Nonato Guedes
João Pessoa, a Capital da Paraíba, terceira cidade mais antiga do país, que já foi Filipéia de Nossa Senhora das Neves, completa hoje 435 anos ostentando o charme de lugar aprazível e cativante e fazendo a simbiose perfeita entre o velho e o novo, ajustando o culto à tradição, ao patrimônio arquitetônico e cultural histórico, com a incorporação de valores modernos e com a absorção de transformações urbanísticas profundas inerentes à evolução, ao próprio desenvolvimento. Este parece ser o segredo do carisma da Capital que já foi considerada uma das mais verdes do planeta, aproximando-se, nessa dimensão, de Paris, a grande Meca da Marselhesa.
O teatro Pedra do Reino, que arrancou elogios de personalidades famosas no Brasil e no exterior, é um exemplo da convivência harmoniosa que a Capital paraibana materializa entre passado e presente. A referência para os mais antigos continua sendo o teatro Santa Roza, no Centro Histórico, mas o Pedra do Reino, que está plantado no entorno do Altiplano do Cabo Branco, é reconhecido como versão moderna exemplar no País. E não há exagero na comparação, ou seja, não se trata de bravata ufanista ou de mania imprópria de grandeza dos que habitam a outrora Frederica, mas de constatação do estágio de avanço que se alcançou na preservação dos monumentos artísticos e culturais.
A própria História da cidade, refletida em marcos indeléveis que se espraiam das margens do rio Sanhauá para as águas da praia do Seixas, passando por Tambaú, subsiste como o atrativo maior para os que aqui chegam e daqui saem falando maravilhas, irresistivelmente fascinados com tanta beleza e tanta riqueza natural. Claro que, em paralelo, existe a feiúra da desigualdade social que separa classes e legitima privilégios odiosos. Este, um problema estrutural, intrinsecamente associado a modelos econômicos e sociais perversos que de forma alternada são impostos em todas as regiões do Brasil e que de certa forma estão sendo ‘quebrados’ por intervenções de Cidadania, esta grande conquista de que se apropriaram movimentos insurgentes na própria sociedade, com a firme determinação de torná-la menos discriminatória.
Do passado histórico que plasmou a Capital da Paraíba há a evocação saudosista de ambientes como o Ponto de Cem Réis, que foi termômetro político, também Universidade e denominou revista encartada nos anos 90 no jornal “A União”, o único sobrevivente da imprensa escrita no Estado, que conserva a característica de órgão oficial representante do governo de plantão. Sobre “A União” louve-se o fato de continuar a ser a grande escola de jornalismo, exceção no universo dominado por sites, blogs, portais e redes sociais, para onde convergiram, inexoravelmente, as discussões e o exercício do contraditório, que viabiliza a práxis democrática. Pode-se alegar que um tradicional cartão postal, a Lagoa do Parque Solon de Lucena, cujo bucolismo sempre foi emoldurado por palmeiras imperiais, há muito tempo já não é a mesma e de lá desapareceram os bambus e a visão das alamedas.
Há um constante vai-e-vem de marcos históricos e não apenas em João Pessoa, onde, depois de um hiato foram reconstituídos o Paraíba Palace e o Hotel Globo. O que se verifica, na prática, é a execução daquilo a que nos referimos – a tal simbiose entre o ontem e o hoje. Indelével, mesmo, é a posição geográfica, que faz com que em João Pessoa esteja plantada a Ponta Seixas, extremo mais oriental das Américas. Há mais, como, por exemplo, os relatos fascinantes acerca das etapas da conquista deste território a partir de 1520 quando os franceses se instalaram em terras paraibanas, principalmente no litoral norte. A miscigenação ampliou-se com as tribos indígenas, dos tabajaras, potiguaras e afins. E tudo originou o caudal, sob as bênçãos de Nossa Senhora das Neves.
Os 435 anos de fundação da Capital paraibana coincidem com o surgimento da pandemia do novo coronavírus, que tem feito vítimas em todo o mundo e que mudou protocolos de convivência e afetou processos de desenvolvimento de incontáveis localidades, da China ao Vaticano. Uma outra coincidência é a realização, em plena pandemia, de eleições para prefeito, vice-prefeito e vereadores. Há uma miríade de candidatos em João Pessoa, que ofertam propostas apesar das rigorosas limitações impostas pelo isolamento social dentro das medidas de enfrentamento à Covid-19. Um ponto recorrente entre postulantes que se aventuram à disputa é a discussão sobre a “João Pessoa que temos” e “a João Pessoa que queremos”. Uma sinalização para repensar a trajetória da cidade até agora – e os passos que devem ser empreendidos de agora em diante.
Que pelo menos o debate político-eleitoral consiga ser pedagógico, no sentido de, realmente, evidenciar alternativas, apontar soluções diferentes para os desafios que estão postos na proporção da evolução que a Capital experimenta em sua própria História. E parabéns, João Pessoa! Com todas as alvíssaras e evoés que a Capital indiscutivelmente merece. Tenho orgulho de ser “Cidadão Pessoense” por propositura da vereadora Sandra Marrocos (PT). Sinto-me plenamente em casa em João Pessoa.