Nonato Guedes
Mesmo efetivado no mandato de deputado estadual, como primeiro suplente do deputado Genival Matias (Avante), que foi sepultado ontem em Juazeirinho, o petista Anísio Maia pretende manter a candidatura a prefeito de João Pessoa nas eleições de novembro. Suas chances na disputa, entretanto, são remotas, proporcionais ao desgaste experimentado pelo Partido dos Trabalhadores a nível nacional. Como se sabe, o PT corre o risco de não eleger nenhum prefeito de capital este ano. Em São Paulo, uma ex-petista, a paraibana Luíza Erundina, que logrou se eleger em 1988, protagonizando vitória espetacular no histórico da legenda, agora compõe chapa própria do PSOL encabeçada pelo sindicalista Guilherme Boulos. O PT paulista está dividido entre manter a pré-candidatura de Jilmar Tato, que não decola bem, ou reconvocar Fernando Haddad para o sacrifício, sob protestos dele, que planeja mesmo voltar a disputar a Presidência da República em 2022 contra Jair Bolsonaro.
Anísio Maia, que se firmou dentro do PT, onde desembarcou após passagem pelo PMDB, fala em defender na campanha o “legado” dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com isto querendo nacionalizar uma disputa que outros postulantes tendem a municipalizar. Não consta no radar dos analistas políticos que o eleitorado pessoense esteja se preparando para julgar o governo Bolsonaro nas eleições a prefeito. Aqui, deverá ser plebiscitada a administração de Luciano Cartaxo, um ex-petista, que há quase oito anos está no comando administrativo, desbancando nas urnas adversários como Cícero Lucena, que está de volta ao páreo, e candidatos abençoados pelo ex-governador Ricardo Coutinho, este prefeito eleito em dois mandatos consecutivos. Incidentalmente poderá ser plebiscitada também a administração do governador João Azevêdo (Cidadania, ex-PSB), que data dos primórdios de 2019. Mas, decididamente, Brasília não está em pauta na cabeça do eleitorado, e, ainda que esteja, o presidente Bolsonaro tem lá sua parcela de adeptos ou eleitores fiéis, independente de sigla, de que está descolado atualmente.
Em relação a João Pessoa, é preciso levar em conta que o PT vinha experimentando trajetória de crescimento, conseguindo ir ao segundo turno em 1992, com o professor Francisco Lopes dando combate a Francisco Franca, este eleito sob o pálio do PDT e o respaldo da influência indiscutível do casal Wilson-Lúcia Braga. O grande salto do PT na Capital, espécie de termômetro da conjuntura política estadual, foi mesmo em 2012 com Luciano Cartaxo, que se elegeu em segundo turno pela legenda de Lula, vencendo Cícero Lucena, depois de ter abatido, em primeiro turno, José Maranhão e Estelizabel Bezerra. Cartaxo, porém, não demonstrou interesse em continuar filiado ao PT, tendo batido em retirada quando pipocaram as denúncias do escândalo do mensalão que, como se sabe, ceifou cabeças coroadas da seita esquerdista e do próprio governo do presidente Lula da Silva.
Quando postulou a reeleição, em 2016, Luciano Cartaxo já concorreu com as cores do PSD, estreitando aproximação com o esquema de Cássio Cunha Lima, com quem o PT nunca quis diálogo. Aboletado no novo mandato, o atual prefeito da Capital sentiu-se confortável para mimetizar outro instante político-partidário – foi quando migrou para o Partido Verde, com a condição de comandar a agremiação juntamente com o irmão gêmeo Lucélio, ex-candidato a senador em 2014 e a governador em 2018, e com outras figuras sem maior prestígio no cenário paraibano. O PV é uma espécie de refúgio do “clã” Cartaxo, que em 2022 poderá lançar Luciano ou Lucélio, ou mesmo ambos, a mandatos majoritários e/ou proporcionais. Afinal, estarão em jogo naquele ano cadeiras de governador, vice, senador, deputado federal e deputado estadual.
Não é o caso de especular sobre o futuro político de Luciano e de Lucélio até porque ambos demonstram ser imprevisíveis nesse terreno. Em 2018, por exemplo, analistas políticos tinham como praticamente certo que Luciano se desincompatibilizaria da prefeitura para disputar o governo do Estado – e houve, mesmo, arrastadas confabulações nesse sentido. O desfecho sinalizado, porém, foi distinto: o Cartaxo que entrou no páreo foi o outro – Lucélio, tendo como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD. A chapa não foi sequer ao segundo turno, com o primeiro sendo decidido com a vitória de João Azevêdo, então PSB, com o reforço indiscutível do então governador Ricardo Coutinho, que gozava da popularidade de que não desfruta mais. O ”clã” Cartaxo imaginou que Luciano na prefeitura seria decisivo para ejetar o irmão, da mesma forma como Romero, em Campina, complementaria o reforço, prestigiado pela presença da mulher. Não se combinou tal estratégia com o eleitorado.
Para o PT, retomar a prefeitura de João Pessoa, perdida quando Cartaxo bandeou-se para outras siglas, seria até questão de honra na eleição municipal deste ano – se o partido estivesse em alta e o ex-presidente Lula não tivesse descido ao inferno com 580 dias de prisão na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Mas, com ventos desfavoráveis soprando eleitoralmente para o PT a nível nacional no páreo deste ano, a insistência da candidatura própria de Anísio em João Pessoa só pode ser tática teimosa de “honrar a firma” ou capitalizar o PT em outras instâncias. Salvo fato excepcional, o páreo caminha para uma polarização entre Cícero Lucena e o esquema de Cartaxo, que detém a máquina municipal e que pode ganhar reforço da máquina estadual, com as bênçãos de Azevêdo, que não tem candidato forte a apresentar. O PT é carta fora do baralho.