Nonato Guedes
O esquema político do governador João Azevêdo deflagrou a estratégia para fazer sua estreia nas eleições municipais de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores na Paraíba. Pelo tom dos acontecimentos, o esquema de Azevêdo está aberto a concessões, alianças e entendimentos com outros partidos e com lideranças que estejam dispostas a reforçar o projeto de poder que ele começou a pôr em prática desde que rompeu laços com o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). O enredo é simples: onde o partido Cidadania, em que Azevêdo ingressou, tiver condições de estrutura e nomes competitivos para lançar ao pleito deste ano, assim será feito com o pleno apoio ou engajamento do chefe do Executivo. Todavia, nas cidades em que a legenda oficial ainda não conseguir marcar presença, o apoio do governador será dado a postulantes de legendas e esquemas que comprovem afinidade com o situacionismo estadual.
Um caso que está sendo considerado emblemático da realidade da nova correlação de forças foi o episódio de Guarabira, no Brejo, onde o grupo que segue a orientação do ex-governador Roberto Paulino, do MDB, pré-candidato a prefeito em novembro, está se compondo com liderados do governador João Azevêdo que declaram apoio a essa candidatura. Foi em razão dessa perspectiva que o deputado estadual Raniery Paulino, filho do ex-governador Roberto, oficializou, ontem, sua renúncia à liderança do bloco parlamentar de oposição ao governo estadual na Assembleia, que vinha exercendo há pouco mais de um ano. Raniery deixou claro que a questão paroquial teve muito peso na sua decisão de sair do bloco parlamentar oposicionista e acrescentou que não desejava constranger quem segue nesse bloco. A questão paroquial em Guarabira opõe a ala Paulino ao clã Toscano, agora liderado pela deputada Camila, filha do ex-prefeito Zenóbio, que faleceu recentemente, e com raízes no PSDB.
Os tucanos poderão apoiar a candidatura do atual prefeito Marcus Diôgo, que se investiu com a morte de Zenóbio e que é membro do partido, como poderão apostar em outro nome que aparentemente seja mais competitivo. Mas, decididamente, já não mais serão parceiros do “clã” Paulino. Em certa medida, isto reflete uma peculiaridade da disputa municipal, onde os interesses específicos falam mais alto e condicionam outras posturas, que por sua vez, se tiverem muita expressão, também podem condicionar as questões locais propriamente ditas. Raniery e Camila chegaram a compartilhar posições no plenário da Assembleia Legislativa, quer em relação ao governo Ricardo Coutinho, que é página virada, quer em relação à gestão Azevêdo, que está nos primeiros anos. O divisor de águas veio com a exigência de posicionamento no radar eleitoral em Guarabira.
Em declarações feitas, ontem, o deputado Raniery Paulino admitiu que estão prosperando os entendimentos do MDB do Brejo com o esquema político do governador João Azevêdo. Ao mesmo tempo, deixou claro que o seu pai, Roberto Paulino, que era vice-governador de José Maranhão e ascendeu à titularidade quando JM se desincompatibilizou para concorrer ao Senado em 2002, é o condutor natural do processo eleitoral deste ano atípico nas fileiras emedebistas. Até onde se apurou, é com Roberto que mais avançaram os acenos do grupo do governador para uma composição. E Raniery, que, inclusive, chegou a ser cogitado como alternativa para enfrentar a disputa municipal, optou por deixar o caminho livre para seu pai conduzir as tratativas que julgar necessárias ao desideratum que almeja.
O protocolo de convivência pronto para ser testado em Guarabira (para usarmos um termo bastante em voga com a flexibilização de medidas do combate ao coronavírus) serve de modelo para outras cidades de grande, médio e pequeno porte na definição de acertos políticos com vistas à formação de chapas e lançamento de candidaturas às eleições municipais. Da Capital a Coxixola, o esquema de João Azevêdo se posicionará de acordo com a correlação de forças predominante e com o peso ou influência que se atribua a esquemas convergentes em termos de coligação. A estratégia pressupõe, então, que haverá uma pulverização de apoios a candidatos e candidaturas nas mais distintas regiões, avaliadas as condições de temperatura e pressão decorrentes da realidade política-partidária dos municípios e do encaixe do esquema governista nos protocolos de convivência rumo à conquista do poder. De resto, o “Cidadania” não teve tempo útil para se estruturar no planejamento adequado, em virtude de fatores supervenientes que inviabilizaram o avanço de articulações políticas.
O que se diz nos bastidores políticos é que a “fórmula Guarabira” significa o embrião da estratégia macro que o esquema do governador João Azevêdo desencadeará, depois das eleições municipais de 2020, com o radar sintonizado na campanha à reeleição do chefe do Executivo em 2022. Se Azevêdo entrou na política pelas mãos de Ricardo Coutinho e dele recebeu apoio decisivo na tarefa de se eleger governador em 2018, no próximo pleito estadual ele próprio é que dará as cartas dentro de um novo esquema político no Estado. Uma amostra do tamanho do esquema que está se formando já poderá ser colhida em laboratório (nas urnas) no pleito remarcado pelo TSE para novembro vindouro. É esperar para ver!