Nonato Guedes
Com raízes em Cajazeiras, no Alto Sertão, o comunicador Nilvan Ferreira foi adotado pelo MDB do senador José Maranhão como candidato a prefeito de João Pessoa, praticamente fazendo sua estreia no processo político-partidário. Por circunstâncias óbvias, ligadas ao seu perfil como neófito em disputas eleitorais, figura no contexto como um azarão. Também é tido como uma grande incógnita, por causa da carência de maior informação sobre o potencial que o MDB ainda detém no maior colégio eleitoral do Estado e de dúvida acerca da própria capilaridade da sua candidatura. A visibilidade alcançada como comunicador, no papel de âncora de um programa de debates de audiência no Sistema Correio, não é passaporte automático para ascensão fulminante de Ferreira. Mas ele também não pode ser subestimado.
De concreto, a pré-candidatura de Nilvan Ferreira recoloca o partido de Maranhão no radar da sucessão à prefeitura de João Pessoa. É uma tentativa de devolver à agremiação um protagonismo que já teve em épocas que vão se distanciando no calendário. Quando houve a restauração das diretas nas Capitais em 1985 o então PMDB liderado pelo falecido senador Humberto Lucena abiscoitou a primeira vitória com a candidatura do médico Antônio Carneiro Arnaud em aliança com o esquema do ex-governador Wilson Braga (PDS-PFL). O confronto principal se deu com o ex-deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que foi encampado pelo ex-governador Tarcísio Burity. A diferença, em torno de dez mil votos, criou em setores políticos a impressão de que o triunfo de Carneiro se constituíra em “vitória de Pirro”, comparando-se o peso de três máquinas governistas operando na retaguarda.
Depois da passagem de Carneiro pelo cargo, o PMDB só retornou ao comando da prefeitura em 1996 com a eleição de Cícero Lucena, que, coincidentemente, está de volta ao páreo, desta feita concorrendo pelo PP após demorada militância no PSDB, em que já pontificava quando foi reeleito ao Paço Municipal em 2000. Desde então, o PMDB (hoje MDB) foi empurrado para posição secundária ou coadjuvante. Ainda chegou a emplacar o deputado Manoel Júnior como candidato a vice de Ricardo Coutinho na primeira eleição deste à prefeitura em 2004, mas Júnior logo se desalinhou do socialista por absoluta falta de espaço e de prestígio. Ricardo já exercitava, aí, a sua característica inconfundível: o personalismo. Em 2008, Maranhão tentou recapturar a vice para a sigla, mas Coutinho empurrou goela abaixo do eleitorado chapa puro-sangue do PSB com Luciano Agra como companheiro de chapa.
Na época, incomodado com a desatenção de Ricardo para com o PMDB, Maranhão andou indagando a pessoas amigas ou conhecidas: “O Agra tem votos?”. Não tinha. Era, até então, um técnico qualificado, um urbanista de talento reconhecido e celebrado e havia passado pelo Planejamento na primeira gestão de Ricardo na prefeitura pessoense. Depois, como se viu, acabou sendo rifado, impiedosamente garfado por RC na pretensão legítima de concorrer à prefeitura em 2012 pelo PSB. Nesse pleito, José Maranhão, em pessoa, decidiu testar os espaços do PMDB e se lançou candidato. Mas a parada no segundo turno ficou entre Cícero Lucena e Luciano Cartaxo, com a vitória deste. O MDB, hoje, definha a olhos vistos. Afora Maranhão no Senado, tem Raniery Paulino na Assembleia. Enfrentou uma sangria de quadros sem precedentes na história política paraibana.
Eis que o senador Maranhão, surpreendendo adversários e analistas políticos, tira do bolso do colete uma candidatura própria à sucessão de Luciano Cartaxo, filia o radialista Nilvan Ferreira ao partido e o torna candidato “pra valer”, não para fazer de conta ou para marcar presença, honrando a firma que já colecionou tantas glórias em eleições majoritárias estaduais. O passo seguinte é a caça a alianças que possam forrar o estuário da candidatura de Nilvan. Sobre o perfil do comunicador no páreo as opiniões ainda se dividem, ora situando-o como franco-atirador, ora como “candidato de protesto” contra as gestões municipal (titulada por Luciano Cartaxo, em fim de ciclo) e estadual, representada por João Azevêdo.
O desafio de Nilvan Ferreira é o de não deitar em berço esplêndido, confiante que votos de protesto chegarão aos borbotões na sua cesta para irrigar a colheita nas urnas em 15 de novembro. Ele dá a entender que seu maior sonho era o de enfrentar Ricardo Coutinho – por quem teria sido perseguido enquanto radialista – no balanço das urnas. Essa hipótese, para desalento de Ferreira, não se afigura no radar político de 2020 no prélio da Capital. Para além de “escolher” adversários – o que é tarefa complicada – o comunicador precisará ser proativo como candidato: oferecer soluções exequíveis para os graves desafios da população e demonstrar preparo ou competência para administrar uma cidade complexa como João Pessoa. A conferir!