Nonato Guedes
Seja por ter demorado demais a anunciar a candidata do seu esquema à sua sucessão nas eleições remarcadas para novembro, seja por não ter havido grande impacto ou repercussão no nome escolhido, o da professora Edilma Freire, ex-secretária de Educação, o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), terá que se desdobrar muito para alavancar a candidatura que ungiu em transmissão ao vivo pela internet na noite de ontem. O foco de insatisfação com a decisão foi simbolizado pelo ex-secretário do Desenvolvimento Diego Tavares, que alimentava a esperança de vir a ser escolhido e não digeriu a preterição no anúncio final, ensaiando uma dissidência que poderá levá-lo a apoiar o ex-prefeito Cícero Lucena, do PP. Diego não é propriamente um grande líder político, mas, como símbolo de dissidência, pode fazer estrago.
Dois pontos precisam ser ditos em relação ao “parto” laborioso para anúncio da candidatura do esquema de Cartaxo: 1) o processo foi mal conduzido; 2) a candidatura ungida é uma incógnita do ponto de vista do resultado eleitoral. Cartaxo não demonstrou habilidade, desde o início, para manter o grupo coeso. Talvez por já ter se fixado no nome de Edilma, acabou estimulando uma guerra “fratricida” entre auxiliares da administração que ele mesmo recrutou – casos de Socorro Gadelha, Daniella Bandeira e Diego Tavares. Este parecia, politicamente, o mais cacifado, até por sua tradição política (o pai, o médico Reginaldo Tavares, foi vice-prefeito da Capital numa das gestões de Cícero e o tio, Edme Tavares, foi deputado estadual, federal e secretário de Estado). Diego, por outro lado, é primeiro suplente da senadora Daniella Ribeiro, do Partido Progressistas, eleita em 2018. O PP atraiu Cícero Lucena para suas fileiras e o lançou pré-candidato a prefeito da Capital no pleito deste ano.
Não obstante, Diego é filiado aos quadros do PV, que Luciano passou a comandar depois de se desfiliar do PSD, na esteira do seu rompimento com o PT, pelo qual foi eleito prefeito de João Pessoa em 2012. Aliás, houve quem considerasse pedante a estratégia do prefeito pessoense de impor que a candidatura que viesse a ter seu apoio fosse originária dos quadros do PV, que estadualmente ele preside. Nos bastidores insinuou-se que Cartaxo estava implantando uma camisa-de-força no processo político, válida para auxiliares que porventura pretendessem vir a ocupar a sua cadeira no Centro Administrativo Municipal. Com isso, secretários-pretendentes tiveram que se filiar as pressas à agremiação, submetendo-se a ficar em “lista de espera” por vaga no comboio cartaxista rumo à estação 2020.
O resultado é que se estreitou o campo de manobra do prefeito Luciano Cartaxo com vistas a atrair outros partidos para composições que fortalecessem uma candidatura extraída do bolso do colete mas com a assinatura do PV, que de repente se tornou o grande xodó do clã formado por ele e pelo irmão gêmeo Lucélio, ex-candidato a governador em 2018 e ex-candidato a senador em 2014. Ainda que por força do saldo administrativo que tem e da própria liderança que exerce em João Pessoa Luciano tivesse reconhecida a primazia de indicar cabeça de chapa numa composição à sua sucessão, nada impedia que ele fosse mais flexível na negociação. Diferentemente disso, passou imagem de intransigência. E tal estratégia afastou aliados potenciais, de que é exemplo a inflação de candidaturas próprias, emanadas de diferentes partidos.
Luciano pareceu-se demais com o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) na obsessão de impor “candidatura de continuidade do projeto administrativo que deu certo”. Esta, uma outra analogia que vinha se fazendo em rodas políticas, em meio a conversas informais recheadas pela alusão à fixação de RC pela candidatura de João Azevêdo à sua sucessão ao governo no pleito de dois anos atrás. Em política, as coisas nem sempre ocorrem como alguns imaginam. João Azevêdo foi eleito com o apoio decisivo e incontestável de Ricardo Coutinho e dentro da perspectiva de prosseguir o que vinha sendo feito no governo paraibano. Mal foi empossado, rebentou a briga com Ricardo, a expulsão branca do PSB. João está exilado, hoje, no “Cidadania”. Luciano ainda está na fase de “alumbramento” com a tal continuidade.
Não há, na comparação aduzida, qualquer juízo de valor em relação à professora Edilma Freire, cujo valor é reconhecido e cuja contribuição à Educação em João Pessoa é propalada independente de ser candidata a prefeita ou de vir a ser eleita. Nem se pensa em ilação sobre ela vir a romper com Luciano caso vitoriosa na corrida eleitoral e entronizada no mandato. O que se especula é que a obsessão pela “continuidade” revela um traço personalista que não faz bem necessariamente em política ou administração. Afinal, diversidade e pluralidade sempre são bem-vindas na oxigenação do processo de poder. Seja como for, a sorte está lançada para Luciano e para seu irmão Lucélio, os lídimos representantes do “clã” que persegue a perpetuidade. Tentarão repetir, a nível paroquial, respeitadas todas as proporções, a façanha que Lula da Silva prodigalizou em 2010 ao eleger Dilma Rousseff à sua sucessão ao Planalto.