Nonato Guedes
Foi meteórica a passagem do arquiteto José Luciano Agra Oliveira pelo cenário político paraibano, especialmente em João Pessoa, mas marcante o bastante para contribuir para decidir uma parada renhida nas urnas à prefeitura da Capital em 2012. Agra estava no pleno exercício da prefeitura, a que ascendeu com a renúncia de Ricardo Coutinho em 2010 para concorrer ao governo do Estado, saindo vitorioso. No pleito de 2012, Luciano resolveu testar-se como cabeça de chapa nas hostes do PSB, partido dominado ainda hoje por Coutinho. Bateu de frente com a resistência de Ricardo, que moveu céus e terras para derrotá-lo em prévia interna, logrando o feito, com a aclamação, pelos socialistas, do nome da jornalista Estelizabel Bezerra para ser a candidata dos “girassóis”.
Aparentemente sem fichas no jogo, escanteado de forma traiçoeira pelo líder que o atraíra para a militância política, Luciano Agra foi convencido por amigos fiéis a dar o troco e desafiar a prepotência política de Ricardo, que se considerava, então, arauto de uma nova realidade política na Paraíba, com perspectivas de liderança hegemônica por um longo tempo. Agra desfiliou-se, então, do PSB e pontuou, em carta aberta dirigida aos pessoenses e paraibanos as razões pelas quais tomaria outro rumo na conjuntura, preservando sua integridade pessoal. O novo rumo equivalia a uma reviravolta: ele declarou apoio ao então deputado Luciano Cartaxo, que se anunciara candidato à sucessão pelo PT e que despontava em levantamentos de intenção de voto com raquíticos 4%.
A partir do engajamento de Luciano Agra, que se fez acompanhar na opção por Nonato Bandeira, então desalinhado da orientação política do “todo poderoso” Ricardo Coutinho, a disputa eleitoral em João Pessoa enfrentou, de fato, uma reviravolta, contrariando prognósticos e derrubando literalmente as previsões de analistas políticos sobre o embate que viria à tona. Anabolizado por apoios que “caíram do céu” e foram polidos com esmero em tratativas bem-sucedidas de bastidores, numa articulação que surpreendeu de chofre ao próprio governador Ricardo Coutinho, Cartaxo decolou triunfalmente no segundo turno com mais de 68% dos votos válidos. Além de Estelizabel, a “ungida” de Ricardo, Cartaxo derrotou dois nomes de peso – o do ex-governador José Maranhão (MDB), atual senador e o ex-senador Cícero Lucena. Em 2014, filiado ao PEN, Partido Ecológico Nacional, Agra aventurou-se como suplente do candidato a senador Wilson Santiago (PTB), que foi bem votado mas não logrou se eleger. Em 10 de dezembro do mesmo ano, o ex-prefeito de João Pessoa morreu no Hospital Memorial São Francisco vítima de Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico, aos 62 anos de idade.
O resultado da eleição de 2012, além de premiar a competência e habilidade política de Cartaxo para fazer composição como estratégia para chegar ao poder, expôs a dificuldade de Ricardo Coutinho para transferir votos a quem quer que seja. Pelo menos em duas eleições consecutivas à prefeitura de João Pessoa ele obteve insucesso nessa missão – em 2012, com Estelizabel, e em 2016, com a professora universitária Cida Ramos. Só triunfou nesse quesito em 2018 quando João Azevêdo foi ungido governador em primeiro turno, em conjuntura totalmente atípica e diferenciada. As duas derrotas à prefeitura pessoense golpearam profundamente a vaidade de Ricardo, que havia conseguido a proeza de se eleger prefeito em 2004 e se reeleger em 2008, passando por cima de partidos tradicionais.
Em 2008, até a undécima hora, José Maranhão esperou inutilmente por um gesto de boa vontade de Ricardo, no sentido de contemplar um peemedebista na chapa da reeleição que ele postularia. O esquema do ex-governador Wilson Leite Braga também tentou obter o beneplácito do gestor e líder emergente, que despontava com cara de candidato a governador em 2010, o que se confirmou. Mas Coutinho não deu ouvidos a apelos e jogou as cartas como quis. Parecia ter cacife para bancar apostas arriscadas e não lhe ocorreu, uma vez sequer, a hipótese de vir a estar blefando no contexto da correlação de forças. Afinal, havia se acostumado a não se deixar contrariar no seu humor, nas ambições e na vontade irascível com que faz política, desfalcando mais do que aglutinando. A pretensão de Agra, por exemplo, era legítima. Mas ele não era “in pectoris” de Ricardo e, ao insistir em desafiá-lo, cruzou a linha da obediência reclamada pelo ex-totem dos girassóis.
Agra estava fadado a ser um daqueles fenômenos que, de tempos em tempos, habitam o intrincado universo político, com suas artimanhas e traições. Quando foi anunciado como vice de Ricardo, José Maranhão, em telefonemas para amigos, indagava se ele (Luciano Agra) tinha votos que o credenciassem a constar numa chapa. Não os tinha, então. Era, essencialmente, um quadro técnico valoroso, não testado nas urnas. A elas compareceu em papel secundário como vice de Ricardo, mas era inevitável que alcançasse projeção com a renúncia deste. Ricardo cortou-lhe os passos. Mas Agra venceu a revanche, em alto estilo. A História é implacável!