Nonato Guedes
No dia quatro de abril deste ano, um sábado, o jornal “Correio da Paraíba” circulou com sua última edição impressa. O jornal confundia-se com a história da Capital e do próprio Estado. Foi fundado no dia cinco de agosto de 1953, como empreendimento visionário da lavra do político e empresário Teotônio Neto, ex-deputado federal, ainda vivo, radicado no Rio de Janeiro. Pereceu nas mãos do diretor-geral José Fernandes, do superintendente Alexandre Jubert e da diretora-executiva Beatriz Ribeiro, tendo como editora geral a jornalista Sony Lacerda. O empresário e ex-senador pernambucano Roberto Cavalcanti, que assumira o controle do “Correio” e atuou para que ele exercesse a liderança do mercado jornalístico paraibano,lembrou na mensagem de despedida a história de lutas, conquistas, resistência “e muitas vitórias” do jornal, cujo desaparecimento causou profunda lacuna no segmento de comunicação local.
Apesar de ser de domínio público a crise que o jornal vinha enfrentando, agravada pela pandemia do novo coronavírus, o empresário Roberto Cavalcanti resistiu o quanto pôde a conselhos para fechar o jornal, que há 66 anos fazia festa juntamente com a Capital da Paraíba nesta data. Ele chegou a fazer declarações apregoando a sobrevivência do jornalismo impresso e citando como exemplo diários de prestígio mundial como The New York Times, nos Estados Unidos. Com o fechamento do “Correio”, a Paraíba conta com um único jornal impresso – “A União”, o mais antigo, que é órgão oficial do governo do Estado e tem uma história de contribuição relevante à cultura, arte e história no Nordeste brasileiro. “A União” é dirigido hoje por uma empresa estatal de comunicação criada pelo governo João Azevêdo, que se instalou em janeiro de 2019.
Em editorial de primeira página na edição de 4 de abril deste ano, o “Correio da Paraíba” lembrou as campanhas que liderou em prol de causas em defesa da Paraíba, dentre elas o combate sistemático e efetivo à corrupção, informando ter pago um preço imensurável com o sacrifício do seu diretor Paulo Brandão Cavalcanti, assassinado em 1984, “que, morto, tornou-se mártir dessa causa”. O slogan do jornal apontava a sua linha editorial pautada pela ética e pela paixão. E o “Correio” manteve-se líder inconteste, com sua circulação diária aferida pelo IVC por décadas seguidas. “Nos últimos anos, resistiu como o único jornal diário privado em circulação no nosso Estado, porém, o estado de calamidade que assola o mundo e o nosso país inviabilizou o funcionamento do jornal Correio”, na justificativa dos seus dirigentes, que agradeceram o carinho e o reconhecimento de toda a população paraibana.