No transcurso, hoje, do Dia do Padre, um alerta preocupante: o clero se encontra vulnerável à Covid-19, embora a maioria das igrejas esteja fechada, os fiéis continuem distantes da comunhão presencial e os sinos não tenham o toque festivo das grandes celebrações. Conforme boletim divulgado pela Comissão Nacional de Presbíteros, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), registra 415 padres diocesanos contaminados com o novo coronavírus, um aumento de mais de 11% em relação ao último levantamento publicado dois dias antes que registrou 368 padres contaminados. O boletim informa ainda que 21 religiosos faleceram em decorrência da covid-19.
Os dados foram consolidados com base em consulta aos 18 regionais da CNBB, que abarcam 278 circunscrições religiosas do país (dioceses e arquidioceses). Os números, contudo, podem ser maiores, uma vez que o levantamento focou apenas nos padres diocesanos. No levantamento, não consta os padres ligados às congregações religiosas.
O regional Sul 1 da CNBB, que compreende o Estado de São Paulo, com 45 circunscrições religiosas, registrou o maior número de padres, 72, infectados pelo novo coronavírus, mas com apenas 1 morte. O regional Norte 2 da CNBB, que compreende os estado do Pará e Amapá, registra o maior número de mortes, ao todo 6, em decorrência da doença.
Nove bispos foram infectados e dois deles morreram: dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares (PE) e dom Aldo Pagotto, bispo emérito da Paraíba. Em Minas, não houve ocorrência entre esse grupo de religiosos.
– Acredito que tenha sido o primeiro caso na nossa arquidiocese. As igrejas estão fechadas, no nosso caso até para restauração, mas a missão continua aberta – diz o reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua – Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, padre Marcelo da Silva. Ele foi contaminado em abril e, felizmente, não passou pelo calvário da internação: permaneceu assintomático. “Posso ter sido contaminado numa visita aos hospitais, no atendimento aos pobres, aqui na porta da igreja ou em outro contato pastoral”, diz o reitor, lembrando que sua congregação, a dos sacramentinos, perdeu nove padres no mundo. “Nós, padres, temos que ser corajosos. Mas a pior sensação para quem testou positivo é de que possa contaminar alguém. E nós moramos em comunidade”, afirma.
A região da Grande Amazônia, com os Estados do Norte e parte do Centro-Oeste, é a mais afetada pelo novo coronavírus, segundo o padre José Adelson da Silva Rodrigues, presidente da Comissão Nacional de Presbíteros e em atuação na Arquidiocese de Natal. Ele afirma que mesmo com as igrejas fechadas neste período de pandemia os padres têm celebrado missas com transmissão pelas redes sociais e outros meios de comunicação católico, tendo, então, contato com pessoas da equipe. Para o padre, são necessários “zelo e cuidado” para evitar a contaminação, pois enquanto há um descompasso nos Estados, entre autoridades federais, estaduais e municipais, é fundamental lembrar que “a vida vem em primeiro lugar”.