Nonato Guedes
Nas últimas declarações à imprensa, abordado sobre cenários políticos para a eleição à sua sucessão, o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), descartou a hipótese de surpresa quanto a nomes ou postulações dentro do seu esquema, que se espalha por legendas periféricas acopladas ao poder municipal. O script é o mesmo que foi entoado por Cartaxo durante todo o ano de 2019 e já nos primeiros meses de 2020: o candidato a ser apoiado por ele será originário das hostes do PV. E, a dados de hoje, abstraindo fatores excepcionais, a escolha recairá entre quatro secretários municipais que se desincompatibilizaram dos cargos a quatro de junho, ficando disponíveis para atenderem a uma convocação.
O pelotão cogitado para a disputa à prefeitura é formado por três mulheres e um homem: Daniela Bandeira, ex-Planejamento, Socorro Gadelha, ex-Habitação, Edilma Freire, ex-Educação e Diego Tavares, que foi titular da pasta do Desenvolvimento Social. Na avaliação recentíssima de Luciano, os quatro estão nivelados na capacidade e na confiança para representarem a continuidade do projeto de gestão empalmado por ele desde o primeiro mandato, a partir de 2013, e que, na leitura de Luciano, tem repercussão positiva junto a segmentos influentes do eleitorado, de que constituem prova os altos índices de aprovação conferidos à administração titulada por ele. Ressalte-se que, no segundo mandato, Cartaxo incorporou outros desafios e novas propostas de crescimento da Capital da Paraíba, mas sem perder de vista a filosofia por ele idealizada, que pode ser resumida no compromisso com o salto de qualidade do aglomerado urbano pessoense.
Também cabe o registro do desafio especialíssimo com que a administração teve de se deparar na segunda etapa – o difícil enfrentamento à pandemia do coronavírus, em ações articuladas de forma a evitar a disseminação do contágio, com o recurso a medidas de isolamento social, alternadas com picos de flexibilização das atividades comerciais ou econômicas em geral. Essa conciliação buscou levar em conta a realidade paralela vivenciada em plena pandemia, de demissões em massa e de focos alarmantes de desemprego, no bojo da paralisação de atividades geradoras de emprego e renda no território de João Pessoa. De resto, o combate ao coronavírus tem sido um teste inesperado não apenas para gestores municipais, mais diretamente envolvidos na eleição de 2020, mas também para governadores de Estados e para o presidente Jair Bolsonaro.
A ausência de fato novo extraordinário no processo político-partidário com vistas à eleição de prefeito, no que tange a candidaturas ameaçadoras ou desestabilizadoras do “status quo”, tem dado ao prefeito Luciano Cartaxo e seu esquema uma posição relativamente confortável no cenário sucessório, sem a necessidade de desgaste na confecção de “Plano B” ou hipóteses alternativas decorrentes de abalos sísmicos no contexto político. Fator complicado para o alcaide seria, por exemplo, a formação de uma frente ampla de esquerda em torno de uma eventual candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho à prefeitura que já ocupou. Essa perspectiva está afastada – e a própria ameaça de candidatura de Ricardo perdeu terreno com sucessivas denúncias formuladas contra ele no bojo da Operação Calvário, de forma que RC aposta em solução doméstica para “honrar a firma” na disputa, sem efeito devastador ou demolidor no processo que se ensaia.
A posição confortável em termos de tática ou de estratégias para o confronto nas urnas não quer dizer que, por antecipação, o esquema do prefeito Luciano Cartaxo está fadado à vitória nas eleições remarcadas pelo TSE para novembro em dois turnos. Entre os quatro nomes colocados na mesa do atual prefeito há falta de densidade eleitoral comprovada ou de favoritismo na largada. Também é certo que não devem ser subestimados outros postulantes, como o ex-prefeito Cícero Lucena, que ensaia retorno à edilidade vestindo novo figurino partidário, modelado nas franjas do PP da senadora Daniella e do deputado Aguinaldo Ribeiro. O MDB chega com um fenômeno da comunicação radiofônica, Nilvan Ferreira, que pode surpreender – para mais ou para menos, tal como se define o perfil das pesquisas de intenção de votos, com suas oscilações em torno de candidaturas e de preferências de fatias significativas do universo do eleitorado credenciado. Em resumo: vai ter disputa, sim. Com direito a suspense e emoção, mesmo com todo mundo contido em face dos transtornos da pandemia.
O prefeito Luciano Cartaxo e seus liderados vão apostar fichas na unidade do esquema, tornando-o impermeável a manobras diversionistas exploradas por adversários políticos, no discurso da necessidade de continuidade da gestão, pelas mudanças operadas na estrutura espacial de João Pessoa, e, por último, no fenômeno de transferência de votos, sempre uma incógnita, mas nem por isso descartável, justamente pela possibilidade de vir a prosperar conjunturalmente. Pode-se alegar que Cartaxo faz uma aposta de risco. Para ele e para seus aliados, tal hipótese é plenamente considerada. Mas, no contraponto, também são consideradas as credenciais que o esquema por ele liderado julga ter para se habilitar a um triunfo nas urnas em novembro. A conferir!