Nonato Guedes
Interlocutores do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), vazaram para repórteres que é excelente a relação mantida, de gestor para gestor, com o governador João Azevêdo (Cidadania), apontando, mesmo, que tem havido uma fina sintonia entre ambos na atual fase de enfrentamento à pandemia do coronavírus, que impõe ações conjuntas como a melhor estratégia para combater a doença e fazer valer medidas restritivas de mobilidade social para não facilitar a disseminação do contágio por Covid-19. Essa é uma realidade que tem sido detectada a olho nu por segmentos da sociedade pessoense, com repercussão no resto do Estado, onde alguns gestores nem sempre se afinam com a linha adotada pelo governo estadual e, não raro, judicializam decisões firmadas, por exemplo, sobre a flexibilização de regras de isolamento social.
A relação institucional entre Cartaxo e Azevêdo desperta, inevitavelmente, especulações sobre aliança política entre os respectivos esquemas na disputa eleitoral à sucessão de Luciano em João Pessoa este ano. Poderá ocorrer uma aliança pontual, como outras que já foram feitas, a exemplo da que foi celebrada em 1985 entre o esquema do então governador Wilson Braga (PDS) e o PMDB, em apoio à candidatura de Carneiro Arnaud, resultando vitória que não teve desdobramento no plano estadual (já em 86, Braga e o PMDB se confrontaram). O prefeito Cartaxo repetiu, ontem, que é homem de diálogo e não tem dificuldade para conversar com líderes políticos ou expoentes partidários que se afinem com o projeto administrativo executado há quase oito anos na Capital e que, na sua visão messiânica, “tem dado certo”.
Há algumas convergências entre o governador João Azevêdo e o prefeito que conclui sua passagem pela edilidade pessoense. Ambos comandam partidos com autonomia plena, em que não dividem espaços senão com membros dos respectivos grupos. Luciano assenhoreou-se do PV e dá as coordenadas gerais mas reparte decisões com o irmão gêmeo Lucélio, que é presidente do diretório municipal em João Pessoa e emissário de plena confiança para entendimentos políticos. Azevêdo, depois que conseguiu sair das ilhargas do ex-governador Ricardo Coutinho no Partido Socialista Brasileiro, testa-se como chefe partidário no “Cidadania”, agremiação nova no cenário atual, embora derivada de costelas de partidos preexistentes. No “Cidadania”, o governador que se elegeu com apoio decisivo de Coutinho em 2018 aboletou pessoas de extrema afinidade, que agem como tarefeiras na missão de organizar uma legenda neófita em termos de rótulo e desempenho na conjuntura paraibana.
Há quem obtempere que outro ponto em comum entre Cartaxo e Azevêdo seria a orfandade de candidaturas eleitoralmente fortes nos dois grupos políticos para competir com outros nomes que estão se insinuando no páreo e tentando sensibilizar parcelas da opinião pública. A comparação sobre orfandade não é de todo procedente. O esquema de Cartaxo não apresenta, realmente, nomes de pré-candidato(a)s que já foram testados nas urnas com louvor – na verdade, há um leque de quatro postulantes neófitos em torno dos quais gravita a escolha a ser anunciada pelo alcaide no momento que achar conveniente. Mas, apesar da aparente falta de expressividade de nomes como Diego Tavares, Socorro Gadelha, Edilma Freire e Daniela Bandeira, paira o mito da influência da gestão comandada por Cartaxo e do poderio da máquina por parte de quem a pilota em plena disputa.
Já o esquema de Azevêdo não teve tempo, sequer, de forjar nomes de grande densidade em condições de decidir a parada na primeira oportunidade em que o “Cidadania” marca presença. Os nomes que são cogitados destacam-se por qualificação técnica-administrativa e por estarem habilitados a dispor de cacife político, por identificação com a atividade e sintonia com o projeto de poder que Azevêdo foi chamado a assumir desde que Ricardo, o antecessor, tentou defenestrá-lo da ocupação de espaços, protagonizando movimentos para expulsá-lo das franjas do PSB, com tal ímpeto que o sucessor se tomou de amor próprio e da obstinação de construir alternativa autóctone na realidade de poder da Paraíba. Com a vantagem, até agora, de não estar sofrendo o infortúnio que Ricardo experimenta ostensivamente devido às suas implicações em teias ainda não totalmente visíveis da Operação Calvário.
Uma aliança na disputa à prefeitura de João Pessoa seria tática e conveniente, eleitoralmente, tanto para Cartaxo, como para João Azevêdo, propiciando somatório ou junção de forças num ambiente que se prenuncia pulverizado no primeiro turno, com pletora de candidatos atropelando-se nos debates e se esforçando para serem melhores que os adversários e com uma situação atípica decorrente da pandemia do coronavírus. A costura da coligação Azevêdo-Cartaxo tem tudo para ser viável, desde que acatada uma condição sine-qua-non para o grupo do prefeito: indicar cabeça de chapa na composição arranjada para a emergência de uma disputa ainda imprevisível. Se houver concordância e habilidade, o pacto será favas contadas.