Nonato Guedes, com agências
Alvo de 48 pedidos de impeachment, nos quais é acusado de crimes de responsabilidade, o presidente Jair Bolsonaro desdenhou, ontem, em contato com apoiadores no Palácio do Alvorada, em Brasília, das ações movidas contra ele. Salientou, enfaticamente, que os votos que o elegeram valerão 2022, dando a entender que não teme consequências dos pedidos protocolados. “A gente acredita em vocês, vocês estão aqui no coração, fazem movimentos democráticos para exatamente mostrar que o voto de vocês de 2018 vai valer arte 2022”, disse, acrescentando, em tom de ironia: “Quer trocar? Troque nas urnas”.
Os pedidos de impeachment estão protocolados na Câmara à espera de uma decisão do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) sobre pautar ou não alguns dos requerimentos. Rodrigo Maia tem sido extremamente cauteloso e até o momento não deu seguimento a nenhum dos pedidos formulados, um dos quais reúne signatários ilustres como o cantor Chico Buarque e figuras do meio empresarial e intelectual do país. Entre outras coisas o presidente é acusado de não agir corretamente quanto à adoção de medidas de enfrentamento ao coronavírus no país, apesar da gravidade dos casos da doença que aumentam a cada dia. Bolsonaro foi acometido de covid-19 e permanece em sua residência oficial em Brasília.
Ontem, ele caminhou até o espelho d’agua para conversar com apoiadores que se aglomeraram do lado de fora do Palácio, muitos deles sem máscaras. “No momento, estou num bom relacionamento com o Parlamento, mas a renovação é natural, até para o cargo de presidente”, frisou Bolsonaro. Nos meios políticos, afirma-se que parlamentares do “Centrão”, estimulados pelo presidente da República, articulam uma candidatura para derrotar Rodrigo Maia, que vai postular a reeleição ao comando da Casa. O resultado de uma disputa no próximo ano à presidência da Câmara é imprevisível a dados de hoje. O presidente da República também voltou a criticar o projeto de lei sobre fake news aprovado pelo Senado e atualmente tramitando na Câmara. “Pode ter certeza que não vamos perder nossa liberdade de expressão. Essa mídia livre foi que elegeu o presidente, que com certeza vai se reeleger de novo”, disse, ao comentar que o PL não será aprovado pelos deputados.
Bolsonaro segurou uma caixa de hidroxicloroquina, medicamento defendido por ele no tratamento da covid-19, mas sem eficácia comprovada. Ainda aos apoiadores, declarou que o Brasil está mudando. “Temos uma excelente equipe de ministros a começar pelo da Saúde, que está dando certo, e aos poucos vamos construindo o futuro do Brasil”, afirmou, se referindo ao ministro interino, o general Eduardo Pazuello. O presidente afirmou que se o Aliança Democrática, partido que resolveu formar mas que não avançou, der errado, terá uma opção para 2022, bem diferente de 2018, mas não entrou em detalhes. Ele foi eleito concorrendo pelo PSL, mas deixou o partido em meio a acusações sobre irregularidades e possível lançamento de candidaturas laranjas nas eleições passadas.