Nonato Guedes
Mesmo com tempestades, polêmicas e fogo cruzado dos adversários e de outros segmentos formadores de opinião, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue sendo um fenômeno político na realidade brasileira. Essa é uma das principais conclusões de um levantamento exclusivo realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas entre os dias 18e 21 de julho. A revista “Veja”, que dá destaque ao levantamento, ressalta: “Mesmo sendo um mandatário controverso à frente de um país dividido em relação ao seu governo, Bolsonaro lidera todos os cenários de primeiro turno – com porcentuais que vão de 27,5% a 30,7% e derrotaria seis potenciais adversários em um segundo round da corrida ao Planalto em 2022”.
Na campanha pela reeleição, o capitão bateria, a dados de hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Fernando Haddad, ambos do PT, o ex-governador Ciro Gomes, do PDT, o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, o governador de São Paulo, João Doria, do PSDB e o apresentador da TV Globo Luciano Huck, sem partido. O feito é tanto mais impressionante, conforme “Veja”, quando se considera que segundo a mesma pesquisa 48,1% dos brasileiros desaprovam a sua gestão (eram 51,7% no fim de abril) e 38% consideram ruim ou péssimo o seu trabalho (eram 39,4%). Comparada a um levantamento anterior do Instituto Paraná Pesquisas, de três meses atrás, a aprovação oscilou positivamente de 44% para 47,15%, enquanto o contingente que considera o seu mandato ótimo ou bom foi de 31,8% para 34,3%, variação acima da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A reportagem de “Veja” enfatiza: “A eleição de 2022 ainda está distante, mas chama atenção a capacidade de resistência do presidente. Os constantes solavancos políticos e as lambanças em série na condução da pandemia do coronavírus não colaram negativamente nele aponto de erodirem a sua mais fiel base de apoio, de cerca de 30% dos eleitores – número que é considerado até por adversários como freio a um processo de impeachment. Na visão de especialistas, Bolsonaro conseguiu escapar à lógica de que sucumbiria às crises por dois motivos: o auxílio emergencial, o chamado coronavoucher, que amenizou efeitos econômicos da pandemia em uma população indiferente às confusões de Brasília, e a atitude mais comedida do presidente nos últimos tempos, especialmente após a escalada de tensão sustentada com o Supremo Tribunal Federal. Seu filho, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse ao jornal O Globo na quarta-feira que “a postura de distensionamento” será permanente.
Na opinião do cientista político José Álvaro Moisés, da USP, “desde que percebeu que o conflito com o STF era perigoso, o presidente recuou, ficou quieto, parou de dar declarações bombásticas. Para uma parte dos eleitores que o apoiam, mas eram críticos ao desempenho, a postura de Bolsonaro paz e amor ajuda a melhorara avaliação”, frisa. Bolsonaro volta a subir principalmente com o auxílio de 600 reais, que passou a chegar a mais gente. Com o fator bolso, a crise fica menor. Na época do mensalão, Lula era um herói porque o bolso estava cheio, endossa Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas. Com os bolsonaristas já cativos, o governo busca justamente o “fator bolso” e a expansão de programas sociais para diversificar a sua base eleitoral. A pesquisa mostra que melhoraram os índices de avaliação no Nordeste, uma cidadela petista e lulista.
Os nordestinos ainda são tidos como os brasileiros menos afeitos ao presidente, porém os que desaprovam o governo caíram de 66,1% para 56,8% entre abril e julho e os que aprovam subiram de 30,3% para 39,4%. Pela perspectiva atual – analisa “Veja” – fica difícil imaginar uma força que possa rivalizar com o presidente Jair Bolsonaro. A desaprovação ao seu governo, no entanto, faz supor que exista espaço para um projeto alternativo menos radical e mais equilibrado. Entre os possíveis nomes de centro-esquerda, quem aparece melhor hoje é alguém que estava colado ao presidente até recentemente – o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Nas disputas de segundo turno, depois do inelegível Luiz Inácio Lula da Silva, Moro é quem mais se aproxima de Bolsonaro (44,7% contra 35%). Nas de primeiro turno, ele termina em segundo lugar, quando o candidato do PT é Fernando Haddad e em terceiro, mas não tão longe, quando é incluído o nome de Lula. Um ponto negativo de Moro como alternativa a Bolsonaro é que, em razão de sua atuação como juiz, marcadamente contra Lula e o PT, dificilmente ele vai aglutinar apoios da esquerda.
Como nota “Veja”, o governo Jair Bolsonaro passou nos três últimos meses por uma tempestade política perfeita. À crise inaugurada pela pandemia do novo coronavírus, menosprezada desde o início pelo presidente, somaram-se a conturbada demissão de seu ministro mais popular, Sergio Moro, duas trocas no Ministério da Saúde, a abertura de um inquérito para apurar interferência na PF, a divulgação em vídeo de uma escabrosa reunião ministerial, o cerco a bolsonaristas radicais em duas investigações do Supremo, a prisão de Fabrício Queiroz, o diagnóstico de Covid-19 do presidente e o saldo nefasto de mais de 80 mil mortos pela doença. Essas dificuldades sérias poderiam estraçalhar a popularidade de inúmeros políticos. Mas a verdade é que Bolsonaro segue firme, o que prova que continua sendo encarado como um fenômeno político, apesar dos pesares.