Nonato Guedes
Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi posto em liberdade após cumprir 580 dias de prisão na Superintendência da PF em Curitiba criou-se no Partido dos Trabalhadores a expectativa de que ele iria alavancar o PT para grandes, até mesmo maciças vitórias, nas eleições de prefeitos, sobretudo em Capitais influentes do país. Não é isto o que tem acontecido, e uma dificuldade adicional para Lula está sendo a imposição de isolamento social como parte das medidas de prevenção à pandemia do coronavírus, o que restringe a mobilidade do “pajé” e o impede de deitar falações regadas a comparações futebolísticas em animadas concentrações eleitoreiras.
Estrategicamente o PT incentivou um número elevado de candidaturas nas suas fileiras – cerca de 1 600 para prefeituras no Brasil e, a mando do ex-presidente Lula, fechou-se em copas para alianças em redutos considerados essenciais. A legenda que nasceu no ABC paulista cogita lançar 23 candidatos próprios no universo de 26 Capitais. A alegação invocada era a de confiança nas chances de recuperação da imagem da agremiação, turvada por escândalos de corrupção e caixa dois e agravada pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e pela prisão de Lula. As projeções, entretanto, são pessimistas. Conforme a revista “Veja”, o ex-presidente Lula considerava essencial ganhar em São Paulo e Belo Horizonte para o partido ter palanque forte em 2022. Esse objetivo, entretanto, somente será alcançado se ocorrer uma virada – espetacular e improvável.
Pelos dados das primeiras pesquisas feitas sobre intenções de votos, em Belo Horizonte o prefeito Alexandre Kalil, do PSD, já superou a marca de 50% das intenções. O PT escalou para enfrentá-lo o ex-deputado Nilmário Miranda, que chegou a ter atuação marcante na Câmara na defesa específica dos Direitos Humanos. A situação mais dramática para o petismo se verifica mesmo em São Paulo, onde o candidato Jilmar Tato largou com 2% das projeções, desapontando cardeais petistas e, por via de consequência, reverberando negativamente junto à militância, sempre idolatrada como fiadora da moral petista nas campanhas. Por muito tempo, Lula tentou convencer o ex-prefeito Fernando Haddad a entrar na disputa, mas não logrou êxito. Haddad foi candidato a presidente da República em 2018 contra Jair Bolsonaro e parece ter tomado gosto pela corrida presidencial. Tem a expectativa de voltar a ser ungido pelo PT em 2022, apostando, intimamente, na inelegibilidade de Lula para concorrer.
No campo da esquerda em São Paulo quem ganha visibilidade é a chapa encabeçada por Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, tendo como vice a paraibana Luíza Erundina, atual deputada federal e ex-prefeita da Capital pelo PT. Ambos são filiados ao PSOL e constituem a sensação no páreo, no segmento em que militam. Dão combate ao atual prefeito Bruno Covas, do PSDB, que aparece como favorito à reeleição depois de se tornar mais conhecido durante a crise sanitária. À frente de São Paulo desde abril de 2018, quando João Doria deixou a prefeitura para se candidatar ao governo do Estado, Covas assumiu o cargo desconhecido por 70% dos paulistanos, conforme o Datafolha, e governou até o fim de 2019 às voltas com o baixo índice de exposição, conforme “Veja”. Para aliados, essa situação havia melhorado um pouco depois que o tucano tornou pública sua luta contra um câncer, mas a popularidade aumentou quando ele passou a gerir a crise do coronavírus.
Jilmar Tatto, Guilherme Boulos e o ex-governador Márcio França, pré-candidato pelo PSB, tentarão desconstruir a popularidade recém-adquirida por Bruno Covas ao pintá-lo como candidato de Doria. Também serão exploradas ações do tucano que não surtiram efeito esperado na pandemia, a exemplo das alterações confusas no rodízio de carros e a indefinição sobre a volta às aulas. França acredita que tudo isso passou uma imagem de inexperiência, de despreparo, por parte do atual gestor. Este é um dilema comum aos candidatos que estão no governo: fazer com que o impacto positivo no capital político provocado pela pandemia não se transforme num ponto negativo até a eleição. Para além disso, duas coisas parecem claras: a eleição deve tomar ares de referência sobre a condução da pandemia; os moderados têm ainda um trunfo – os centristas favoritos já são prefeitos, com imensa visibilidade em meio à crise, a exemplo de Bruno em São Paulo, Kalil em Belo Horizonte, Nelson Marchezan Júnior em Porto Alegre e Rafael Greca em Curitiba.
Petistas mais fanáticos estão piamente convencidos de que a saída será nacionalizar a disputa com o presidente Jair Bolsonaro e vincular candidaturas adversárias a ele. É o pensamento, por exemplo, do deputado José Guimarães (CE), que coordena o núcleo eleitoral do Partido dos Trabalhadores e tem insistido na estratégia de lançamento de candidaturas próprias. Fora do círculo petista, o que se diz é que a estratégia do partido no pleito de novembro é uma aposta muito alta e arriscada. Afinal, o PT não está com esse cacife todo para controlar prefeituras de Capitais influentes no país.