Nonato Guedes
Causa polêmica nos meios políticos a estratégia de aliados do governador João Azevêdo, que são expoentes do Cidadania, de oferecer apoio a candidatos de outros partidos a prefeito nas eleições municipais de novembro próximo em redutos como João Pessoa e Campina Grande com a condição de pré-compromisso de apoio à reeleição de João em 2002. No pacote espalhado pela mesa está, também, a garantia de governabilidade a Azevêdo na Assembleia Legislativa, com apoio de deputados a matérias de interesse do Executivo. O que se diz é que é muita gulodice da parte de um esquema político, como o de Azevêdo, que só recentemente passou a se formar no Estado e que ainda viverá um grande teste eleitoral este ano, sendo, por enquanto, uma incógnita em termos de densidade.
O complicador maior parece ser, mesmo, a pactuação da aliança em 2020 com desdobramento para 2022, quando estará em jogo disputa mais proeminente no campo majoritário estadual. O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), por exemplo, deu a entender que partidários de Azevêdo teriam admitido apoio à sua pré-candidata à sucessão na Capital, Edilma Freire, mas em troca insinuam contrapartida daqui a dois anos. Ora, o PV de Luciano tem nele próprio uma alternativa para disputar o governo do Estado, feito que seu irmão gêmeo Lucélio tentou em 2018 sem lograr êxito. Claro que há outras opções para Luciano mais na frente, como deputação federal e senatoria. No radar do “clã” familiar entronizado na prefeitura de João Pessoa é, porém, o Palácio da Redenção que é cortejado.
Se o esquema de Azevêdo optar por fazer aliança com o Partido Progressistas em João Pessoa, apoiando a candidatura de Cícero Lucena a prefeito em 2020, corre o risco de contribuir para fortalecer o cacife da senadora Daniella Ribeiro, que, segundo tem sido propalado, é a grande aposta do PP para marcar presença na sucessão estadual. O leque de protagonistas para 2022 deverá ser completado com a entrada do atual prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD, que ambiciona o governo estadual com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, colado com a empreitada deste para tentar se reeleger ao Palácio do Planalto. Romero está se credenciando a ocupar um espaço que antes era cativo do ex-senador Cássio Cunha Lima, cujo futuro político é, em 2020, um ponto de interrogação para os seus próprios aliados mais ortodoxos.
Os movimentos políticos do governador João Azevêdo estão sendo acompanhados com especial interesse por demais atores do cenário paraibano pelo potencial que podem vir a ter com vistas a desequilibrar a correlação de forças em 2022. Inicialmente a estratégia perseguida pelo atual gestor parecia mirar, de preferência, o aniquilamento do que resta do esquema liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que foi seu aliado e grande cabo eleitoral na campanha de 2018, decidida no primeiro turno. Essa tática continua a ser buscada e apenas inocentes úteis ainda apostam fichas numa recomposição entre as hostes de Ricardo, que está decaído, e as de Azevêdo, que detém o poder da caneta e o controle aparente da máquina administrativa estadual. Mas os aliados do governador avançaram no raciocínio tático, que contempla demais personagens da conjuntura. A meta é anabolizar o esquema próprio do atual chefe do Executivo, inserindo-o de uma vez por todas no rol das lideranças influentes no panorama local.
É evidente que os emissários ou interlocutores do governador, mesmo operando nas várias frentes que o cenário propicia, terão que demonstrar realismo e profissionalismo na condução de tratativas para não passarem recibo de inabilidade no jogo com variantes traiçoeiras. As alianças municipais, por exemplo, necessariamente não se estendem ao quadro estadual, salvo em casos peculiares onde a soma de interesses tudo favorece. Vai ser preciso, todavia, ter um olhar diferenciado para perspectivas diferentes que possam se abrir no horizonte, ditadas por injunções e fatores excepcionais. Toma-se como parâmetro o caso do MDB. Em Guarabira, o Cidadania indicará o vice de Roberto Paulino, candidato emedebista. De quebra, o deputado estadual Raniery Paulino deixa de fazer oposição ao governo na Assembleia Legislativa. O parlamentar, aliás, já entregou a liderança do bloco de oposição que exercia, utilizando como justificativa exatamente o cenário de apoio pelo governador à candidatura do seu pai na cidade do Brejo.
Mas, até onde a vista alcança, não há interesse maior do “Cidadania” em apoiar o candidato do MDB a prefeito de João Pessoa, o radialista Nilvan Ferreira, espécie de franco-atirador na eleição da Capital, já que faz oposição declarada a Ricardo Coutinho, ao prefeito Luciano Cartaxo e não se coloca à sombra do esquema liderado pelo atual chefe do Executivo. Haverá casos de situações reversíveis, dependendo do desenho que as eleições forem tomando. Isto exigirá perícia, demandará mesmo habilidades especiais por parte de Azevêdo e seus agentes. E é para a performance deles que se volta boa parte das atenções dos meios políticos, focados simultaneamente nas eleições de 2020 e 2022.