Nonato Guedes
As restrições e insatisfações decorrentes da escolha do nome da ex-secretária de Educação Edilma Freire como pré-candidata do Partido Verde à sucessão em João Pessoa, que será travada no pleito de novembro, não surtiram qualquer efeito junto ao prefeito Luciano Cartaxo no sentido de sensibilizá-lo a rever o aval que a ela emprestou, tanto como presidente estadual da agremiação como na condição de atual gestor e, portanto, condutor legítimo do processo eleitoral no seu agrupamento. O alcaide até que se abriu para conversações com outros pré-candidatos, oriundos de outros partidos, sem que isto significasse prenúncio de concessão para a retirada do nome de Edilma.
O que ele tem deixado claro é que se considera receptivo a tratativas para aceitação de nomes de pretendentes a vice na chapa encabeçada pelo PV. Mas nunca cogitou nem cogita retirar o nome que está posto e que foi tornado público numa transmissão via redes sociais em que o prefeito Luciano Cartaxo qualificou sua candidata “in pectoris” como o nome mais talhado para dar continuidade ao modelo de gestão que tem implementado ao longo de quase oito anos, abrangendo dois mandatos consecutivos e, ao mesmo tempo, como expoente de uma “revolução silenciosa” na Educação, segmento por ele avaliado como estratégico mesmo quando comparado com a prioridade que a Saúde passou a ter no bojo da pandemia do novo coronavírus.
Diz-se que além de laços familiares envolvendo a pré-candidata e o mentor da candidatura há sentimentos de gratidão por parte de Luciano pela lealdade demonstrada por Edilma Freire. Os elos afetivos sedimentaram, igualmente, em Cartaxo, a convicção de que Edilma é competente para levar à frente o projeto administrativo que, na sua opinião, “está dando certo”, a ele incorporando inovações que se fizerem necessárias ou oportunas, dentro do estágio natural de evolução do planejamento administrativo, com sua adaptação a demandas inovadoras, suscitadas por transformações operadas no âmbito da própria sociedade e inerentes ao “fazer administrativo”. Os interlocutores bem próximos do alcaide da Capital coincidem na avaliação de que o juízo de mérito sobre a candidatura da ex-secretária de Educação está definitivamente arraigado no pensamento de Luciano. A opção pela candidatura de Edilma é, portanto, irreversível, dentro das condições de temperatura e pressão aventadas para o processo em andamento.
A condução do jogo sucessório na Capital, no esquema do prefeito Luciano Cartaxo, constituiu, de forma inequívoca, um parto laborioso, tanto em razão da demora na sinalização ou no anúncio quanto pela intransigência do gestor, que desdenhou das insatisfações residuais detonadas em seu próprio esquema por ocasião do desfecho da estratégia política adotada. Ex-secretários como Diego Tavares e Socorro Gadelha sentiram-se praticamente “usados” por Luciano no script de um projeto personalista que gerou a impressão de jogo de cartas marcadas. Os dois, afinal, filiaram-se ao Partido Verde na expectativa de fazerem jus à preferência do prefeito, já que ele foi enfático, desde o início, em pontuar que a candidatura sairia das fileiras da legenda que dirige e na qual ingressou após militância no PSD e, originalmente, nas hostes do PT, por este se elegendo na primeira disputa à prefeitura, em 2012.
A expectativa alimentada por Cartaxo, e propagada em declarações à mídia, era a de que todos os que estavam participando do projeto administrativo e político comandado por ele acatassem sua liderança sem contestação, fazendo coro ao seu argumento de que o mais importante é “o projeto” que estaria “mudando a cara de João Pessoa”. Há quem enxergue nessa postura um certo método impositivo, antidemocrático. Aliados de Cartaxo que se colocaram com pretensões à indicação de candidatura aguardavam um debate mais amplo, com liberdade para exposição de ideias e até para ensaio de propostas alternativas dentro da filosofia do projeto administrativo que continua a ser tocado. Não foi o que sucedeu, todavia. A impressão que restou foi a de imposição goela abaixo de todos do nome de Edilma, ficando aparentemente implícita a necessidade de adesão automática à pré-candidatura.
Ainda agora, Luciano Cartaxo, mais do que cooptar, busca engajar de maneira efetiva vereadores da sua base de sustentação na Câmara Municipal de João Pessoa ao projeto de eleição da ex-secretária Edilma Freire, acenando, como contrapartida, com o seu próprio empenho para viabilizar a reeleição dos atuais cinco vereadores do PV e tentar eleger dois candidatos da safra inscrita para as eleições deste ano, reforçando a base de que a “ungida” carecerá na hipótese de vencer a eleição e ocupar a cadeira de Luciano no Centro Administrativo. Comenta-se, em rodas políticas, que é incomum e excessiva a confiança que um prefeito deposita na sua capacidade de transferir votos para a candidata que escolheu. Em que prognósticos Cartaxo se baseia para exibir tamanha segurança sobre o desfecho da eleição atípica deste ano? Ninguém sabe. Mas que ele está obstinado, isto é fora de qualquer dúvida.