Nonato Guedes
O deputado estadual Júnior Araújo (Avante) reassumirá hoje o mandato na Assembleia Legislativa, do qual estava licenciado desde fevereiro deste ano, exercendo a Secretaria de Governo na gestão João Azevêdo (Cidadania). A volta de Júnior ao Poder Legislativo foi uma manobra política do governo, calculada para impedir a ascensão do suplente de deputado Jacó Maciel, também do Avante, que é considerado como antigo adversário do governo. A convocação de Júnior para a equipe de governo, há seis meses, foi um movimento destinado a fragmentar o chamado G10, bloco parlamentar independente formado na Casa de Epitácio Pessoa.
Como efeito colateral, a manobra possibilitou a ascensão ao mandato titular do suplente Anísio Maia, do Partido dos Trabalhadores, que passou a compor a base de sustentação do governo Azevêdo. A morte, recentemente, do deputado Genival Matais, alterou radicalmente o cenário, já que Anísio Maia foi efetivado no cargo e a vaga originalmente pertencente a Júnior Araújo virou risco de fortalecimento do bloco oposicionista, devido à posição ostensiva de Jacó Maciel anti-situacionismo. Fontes ligadas ao governador João Azevêdo chamam a atenção para movimentos políticos em série que têm sido desencadeados pelo esquema do chefe do Executivo, com vistas às eleições municipais deste ano e com desdobramentos nas eleições de 2022, quando Azevêdo tentará a reeleição.
De acordo com essas fontes, a desenvoltura política do governador começou a ficar patente com o seu gesto de desfiliação do PSB, pelo qual foi eleito em 2018, como reação à “intervenção branca” decretada pelo ex-governador e ex-aliado Ricardo Coutinho, que destituiu o diretório regional presidido por Edivaldo Rosas, secretário de Governo de Azevêdo. No rescaldo da “operação” comandada por Ricardo, que teve o apoio da cúpula nacional do PSB, João Azevêdo preparou o terreno para filiar-se ao “Cidadania”, legenda que praticamente passou a comandar no Estado através de emissários de sua confiança. O esquema do governador produziu ação espetacular em Guarabira, anunciando apoio à candidatura do ex-governador Roberto Paulino, do MDB, a prefeito municipal em novembro. Com isto, o governo ganhou o apoio, na Assembleia Legislativa, do deputado Raniery Paulino, filho de Roberto, que era líder do bloco de oposição e renunciou a esse papel.
Os emissários do chefe do Executivo estão mapeando regiões e cidades estratégicas do Estado para definir posições em torno de candidaturas próprias ou celebração de alianças políticas com outros partidos da base nas eleições municipais. Nesse contexto, a situação em João Pessoa tem merecido atenção especial por parte do governador João Azevêdo e dos seus interlocutores, com exame minucioso das variadas opções em pauta. Dentro do “Cidadania” há pretendentes à indicação como candidato a prefeito da Capital, a exemplo dos vereadores Bruno Farias e Léo Bezerra. Mas o esquema de Azevêdo está aberto a entendimentos com o grupo do prefeito Luciano Cartaxo (PV), que deve lançar a professora Edilma Freire à sucessão ou com a cúpula estadual do PP, que previamente lançou a candidatura do ex-senador Cícero Lucena à prefeitura. Das articulações gerais e dos entendimentos por região participa o deputado Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa, que ontem admitiu passos para seu ingresso no “Avante”, uma vez oficializada a desfiliação do PSB.