Nonato Guedes
Quantos e quais deputados estaduais paraibanos morreram no exercício do mandato? Esta é a indagação que o ex-parlamentar e historiador Ramalho Leite procura responder em pesquisa que está desenvolvendo juntamente com seu colega do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano Waldir Porfírio, autor de livros e trabalhos sobre episódios marcantes da vida da Paraíba. Em postagem feita em rede social, na qual dá ciência do levantamento, Ramalho explica que o interesse pelo assunto foi redobrado com a morte prematura do “estimado e simpático deputado Genival Matias”, do Avante. Genival, com base eleitoral em Juazeirinho, embora natural de João Pessoa, morreu no domingo aos 53 anos de idade, durante passeio de jet ski no litoral de Pernambuco, vítima de Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico.
Ramalho Leite ressalta que os imortais Celso Mariz e Deusdedith Leitão legaram uma pesquisa sobre a história do Poder Legislativo Paraibano desde o Império à República. Ele e Waldir Porfírio tentam dar continuidade ao documentário, a partir dos cento e cinquenta anos da Casa de Epitácio Pessoa até os dias atuais. Antes de Genival Matias, ocorrera o falecimento, em 1974, do empresário Gustavo Amorim da Costa, liderança ascendente de Guarabira, na região do Brejo. Ele foi a óbito antes da posse mas já havia sido diplomado como deputado eleito. Por sua vez, o deputado Aristóteles (Tota) Agra, um dos primeiros expoentes do Partido Verde na Paraíba, faleceu no último dia do seu mandato, em 30 de janeiro de 1999. Representante de Campina Grande na Assembleia Legislativa, Tota Agra defendia abertamente, de forma corajosa, posições polêmicas como a descriminalização da maconha, de que era usuário confesso.
Em janeiro de 1995, antes de tomar posse em um segundo mandato, faleceu o deputado Levy Olímpio, representante de Pombal e adjacências no Parlamento Estadual. “A Agra restava cumprir um dia de mandato; a Levy, restava um mandato inteiro”, observa Ramalho Leite, cuja atuação política foi pautada a partir de Bananeiras, no Brejo paraibano, onde participou de embates memoráveis, dando combate ao grupo Bezerra Cavalcanti, que teve o doutor Clóvis como vice-governador da Paraíba e Afrânio Bezerra como deputado estadual. Na pesquisa que promove em parceria com Waldir Porfírio, Leite pretende se ater ao período republicano. Mas informa que os primeiros registros de deputados falecidos no exercício do mandato ocorreram na Segunda Assembleia Constituinte (1892-1895). Os mortos foram Gercino Martins de Oliveira e Pedro Gambarra.
Na terceira legislatura (1896-1899) não chegaram ao seu final os deputados Antônio Tomaz de Araújo Aquino, assassinado em Piancó, e Francisco da Penha Pessoa da Costa. Eleito deputado federal, Apolônio Zenaide cedeu sua cadeira. Nas vagas abertas foram eleitos Castro Pinto, Francisco Gouveia da Nóbrega e Walfredo Leal, nomes que se impuseram na política de sua época. Nessa legislatura faleceu ainda Gustavo Mariano Soares de Pinho. Para Ramalho, “é interessante notar que nomes ilustres no futuro tenham começado suas vidas beneficiados pela ausência de outros políticos mais votados. Assim, surgiu o deputado Pedro da Cunha Pedrosa, futuro federal, senador e ministro do TCU, na vaga ocorrida com a morte do coronel Graciliano Florentino Lordão. Na sexta legislatura foi a vez de Antônio Barreto se despedir e na oitava partiu Afonso Campos que cedeu a vaga a Antônio Pessoa Filho, que seria prefeito da capital.
Outro Pessoa, esse de nome Joaquim, ocupou vaga na Assembleia com o falecimento de Félix Daltron, de Taperoá. Na décima legislatura (1924-1927) foi a vez do padre Aristides Ferreira, vítima da passagem da Coluna Prestes pelo Piancó. Em 1928 falecia Manoel Ferreira de Andrade e em nova eleição houve assunção de um grande paraibano chamado Argemiro de Figueiredo. Na Constituinte de 1935 um acidente automobilístico matou José Tavares e também se despediu o sertanejo Seráphico Nóbrega. Na Constituinte de 1947-1951, o brejo perdeu Odon Bezerra, de Bananeiras e na sua vaga assumiu Telesforo Onofre, de Alagoa Grande. Na Assembleia seguinte, antes de tomar posse para novo mandato, falecia Pedro Augusto de Almeida e outro político de Bananeiras assumia o seu lugar: Humberto Coutinho de Lucena, primeiro suplente que seria depois deputado federal e senador. Era 1950. Narra Ramalho Leite que três meses depois foi a vez de José Marques da Silva Mariz deixar o cenário, abrindo vaga para Luiz Ribeiro Coutinho. Em 1957, desaparece Tertuliano de Brito. Ainda em 1950 faleceu Francisco de Paula Barreto e assumiu o primeiro suplente Orlando Cavalcanti de Mello. Em 12 de janeiro de 1962 se despede da vida o deputado Américo Maia de Vasconcelos e é convocado um suplente de então, que ganhou espaço e chegaria ao governo do Estado, Wilson Leite Braga.
Em tom jocoso, Ramalho conclui: “Pode ser que eu tenha esquecido algum parlamentar que faleceu no exercício do mandato, mas não esqueço que fui primeiro suplente de 36 deputados estaduais e de doze federais e nunca, alguma vaga definitiva, abriu-se para mim. Eu até avisava aos titulares: a garantia de suas vidas é me ter como suplente”. A pesquisa feita conjuntamente por Ramalho Leite e Waldir Porfírio desperta interesse antecipado nos meios políticos e expectativa natural por se tratar de contribuição valiosa á história parlamentar do Estado.