kswhq1OjV0
“O Candomblé é uma expressão religiosa de matriz africana que traz em suas raízes um diálogo entre a natureza e os antepassados. Relativo às cerimônias o ritual do Xirê é uma das formas a que os orixás remetem sua saga mitológica na terra, motivados por ritmos, músicas, cantos e vestimentas. Tudo isso com as expressões dançantes e passos coreografados atrelados a atos corporais. Dessa forma, o Xirê apresenta-se como uma manifestação social, cultural e religiosa de uma comunidade com a sociedade, configurando-se, pois, em elocução de manutenção, tradição e união, afirma o Babalorixá Caetano de Oyá, um dos autores.
O objetivo primordial do trabalho é facilitar o aprendizado das quase 300 cantigas disponíveis no E-book. Segundo os autores, diversos fatores são preponderantes para a importância desse trabalho.
Primeiro, explicam, o trabalho começa de forma educativa para os membros da Egbé (comunidade interna da Casa), e vai ganhando forma e identidade, o que culmina nesse trabalho que leva informação e conhecimento sobre os oríns (cantigas de xirê) para dentro e fora do Axé.
Segundo, o trabalho dá voz ao povo de axé. “Muitas das vezes, acontece em que a comunidade cientifica faz uso do saber ancestral, lógico que muitas dessas vezes com a nossa permissão, mas esse trabalho tem um gostinho de ser nosso, produzido pelo povo de terreiro e o nosso lugar de fala fica muito bem aguçado e delimitado”, declara Caetano de Oyá.
Por fim, o E-book não é um marco apenas da comunidade, muito menos uma forma de ditar regras e normas diante das cantigas de Candomblé ketu. “É um recurso para o nosso povo de terreiro, que tem a sua oralidade como fundamental para a transmissão do saber”, acrescenta.
Daniel Dantas acentua que o registro escrito da tradição oral repassada pelos mais velhos foi realizado por meio da estratégia de adequação fonética conhecida por transliteração, processo que consiste na inclusão do alfabeto latino, composto por vinte e seis letras, além de outros caracteres para aproximar ao som que é produzido na língua de origem – neste caso, o Iorubá. Essa estratégia facilita a aprendizagem de uma determinada comunidade religiosa e é imprescindível para a compilação e registro escrito às futuras gerações.
“As expressões da herança africana no Brasil estão espalhadas em muitas manifestações, a exemplo do Iorubá, idioma pertencente às línguas do Sudão, preservado em nosso país pelas comunidades candomblecistas que, para atender demandas de ordem fonética, vem sendo adaptado na oralidade e escrita. Essas adaptações se justificam pela necessidade de produção dos sons da língua que, em situações de realização concreta, são incorporadas a fonemas usados na produção de sons da Língua Portuguesa falada no Brasil. Na escrita, quando a língua Iorubá precisa ser representada no Português Brasileiro, a sonoridade da língua original é mantida ao máximo, embora leve em consideração os sotaques regionais e a transmissão repassada pela articulação fonética dos mais velhos”, completa Daniel.
Sobre os autores:
Daniel Dantas é professor da Rede Estadual de Educação da Paraíba. Mestrando em Letras (UFCG), especialista em Linguagem e Ensino (FASP). Graduado em Letras (UFCG), graduado em Pedagogia (FASP), pesquisador em Folclore Brasileiro e Patrimônio Cultural, tradutor e intérprete espanhol. Ator, diretor e dramaturgo, criador de conteúdo digital educacional.
Caetano Silva é mestrando em Ciências das Religiões (PPGCR-UFPB) e Bolsista CAPES. Bacharel em Administração (UNINASSAU-JP), técnico em Arquivo (UFPB), graduando em Arquivologia (UFPB), membro do Grupo de pesquisa sobre religiões mediúnicas e suas interlocuções Raízes (UFPB/CNPq) e pesquisador em Ciência da Informação, Memória, Cultura, Religiosidade, Religiões Afro- brasileiras e Humanidades
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), mestre em Ciências da Religião e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.
Bom dia, existe ainda ou áudios disponíveis dos xires, seria possível o compartilhamento?