“Chão de Estrelas, Céu de Giz”. Com esse título, a Fundação Casa de José Américo (FCJA) iniciou, ontem, um projeto que levará personalidades paraibanas ao palco virtual da instituição durante todo o mês de setembro. O primeiro nome destacado foi o do renomado economista Celso Furtado, fundador e ex-superintendente da Sudene, cujo centenário de nascimento é celebrado este ano. A sua obra foi discutida pelos palestrantes Cidoval Morais, sociólogo, e Martinho Campos, economista, mediados pela professora e economista Zélia Almeida. Com a apresentação de Fernando Moura, presidente da FCJA, a live contou com a participação da jornalista e escritora Rosa Freire d’Aguiar Furtado, viúva do homenageado, e aconteceu no canal oficial da fundação no YouTube.
Rosa Furtado falou sobre o seu trabalho para resguardar o legado de Celso Furtado, que faleceu em 2004. Nesses 16 anos, ela se dedicou a recuperar as suas principais obras, lançar edições definitivas e organizar o vasto material deixado por Celso, como os artigos, manuscritos e entrevistas, entre outros, que resultaram na ”Coleção Arquivos de Celso Furtado” e o livro “Diários Intermitentes”, reunindo anotações deixadas pelo economista ao longo de seis decênios e meio de sua vida, entre 1937 e 2002. “A obra autobiográfica e os diários de Celso falam muito sobre sua relação com o Nordeste e com a Paraíba”, enfatizou Rosa Freire. Logo depois da explanação dela, Cidoval Morais desenvolveu o tema “Celso Furtado: um peregrino da esperança”. Segundo ele, Furtado tinha um projeto de nação. “Ele visitava o Nordeste por estradas esburacadas, abrindo cancelas. Simbolicamente, isso tem um sentido muito forte. Ele abria portas para pensar o desenvolvimento regional, e era a partir da região que ele pensava a Nação”, disse. “O objetivo da economia, na visão de Celso, deveria ser a integração nacional. Num chamado que ele fez na década de 1990, ele ressaltou que, aos intelectuais, cabia aprofundar a percepção social e projetar luz sobre os crimes cometidos pelos que abusam do poder”.
Já a apresentação feita pelo economista Martinho Campos teve por título “Perspectivas da economia pós-pandêmica à luz da visão de Celso Furtado”. Na intervenção feita, Martinho lembrou que Celso nasceu dois anos depois de uma pandemia e hoje o seu centenário é celebrado em meio a outra pandemia, a do novo coronavírus. Para Campos, é preciso homenagear Celso Furtado de maneira positiva e histórica, mas também buscando pôr em prática o trabalho dele, que defendia o aumento da participação e do poder popular nos centros de decisão do país como um caminho para enfrentar momentos como os que são vividos hoje. “O Brasil está perdendo a soberania em nome de interesses externos. É exatamente o contrário do que pensava Celso, para quem o desenvolvimento é positivo somente quando toda a população se beneficia”, adiantou.
Para a economista Zélia Almeida, a mediação do debate foi uma honra. “Celso Furtado era um verdadeiro mestre, com uma ampla leitura do mundo. Ele pesquisava com profundidade. Ao estudar a obra de Celso, temos contato com uma biografia muito densa”, salientou. Zélia Almeida é responsável pela criação do Prêmio Paraíba Celso Furtado e da Medalha de Mérito Celso Furtado pelo Conselho Regional de Economia (Corecon). Nas suas palavras, Celso era, ainda, um visionário. “Em meados do século passado ele já falava sobre a questão ambiental. Dizia que concentração de renda e riqueza, aliada ao desperdício, é a receita da catástrofe. É o que vemos hoje”.